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23 mai, 2019 Aquela máquina!

Amor e sexo no ano 2069.

Máxima observou o marido sentado no sofá da sua sala, incapaz de evitar a mesma sensação de sempre: o sentimento asfixiante de que não conhecia aquele homem!

Aquela máquina!

Estavam juntos havia quase 3 anos, mas ainda não se libertara dessa primeira impressão. Muitas vezes, consciente da proximidade que os separava, forçava-se a olhá-lo como agora. O resultado era invariavelmente o mesmo: como agora, parecia-lhe sempre que não o conseguia ver. Ou por outra, via o invólucro do seu corpo, mas não era capaz de ver ninguém dentro dele…

Desde que o governo decretara a “rotatividade conjugal”, tinha-o em casa dois dias a cada quinze. Ele chegava a meio da tarde com o seu ar de cansaço crónico e começava a instalar-se com a indiferença de uma rotina muitas vezes repetida. Pendurava uma muda de roupa no guarda-fato e metia outra, usada, na máquina de lavar. Depois fechava-se no quarto de banho, entregue às abluções de uma higiene rigorosa, e só quando saía se reuniam pela primeira vez, na refeição da noite.

O processador de alimentos fornecia-lhes tudo o que precisavam, um menu repleto de ingredientes energéticos especialmente concebido para potenciar a performance. Depois cumpriam três horas de digestão em silêncio, diante da box televisiva, após o que iniciavam a sessão propriamente dita.

Os procedimentos eram executados com a precisão dos antigos relógios suíços: despiam-se ambos; ele ficava de pé; ela deitava-se na beira da cama ou do sofá e abria as pernas; e ele penetrava-a.

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Fodiam durante um mínimo de 7 e um máximo de 25 minutos, medida estipulada pelos Técnicos como ideal para a satisfação sexual recíproca. Não lhes era permitido ultrapassar esse tempo, de forma preservar os preciosos recursos masculinos. Porque, como todos os homens entre os 20 e os 45 anos, com a saúde devidamente regularizada, ele tinha o contrato legal de satisfazer 7 esposas. E eventuais falhas eram severamente punidas…

Aquele regime obrigava-o a 14 penetrações em 14 dias consecutivos, culminando todas com uma descarga de espermatozóides cada vez mais resistentes à saída e cada vez menos propensos à viagem… Era, pois, fundamental poupar energias, bem como as reservas da sua “essência”.

Só ao fim de cada um destes ciclos os maridos tinham direito a um dia de descanso. Depois disso, mantendo a mesma ordem rotativa, iniciavam um novo ciclo. Não era para qualquer um e poucos aguentavam muito tempo naquela “actividade”. Considerados de utilidade pública, os “maridos profissionais” tinham estatuto social e eram regiamente remunerados, mas sabia-se que era uma carreira sem futuro ou, no mínimo, de restrita longevidade. Quando não era o físico, era a depressão que os consumia…

Para a mulher, este estado de coisas supunha 4 visitas conjugais por mês. Era pouco, manifestamente pouco para qualquer mulher na flor da idade e com uma líbido saudável.

 Máxima gostava de o sentir entrar. Era duro e longo e trazia-lhe à memória nostalgias lúbricas doutros tempos, doutra vida... Mas pouco mais tirava da “relação” que esse primeiro momento, em que a volúpia da mente lhe enganava o corpo. No início do “casamento”, quando as coisas ainda não lhe pareciam tão perdidas, tentou apimentar as sessões, fugir um bocadinho das regras… Gestos simples, que não constavam do manual emitido pelo Ministério do Prazer, como não se despirem na totalidade ou experimentarem uma posição diferente. Ele protestava vagamente e aderia aos seus pedidos – podia contar-se com a sua falta de energia para basicamente tudo. Mas o “comportamento”, que era o principal, não mudava e o prazer de Máxima morria rapidamente no ritmo dos gestos mecânicos, desapaixonados, com que ele a perfurava. Não havia toques, não havia beijos, não havia vozes sussurrantes colando ao tapete dos gemidos a expressão terna ou animal dos devaneios.

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A paixão – e muito menos o amor –, não era para ali chamada. Aquilo era uma coisa técnica, com um propósito específico: manter os níveis de satisfação hormonal estáveis de forma a proporcionar equilíbrio mental às mulheres, agora tornadas peças vitais na engrenagem sociopolítica dos países.

Depois da Praga, o rácio de mulheres para homens era de 11 para 1. Assim, eram elas quem garantiam agora os cargos de chefia dos governos, das instituições e do tecido empresarial. Aos homens não elegíveis para o Serviço Sexual Obrigatório, eram atribuídos os trabalhos pesados que as máquinas não faziam. Os outros, em idade saudável e vigor confirmado, mantinham até poderem essa profissão nobre de macho fornicador, ao serviço delas…

Contudo, como tantas ideias creditadas aos técnicos nos seus gabinetes, o conceito perdia força no terreno. Não podia falar pelos outros casais, mas era assim com Máxima. Não só a satisfação que recebia estava longe de a realizar como mulher, como toda a relação com aquele marido intermitente lhe provocava várias dimensões de angústia. Angustiava-a quando ele não estava e os dias eram intermináveis jornadas solitárias…

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Angustiava-a o dia antes de ele chegar, antecipando a coexistência pontual com aquele estranho, não por comum afecto mas por atribuição institucional.

Angustiava-a quando ele estava, aquela presença que entrava muda e saía calada do seu calendário, pintando os dias de cinzento enquanto pasmava em trânsito da sala para a cozinha, da cozinha para o quarto, do quarto para a casa de banho, alheio às pulsações da vida, vivo aparentemente por mera questão de hábito.

E angustiava-a quando ele abalava e de novo a solidão voltava a carregar sobre ela, deixando-a sem sequer a memória duma palavra ou de um carinho que se tivessem permitido, talvez numa das raras vezes em que o sexo lhes fizesse sentir alguma coisa… Mas não, nada ficava, porque nada fora partilhado ou sentido.

A segunda noite era igual à primeira: passavam o dia ressentidos com a intrusão do outro; tomavam a refeição da noite; cumpriam o estágio da digestão; despiam-se, ele de pé e ela deitada na beira da cama; ela abria as pernas; e ele fodia-a como se ela fosse uma existência remota com um buraco no meio…

Ele vinha-se sempre – fazia parte do “contrato”. Mas Máxima nunca se viera com ele ou sequer estivera perto. Mesmo na sua vida anterior, precisara sempre de se “envolver” com o homem para ser capaz de atingir o orgasmo. E nem assim, muitas vezes, lá chegava.

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Muito menos ali, sem qualquer tipo de envolvimento, sem qualquer troca de calor que indiciasse tratar-se de uma relação humana. Ser humano não era para ali chamado...

Aliviada, viu desde a janela o marido afastar-se da casa, cumprida mais uma “quinzena”. Como de costume, o relatório seguira automaticamente, via online, para o Tribunal da Relação e outras instituições de “interesse”. Mais um para juntar a tantos outros no cabaz dos episódios sem história… E assim mesmo parecia ele arrastar-se, como um homem sem história, sem peso, em direcção ao “expresso conjugal” que o conduziria à tarefa seguinte, a próxima esposa… No seu passo lento, com uma muda de roupa em cada mão, a suja e a lavada, assemelhava-se ao porta-estandarte de uma lavandaria a caminho da centrifugação final.

Máxima fechou a janela e sentou-se no sofá. Olhou para o relógio e sorriu.

A encomenda chegou à hora prevista. Um autómato da ManEx deixou a enorme caixa no meio da sala. Na primeira hora, Máxima não lhe tocou, deixou-a ficar ali para poder observá-la de vez em quando, a antever o prazer do momento em que a abriria. A segunda hora dedicou-a a folhear o manual de instruções. Só a meio da manhã decidiu, enfim, deitar mãos à obra. Rasgou o papel que envolvia a embalagem e em letras grandes surgiu a marca do produto: AutoMan – Mod 7D 2069.

As peças vinham separadas, mas a montagem era bastante intuitiva. Pouco a pouco, foi-as juntando facilmente conforme as ilustrações. Quando as partes se uniam, a skeendex (pele cibernética) distendia e cobria por completo a marca dos encaixes… Era de um rigor impressionante. E em pouco mais de 20 minutos tinha à sua frente o que qualquer pessoa mais distraída confundiria com um homem de uns 25 anos, alto e atlético, muito atraente e… sem sexo.

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Sim, faltava “o mais importante”... Máxima tinha adquirido a versão Premium, o que significava que o seu robot sexual vinha equipado com diferentes periféricos, entre os quais uma completa variedade de caralhos, de vários tamanhos e feitios e de simples conexão. Bastava-lhe escolher o que queria em função do “apetite” do momento e aplicá-lo entre as pernas do “boneco”. Pensaria nisso mais à frente…

Para já, queria explorar as definições. Pegou na consola e começou a marcar as opções que lhe interessavam: Cor do Cabelo: preto; Cor dos Olhos: castanho escuro; Nariz Vibratório: (não sabia o que era mas calculou…) sim; Língua: comprida; Idioma: português; Frequência da Voz: grave.

Confirmou todas as alterações e avançou para os settings operacionais. Havia três variáveis: GentleMan, HandyMan e PartyMan.  

Tinha lido sobre o assunto no manual. A primeira era a versão protocolar ou, mais simplesmente, um robot de companhia. Era ideal para levar a festas ou cerimónias. Sabia praticamente todos os idiomas conhecidos e tinha uma cultura geral muito acima da média. Com a mesma facilidade dissertava em chinês sobre física nuclear como debatia em bom português as melhores práticas da apanha de percebes na Costa Vicentina... A segunda tornava-o basicamente um robot doméstico, que respondia a comandos práticos. Podia contar-se com ele para limpar a casa, cozinhar um jantar artesanal, ir à rua fazer recados ou encarregá-lo das actualizações do software do apartamento, o que fazia conectando-se em rede ao servidor do condomínio.

Máxima quis testar esta funcionalidade e mandou-o ir buscar um copo de água. Depois de fazer um rápido scan do espaço envolvente, a máquina dirigiu-se à cozinha, colocou um copo no dispensador H20 e voltou à sala:

– A sua água, minha senhora.

Aquilo soou-lhe logo mal, sentiu-se velha… Voltou à consola e entrou na categoria Conversação > Graduação da conversa… Experimentou a opção “média” e clicou no botão de teste. Ouviu de novo a voz grave do seu “novo amigo”, agora em tom mais casual:

– A tua água, linda.

Pareceu-lhe bastante melhor e bebeu a água com uma sede renovada. Tentou depois um novo comando, para ver como ele respondia a “ordens cruzadas”. Era um teste aconselhado no manual para avaliar eventuais falhas na integridade do sistema:

– Fode-me até eu me vir!

A máquina pareceu hesitar, se isso é possível dentro da linguagem-máquina. Máxima podia ouvir os seus processadores acelerar em busca duma resposta. Dera-lhe propositadamente um comando fora do âmbito do HandyMan mode, para ver como ele reagia. Esperava a todo o instante ouvir o clássico “Does not compute” e ficou quase desiludida ao ouvi-lo pronunciar uma afirmação bem mais prosaica:

– Não consigo satisfazer o teu pedido, linda. Há mais qualquer coisa que possa fazer por ti?

Mas a resposta confirmava que estava a funcionar como era suposto. Alterou a variável operacional para PartyMan e os settings de Conversação para “mínima”, e clicou em “teste”.

– Bom dia, minha senhora. Deseja que a penetre no ânus?

Máxima desatou às gargalhadas, mas pela primeira vez em muito tempo sentiu algo parecido a uma tesão. Mudou para a graduação de Conversação “máxima”:

– Puta do caralho, queres que te rebente esse cu todo, minha vaca?

Um arrepio de medo percorreu-lhe a espinha, porque era um tom verdadeiramente agressivo. Ainda assim, sentiu a tesão aumentar

Testou a opção “média”, que tanto apreciara na versão HandyMan:

– Olá princesa, queres que te coma o rabinho?

Era definitivamente aquilo. A voz era amável e carinhosa, mas não desprovida de ousadia. Excitava-a, que era o que mais interessava.

– Mais tarde, sim, vou querer que me comas em todos os buracos. Mas para já quero que me lambas a cona.

Sem hesitações desta vez, o robot pôs-se de joelhos à frente dela e, com mãos experientes, tirou-lhe as cuecas por debaixo da saia. Meteu a cabeça entre as suas pernas e começou a lamber-lhe os lábios da vagina, ao mesmo tempo que comprimia o nariz contra o seu clitóris.

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Máxima quase deu um salto quando sentiu aquela ponta arredondada vibrar sobre o grelo, que se entesou imediatamente! Soltou logo um gemido, o que há muito tempo não lhe acontecia.

O AutoMan era um mestre do minete, o que não era de estranhar: fora programado para isso. Provavelmente programado por uma mulher, pensou Máxima, pois parecia saber exactamente onde, como e com que ritmo e intensidade tocar.

Se bem se lembrava, mesmo os mais destros dos homens demoravam o seu bocado a atinar na melhor forma de a abordar, sendo que a maioria acabava mais vezes a irritar-lhe a pele do que a dar-lhe algum tipo de prazer.

O que sentia agora era todo o contrário duma irritação. Pulsava de gozo, a cona irrigava-se-lhe de líquidos e só desejava que aquele momento nunca terminasse!

– Mete-me um dedo na cona!

O AutoMan meteu um dedo e iniciou um efectivo movimento de vai-e-vem dentro dela. Quando os seus sensores digitais detectaram um aumento das secreções vaginais, adornado com o crescendo dos seus gemidos, introduziu sem ela lho pedir um segundo dedo… Desde a implementação da inteligência artificial, que os fazia aprender exponencialmente com a experiência adquirida, estes robots eram dotados de um maravilhoso espírito de iniciativa.

– Olha que esperto que tu és! – constatou Máxima, verdadeiramente impressionada.

– Tudo para te servir, linda.

A lisonja também fazia parte do programa e Máxima absorvia a delicadeza das palavras dele, que tanta falta lhe faziam, como um bálsamo que a rejuvenescia.

– O que achas que quero a seguir? – desafiou ela.

A máquina não se fez rogada:

– Um dedo no cu, minha rainha?

– Leste-me os pensamentos, meu querido.

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Dito e feito. E às maravilhosas sensações da língua dele na sua racha molhada e do nariz vibratório no seu clitóris, Máxima juntou a deliciosa impressão que aquele dígito firme e espesso deixava ao abrir caminho pelo seu cu. Rapidamente percebeu que era um dedo extensível, pois sentia-o penetrá-la até muito fundo e recolher-se logo a seguir.

– Que maravilhosa é a tecnologia! – pensou, sem perceber que o dizia em voz alta.

Como um marionetista experiente, a máquina iniciou então uma sequência de movimentos em alternância dos dedos dentro da cona e do cu, um vai daqui e vem dali, que a apanhou completamente de surpresa. Abandonada inteiramente àquelas mãos, sem conseguir controlar-se de que maneira fosse, explodiu num violento orgasmo…!

Há anos que não se vinha assim e o seu corpo entrou numa espécie de transe em que todos os membros pareciam vibrar em espasmos independentes...

Inteligente, o AutoMan deixou-a expulsar todas as faíscas do orgasmo e, no momento imediatamente anterior ao da entrega do corpo ao repouso, sem lhe voltar a tocar no clitóris, ainda demasiado sensível, voltou a introduzir-lhe os dois dedos na cona, com as pontinhas a incidirem sobre as escamas nervosas do ponto G. Assim metido, iniciou um novo movimento de vai-e-vem, com uma velocidade também ela próxima da força G, e em segundos Máxima explodiu num segundo orgasmo, completamente diferente do primeiro, menos intenso no embate mas mais arrastado no tempo… Esteve à volta de cinco minutos com o corpo aos soluços e os olhos revirados, absolutamente dominada por aquelas sensações que escapavam ao seu controle e a faziam sentir-se imensamente feliz!

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Depois de descansar um bocado, Máxima pôs-se de pé e abraçou o seu amante.

– Toca-me!

O robot abraçou-a e as suas mãos começaram a percorrer-lhe o corpo todo, enviando para a base de dados todo o tipo de informação útil sobre as respostas de Máxima às suas carícias. Para a próxima, já saberia exactamente onde e como tocar-lhe para aumentar a excitação do contacto.

Ela também o apalpava todo, sentindo a sua pele macia e os seus músculos jovens e rijos. Era tão atlético e realista que chegava a libertar pequenas gotículas de suor, que comunicavam um cheiro agradável, a homem sexualmente activo.

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Foi quando quis apalpar-lhe o pau que se lembrou que ainda não lhe tinha colocado o aplique peniano... Pegou na mão dele e foram juntos à caixa desembrulhar periféricos. Máxima não conseguiu evitar uma exclamação de espanto ao observar o verdadeiro arsenal que se disponibilizava à sua frente: caralhos de todo o tipo e dimensão, desde o barrote tipo “cavalo” ao agulha tipo “porco”. Mas um destacava-se imediatamente dos outros: o caralho de duas faces, ou talvez, a face de dois caralhos. Era um aplique com dois pénis, colocados um acima do outro, especificamente concebido para a dupla penetração do ânus e da vagina.

– Põe este e começa a masturbar-te. Vou só refrescar-me e já venho.

Máxima deixou o robot a enroscar caralhos e foi ao quarto passar creme no cu. Com as mãos besuntadas, deixou inadvertidamente cair a bisnaga do lubrificante para o chão, e dobrou-se para o apanhar. Já não se levantou. Sem qualquer tipo de aviso, o robot atacou-a por trás, acoplando-se de tal forma que ela não se conseguia mexer.

– O que é que estás a fazer? Pára já com isso!!

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Mas o robot não parou. A explicação só veio a sabê-la depois, quando leu as letras pequenas do manual. No questionário de compra, na área de Preferências, Máxima tinha designado, sem desenvolver muito, o fetiche da violação. Essa informação tinha certamente sido introduzida no código na máquina, que vira naquela situação a oportunidade de executar essa tarefa. Não havia qualquer opção consignada no sentido de inverter essa ordem, porque tal redundaria numa ordem contraditória, o que era ilógico em termos matemáticos e poderia desencadear conflitos no software. Havia uma opção de “palavra segura”, mas Máxima não chegara a activá-la. De modo que, quando ela lhe disse que parasse, o AutoMan não processou essa ordem como um comando, mas como uma consequência residual do discurso, uma interjeição própria da mensagem amorosa. Dito de forma simplista, interpretou o “não” que quer dizer “sim”.

E assim se foi consumando a violação, com toda a violência explícita e implícita, insensível ao choro e lágrimas da vítima, até que, numa lógica mais irracional que a matemática que a condenara, Máxima começou a discernir sinais positivos no seu centro de prazer.

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Então deixou-se ir na violência em vez de lutar contra ela, e abandonou-se à dor até que ela se transformou em puro gozo.

Veio-se seis vezes, cada vez com mais força que a anterior, sem que ele se tirasse dela uma só vez. Martelou-lhe os dois buracos com ritmos e intensidades variadas, mas sempre com um registo de força associado.

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Até que, esgotada, não porque tivesse pensado nisso mas porque a naturalidade do momento a inspirou, pediu-lhe que ele a beijasse. Instintivamente, queria traduzir aquele excesso de força em excesso de paixão, converter a aspereza do momento em símbolos de gratificação física, transformar a força em entusiasmo… Queria sentir, por ilusória que fosse essa realidade, que sim, ele estava a violá-la sem dó nem piedade, mas que o fazia por amor, por puro e irreprimível amor!

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E então ele largou-a!! Máxima não pensara nisso… Tinha tentado travá-lo com uma ordem para parar. Nunca lhe ocorreu pará-lo dando-lhe uma ordem diferente!

Mal lhe pediu que a beijasse, o robot tirou os dois caralhos de dentro dela, virou-a para si e beijou-a apaixonadamente.

Ela observou então, pela primeira vez com os olhos, os dois volumes que tinha sentido violarem-lhe o cu e a cona. Afagou-os juntos, a roçarem um no outro, e viu-os reagir à sua carícia com a libertação de um líquido branco e espesso, tão realista que Máxima teve a tentação de o levar à boca para confirmar se não era mesmo esporra. Não era, mas enganaria qualquer mulher menos propensa às artes do broche…

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– Nunca mais me fazes isso, ouviste? – exigiu, então, Máxima, muito séria. – A não ser que eu te peça...

E ele enviou imediatamente esse comando para a base de dados, tornando-o uma normativa de valor prioritário. O que tinha acabado de acontecer nunca mais aconteceria. E assim, pouco a pouco, se foram formatando, programando e reprogramando um ao outro, até atingirem a harmonia possível entre uma mulher e uma máquina.

Por razões legais e institucionais, Máxima continuou a receber as visitas do marido. Todos os rituais se mantiveram, com a diferença que agora, quando ele a penetrava, ela pensava no seu querido AutoMan e às vezes até conseguia excitar-se por momentos.

Porque agora Máxima, a mulher do futuro, era como as boas mulheres do passado: suportar o marido era apenas uma necessidade que cumpria para poder desfrutar… do amante.

 

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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