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02 fevereiro, 2023 O crime da viúva Amaro - Parte 1

(Tragicomédia de costumes em dois actos episódicos e libidinosamente sugestivos)

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PARTE 1

Aos 62 anos, Joaquina Amaro, esposa do falecido João Gastão Amaro, professor de renome, autor e ensaísta publicado, perfeito desconhecido nos corredores literários, mas por todos conhecido na pequena aldeia onde sempre viveram, não se sentia viúva.

Também não se sentia solteira, nem disponível, nem interessada. Na realidade, e essa era a questão que agora lhe ocupava o espírito, não se sentia mulher. Pura e simplesmente não pensava nisso.

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Quando lembrava o marido, recordava o calor da sua companhia, a ternura, o carinho, a facilidade com que ele a fazia rir. O conforto e a paz conjugal. No programa das memórias, não incluía o jogo de lençóis que faziam suficientes vezes e onde, sem nada de muito espalhafatoso, tinham sabido ser felizes.

Só tarde, já na meia-idade, Joaquina tinha atingido o orgasmo. Mas fora ele, João Gastão, o seu marido e a sua insistência, quem a levara lá. E isso perdoava a boa dezena de anos em que tinham feito sexo sem que ela atingisse o estádio final do prazer.

Ele evoluíra para compreender que lhe devia isso, até por questões de elementar justiça, já que ele ejaculava sempre, e aprendeu, com muita tentativa e erro, como a levar até lá.

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Se não conseguiam mais vezes, era pelo facto de ela sentir muito pudor, mesmo apesar da grande intimidade que partilhavam. Vinha da educação de Joaquina o recato e, muitas vezes, privava-se ela mesma de se libertar totalmente. Ainda assim, ele conseguira mostrar-lhe o caminho e, agora que pensava nisso, sentia-se grata pelo esforço e persistência dele.

Quando João Gastão morreu, fariam agora 15 anos, o lado sexual de Joaquina foi arrumado junto de todos os outros vazios que ele lhe deixara. Custou-lhe muito, mas seguiu a vida prática logo no dia seguinte. Sentia muito todas as coisas, mas não era mulher de ficar a chorar aos cantos.

Mas hoje, vá lá saber-se porquê, acordara com saudades, fervilhante de nostalgias e, ainda em camisa de dormir, a manhã fria a começar lá fora, sentou-se na sala a folhear velhos álbuns de fotografias.

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Os seus olhos, que não eram olhos tristes, geralmente focavam os rostos, procuravam os olhares dos outros, daqueles que tinham passado pela sua vida. Particularmente, o marido, já que não tinham tido filhos. Adorava revisitar a expressão de pateta alegre de João Gastão, apesar da imensa cultura que tinha.

A maior façanha da sua inteligência fora, no entender dela, conseguir manter sempre essa inocência. Até ao fim, fez meninices e traquinices que a fizeram sorrir. Esse seu lado de eterna criança só a fizera amá-lo mais.

Mas hoje constatava, com alguma surpresa, que o seu olhar procurava outros focos, demorando-se mais nas fotografias em que o marido aparecia mais descontraído, menos circunspecto. E também menos vestido…

De repente, começou a sentir-se encalorada.

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Havia três fotografias na praia, duas das quais dela própria, com um fato de banho inteiro, porque não gostava de mostrar o umbigo. Já então se destacavam os peitos vastos, a cintura proeminente, que mal conseguia conter na toalete.

A outra era de João Gastão, apenas de tanga e tronco nu. Joaquina media-lhe os peitorais quase inexistentes, as pernas magras e meio arqueadas, e fixou-se no volume da tanga, mínima e justa, revelando subtilmente a forma secreta debaixo do tecido. Não era um campeão, mas não estava mal servido… Joaquina lembrou-se que, no fim dessa tarde, ao chegarem da praia, fizeram amor.

Nunca fora mulher de se aliviar. Se tanto, masturbara-se uma dúzia de vezes na vida, metade das quais na última semana antes de casar, e sem nunca ir até ao fim... Não porque não quisesse, mas porque não sabia o que havia no fim. Gostava, agradava-lhe, relaxava-a... mas fazia-a sentir-se, não diria suja, mas menos “imaculada”... Não tinha, portanto, esse hábito.

Mas hoje, ao concentrar-se na tanga justíssima de João Gastão, instantâneo inocente tão repentinamente sugestivo, sentiu calor entre as pernas e uma tensão vibratória a formigar-lhe no sexo, há tanto tempo adormecido. Ainda hesitou, mas depois questionou, “porque não?”, era tão raro sentir desejo, e tão rarefeito quando aparecia... Levou lá os dedos.

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Mudou-se para o sofá, para estar mais confortável, levantou a saia da camisa de dormir e introduziu os dedos pela lateral das cuecas. Só costumava tocar ali para se lavar. Desta vez, acusou o toque nos lábios quentes e depois no botãozinho em cima, e imediatamente verteu um pouco de líquido íntimo.

Abriu então a camisa de dormir e baixou as cuequinhas, apenas o suficiente para desembaraçar caminho, e acariciou-se delicadamente. Era agradável sentir o contacto fibroso, mas suave da sua pintelheira na palma da mão. Há muito que não dava uma significação erótica ao seu triângulo, abundante e fértil, pois a idade não a enfraquecera ali. Agora observava-o, observava-se, sentia-se, excitava-se…

Nunca, nem uma só vez, rapara a sua intimidade. Apenas a aparava para a conter no espaço consignado da roupa interior. Quando se despia à frente de alguém, do marido ou do médico, nunca se lhe via um pintelho nas virilhas. Mas depois, quando se descobria, explodia em tufo!

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João Gastão passara muitas horas a vê-la nua, babava a observar o seu triângulo negro, e nessas alturas, Joaquina não se sentia tímida, porque tinha essa protecção capilar a defender-lhe o desenho riscado do sexo. Sugeria mas não revelava, e isso era admissível no livro de regras do seu recato.

Lembrava-se bem disso agora. Ela deitada na cama, despida da cintura para baixo, ele sentado à sua frente, hipnotizado pela geometria concupiscente que ela lhe oferecia entre as pernas...

Entrelaçou os dedos naquela fartura, antes de os baixar até aos lábios rechonchudos, roliços, cada vez mais húmidos, da greta feminil.

No início fez tudo muito devagar, quase com descontracção, talvez por não saber ainda se queria continuar… Depois esqueceu-se disso e começou a esfregar com mais rapidez, logo com mais rispidez, até que começou a sentir um ardor, um tremor, um prazer de mulher que não sentia há mais de 15 anos!

Surpreendeu-se com o tempo que demorou a sentir o orgasmo chegar. Nunca fora rápida, ou fácil de levar. Agora aparecia-lhe assim, descarado, quase numa urgência… Joaquina sentiu-se até um pouco envergonhada e pensou abrandar, mas só pensou, não o chegou a fazer. Continuou a esfregar, cada vez com mais intensidade e, de repente… explodiu!

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Rebentaram-lhe as águas sensuais de tal maneira que teve que se levantar do sofá, tremendo toda, e deu com líquidos a espirrar de dentro dela, enquanto fazia um esforço monumental para não gritar. Levou mesmo uma mão à boca, enquanto agarrava com a outra, de mão cheia, o sexo incandescente, tentando assim sufocar os espirros que lhe encharcavam a palma da mão…

Quando se voltou a sentar, viu as pernas da mesa a escorrer e o tampo todo frisado de esguichos, incluindo as páginas abertas do álbum de fotografias, a tanguinha de João Gastão, também ela sugeria, mas não revelava, a escorrer agora como se ele tivesse acabado de sair do mar…

Mas não podia ainda ocupar-se com limpezas, continuava em fogo lá em baixo e só a muito custo conseguia amordaçar uns gemidos guturais.

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Permanecia acesa, incendiada, e num gesto instintivo apertou um seio, que entretanto libertara do largo soutien, e com a outra mão enfiou dois dedos, depois três, na fenda alagada, e com eles simulou uma cópula, entrando e saindo, cada vez mais depressa, entrando e saindo, metendo e tirando, cada vez mais depressa, até que rebentou segunda vez, e desta não conseguiu segurar um grito lânguido e arrastado, que pouco a pouco se foi transformando mais num soluço, até ficar só uma respiração muito pesada, uma arfar de animal esgotado…

Só por um milagre não se estatelou no meio do chão! Acabou sentada na pontinha da cadeira, o rabo entalado no vértice das tábuas, meio enterrado, acariciando-lhe o ânus a cada movimento…

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Quando se levantou, a primeira coisa que fez foi limpar esse bico da cadeira com a mão, levando-a depois ao nariz e cheirando os resquícios da essência que exalava à rectaguarda. Mais que isso, limpou depois o corpo com as duas mãos, procurando bem as áreas mais molhadas, e esfregou a cara com elas, impregnando-se assim com os odores do próprio sexo.

Sentia-se ainda muito excitada, como se o orgasmo ainda não tivesse acabado com ela, e demorou até voltar a sentir uma calma que dissesse normal.

Quando o conseguiu e finalmente se voltou a pôr de pé, sentia-se 30 anos mais nova. Cheia de energia renovada, ocupou-se então de limpar os vestígios da sua indiscrição. Passou um pano nas pernas da mesa, esfregou eficientemente a carpete, limpou a superfície dos álbuns com a manga da camisa de dormir.

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Limpava e cantarolava. Estava satisfeita, sentia-se mulher. Pela primeira vez em muito tempo, encarava possibilidades, via perspectivas. Sentia-se em forma, tinha boa saúde, afinal a vida não tinha porque acabar, não tinha porque se suspender à espera simplesmente dos dias do fim…

Nestes pensamentos a apanhou a campainha da porta que, num acto mecânico, Joaquina avançou para abrir.

Antes de lá chegar, já sabia quem era, pois logo ao bater tinha-se anunciado o visitante:

– Dona Amaro? É o Jaime! A senhora da portaria pediu-me que lhe trouxesse uma encomenda lá de baixo...

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Joaquina abriu a porta e do outro lado reconheceu o rapaz, de uns 25 anos, alto e bem-parecido, atlético. Jaime era o vizinho do lado e conheciam-se há uns dois anos, desde que ele viera para ali morar com a namorada. Entretanto, o namoro acabara e Jaime permanecera no apartamento, que tinha boa renda e estava bem localizado.

Já tinham falado, disto e daquilo, cruzando-se nas escadas ou à porta. Conversas sempre com simpatia, educação, respeito. Mas agora o rapaz olhava-a com os olhos esbugalhados, como se o assustasse um fantasma que, ainda assim, lhe era apelativo.

Joaquina ao princípio não percebeu... Só depois, num lapso de consciência, realizou o estado em que se encontrava… Vestia ainda a camisa de dormir, mas agora aberta à frente.

Além do tecido ser praticamente transparente, via-se perfeitamente em baixo uma alça do soutien caída e um seio, redondo e volumoso, de mamilo largo e rosado, completamente exposto. Mais abaixo, a pintelheira nua e as cuecas vestidas apenas numa perna, logo acima dos joelhos. E toda ela, de alto a baixo, brilhava de líquidos, principalmente na cara e na zona do baixo-ventre.

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Como se fosse pouco, libertava ainda um odor intenso e impossível de não reconhecer, que agora mesmo quase fazia Jaime cambalear: cheirava a sexo!

A gaguejar, sem saber mais o que dizer, o rapaz repetiu, com a melhor tradução que conseguiu, o recado que trazia:

–  É o Jaime...

Sentia o coração a mil e os gestos e as palavras denunciavam-lhe o nervosismo:

– A senhora Amaro, da portaria, pediu-me… A senhora da portaria pediu-me, à dona Amaro… Uma encomenda… Lá de baixo… Dona Amaro?

Envergonhada, estarrecida, hesitante, Joaquina tremia de emoções não totalmente reconhecíveis. A cobrir a cara de vexame, disse, quase num sussurro:

– Sim…?

– Dona Amaro… Posso entrar?

O crime da viúva Amaro - Parte 2

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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