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21 março, 2024 Ser ou não ser

Precisava de sexo, de se esporrar, mas sobretudo da companhia dum corpo quente ao pé do seu.

São quase 4 de manhã e a debandada é geral. Sobraram os empregados, os mais cansados de todos, três bêbados encostados ao balcão que se recusam a sair e duas chavalitas, que não podem ter mais de 20 anos e dormem sentadas numa escada, encostadas uma à outra. E ele, a andar para a porta tentando não escorregar nos restos das luzes e nas poças etílicas que fazem brilhar o chão...

Ser ou não ser

Caminha como um desistente e suspira. Decididamente, uma noite infrutífera, para não lhe chamar uma noite de merda...

O concerto desiludiu, o DJ não acrescentou nada e a cerveja nunca teve tempo suficiente para arrefecer. Quanto às gajas, arredias como tudo, uma daquelas levas em que já pouco se aproveita e todas as que abordou lhe deram negas categóricas, nem 30 segundos de conversa. Provavelmente, cheiraram a sua ânsia. Fosse como fosse, o serão estava feito, estava mais que visto que não ia foder.

Às vezes, sai-se para descomprimir, dançar, simplesmente conhecer pessoas. Geralmente, é quando as coisas acontecem. Mas noutras é a fome que manda, o desejo que exige, a tesão comanda. Então, sai-se para a caça.

01

Para ele esse era um desses dias. Acordara logo de pau feito. Foi tomar café e a menina que o atendeu, cheia de curvas e opulências, deixou-o com os mamilos a estalar. Estava desejante que chegasse a noite para começar a caça. Precisava de sexo, precisava de se esporrar, mas sobretudo precisava da companhia dum corpo quente ao pé do seu.

O destino não lhe proporcionou o que ele procurava, não nessa noite, não como ele pensava... Às vezes, a fome denuncia, desmascara. As presas pressentem o perigo e fogem.

Chegou à rua e acendeu um cigarro. Ali ainda havia grupinhos a decidir para onde ir a seguir. No meio deles viu-o, o rapaz, outra vez. Várias vezes, durante a noite, o tinha apanhado a olhar para si, um olhar que não deixava dúvidas quanto às intenções, ou pelo menos ele assim achava. Mas era-lhe indiferente. Ele não era gay, o flirt dos gajos, embora de certa forma o lisonjeasse, não lhe servia para nada, não lhe levantava o pau, não lhe fazia arder os mamilos.

O rapaz destacava-se pela roupa e pelas atitudes, era vivaz e dançarino, marcara-o, mas não lhe dissera uma palavra a noite toda, ficara só a sorrir de longe. Com o avançar da madrugada, provavelmente por o ver sozinho, reuniu enfim coragem para se aproximar:

– Grande noite, não?

– Só se for para ti.

– Então, não conseguiste o que querias?

– Pode-se dizer isso.

– Podes vir comigo, se quiseres...

– Fazer o quê?

– O que quiseres.

– Esquece. Não jogo nesse clube.

– Eu sei.

02

Ficaram em silêncio por momentos. O rapaz pediu-lhe um cigarro. Depois lume. Não entrou a matar, deu-lhe tempo. Ele deitou a beata ao chão e começou a pisá-la para a apagar.

– Sou quentinho... Chupo-te o pau... E tenho um buraquinho.

E sem esperar, sem nada o fazer adivinhar, ele sentiu tesão. Surpreendeu-se, mas não entrou em pânico.

Afinal, estava bêbado, a noite tinha sido uma desilusão, que alguém lhe falasse em chupar pau e dar o buraco, logicamente que o excitou. Não tinha nada a ver com homossexualidade, tê-lo-ia sentido independentemente de quem o dissesse, o que o excitava era a imagem, não o convite.

Adoraria que uma gaja se ajoelhasse ali mesmo, agora, à sua frente, lhe baixasse as calças e lhe chupasse o caralho. Adoraria esporrar-se na boca dela. Mas já não se via gaja nenhuma...

Acendeu outro cigarro, embora no chão o último ainda não estivesse completamente apagado. Olhou para o céu e deu duas baforadas.

– Ok, bora...

– Por aqui.

O jovem escolheu a direcção e ele seguiu-o, como um zombie. Não sentia nenhuma excitação particular, nenhum nervosismo de antecipação, limitava-se a segui-lo como se o rapaz fosse um guia que lhe desse direcções.

Cruzaram duas esquinas e na terceira o jovem puxou-o para um recanto.

– Aqui é fixe.

Percebia-se que já tinha estado ali, conhecia bem o caminho.

O lugar era uma reentrância entre dois prédios que culminava num pequeno beco iluminado por um único candeeiro longínquo. Estavam praticamente na obscuridade, invisíveis aos olhares de quem passasse, mesmo que a rua fosse acessível pelos dois lados. Ali só poderiam ser vistos pelas janelas, mas àquelas horas estavam todas de persianas corridas.

O jovem quis dar-lhe um beijo, humanizar o acto, não ir directamente ao assunto. Mas ele desviou a cara:

– Não.

O jovem não ficou chateado nem ele o fez por nojo, só não lhe apeteciam beijos.

– Tudo bem. Fazemos como quiseres.

– Olha... [hesitou ele] Não sei se consigo...

O que ele queria dizer, e o jovem traduziu logo, é que não sabia se o conseguiria levantar. Já se esporrara mil vezes em bocas de gajas, mas nunca sequer tentara na boca dum homem.

Com a prática, o rapaz já lhe tinha baixado as calças e os boxers, como ele fantasiara todo o dia.

– Não te preocupes, relaxa.

03

E então, sentiu a boca quente e a língua mole, decidida, experiente, abraçar-lhe a cabeça do caralho.

Ele estava encostado ao gradeamento e deixou cair a cabeça para tráz. De olhos fechados não podia distinguir a pessoa que o mamava. Sentiu o pau crescer até ao máximo, de tal forma que ouviu o jovem gemer, ligeiramente asfixiado pelo tamanho crescente. Teve que o tirar da boca e reagrupar. Então adaptou-se à nova configuração e, sapiente, começou a sugá-lo com movimentos de vai e vem, a língua sempre a trabalhar em volta da glande, uma poça de saliva a fazer tudo escorregar melhor.

Ao sentir a resposta dele, o jovem atreveu-se a ir mais longe e, pondo-lhe uma mão por debaixo das bolas peludas, procurou-lhe o olhinho do rabo e tentou enfiar-lhe um dedo.

Ele não fugiu nem fez nada para evitar. Ainda assim não escondeu o desconforto, mas não por constrangimento ou vergonha, só não sabia se estaria lavado o suficiente.

– Não te preocupes, relaxa – repetiu o jovem.

04

E ele fez isso mesmo, relaxou o olho do cu e deixou entrar o dedo, primeiro só à superfície, depois até muito fundo, com certeza já a tocar-lhe a próstata, a julgar pelo formigueiro que sentia a partir do ânus e lhe percorria toda a extensão do caralho, até chegar à ponta, à grande cabeça inchada que o jovem agora revolteava com a língua. Sentiu que ia explodir.

– Espera, não te venhas já.

Muito rápido, o jovem levantou-se, baixou ligeiramente as calças e inclinou-se para a frente, apoiando-se agora ele à grade e virando-lhe o rabo. Naquela posição, as duas nádegas semi-descobertas recebiam a luz do candeeiro distante quase como um reflector. Mas o restante do corpo ficava mergulhado nas sombras...

Ele olhou para a oferta cheio de excitação, desde logo porque assim não distinguia se se tratava de rabo de homem ou de mulher, era simplesmente um rabo nu e disponível para foder.

Passou-lhe a mão pelo rego, era macio e húmido e não lhe encontrou um único pêlo. Passava lindamente por um cu de rapariga. Mas, por essa altura, ele já não queria saber de nada, sentia-se cego de tesão.

Apoiou a grande cabeça na orla da entrada e empurrou. Enfiou imediatamente meia picha e o rapaz, sentindo o grande volume, gemeu de dor, meteu uma mão na boca e mordeu: 

05

– Ai... Faz devagar...

Ele deixou-se ficar, só com ele meio metido, e depois recuou e avançou, sem nunca passar da meia distância. Fez várias, muitas vezes assim. Era muito apertado, mais do que uma cona molhada, por certo, e sentiu que não ia aguentar muito tempo.

– Pensa noutra coisa. Fode-me o cu, mete todo!

Enfiou até ao fim, depois tirou-o todo, depois meteu-o todo de novo até ao fundo, até consolidar um ritmo prazeroso para ambos.

06 

– Isso, assim, mais rápido!

E, enfim, ele se permitiu foder aquele cu como se fosse outro cu qualquer, cujo género já não interessava.

Àquelas horas, àquela luz, naquele estado de volúpia, já tudo lhe era indiferente, menos o gozo que sentia. Tanto assim que viu o rapaz agarrado ao próprio pénis, a bater uma punheta desvairada, e não sentiu nenhum incómodo por isso, pelo contrário, chegou a pensar agarrar-lho e esfregar-lho ele mesmo, fazê-lo esporrar na sua mão.

Agora sim, a bombar sem delicadeza nenhuma naquele rabo que gemia de prazer, sentiu que se ia vir.

07

O rapaz também o sentiu:

– Quando te quiseres vir diz-me.

– Vou-me vir.

Imediatamente, agilmente, o jovem desenterrou o cu daquela piça ávida de grande porte e voltou a ajoelhar-se à sua frente e meteu-a de novo na boca.

Ele esporrou-se logo, com vontade, durante muito tempo, sem conseguir abafar uns urros que reverberaram nas paredes do beco. E o jovem recebeu tudo na boca e engoliu a maior parte.

09

Imediatamente a seguir, o rapaz também se veio, ele viu-lhe a expressão de luxúria e os esguichos que lhe saíam do caralho e raiavam no escuro.

Finalmente, com um gesto natural, limpou a boca à manga da camisa e sorriu.

Ajeitaram a roupa sem uma palavra e só depois ele disse, meio a sério, meio a brincar:

– Isto quer dizer que agora sou gay...?

O jovem riu com gosto, com uma gargalhada feliz.

– Não sejas parvo... Somos todos bi. Todos os animais na natureza são bi. Estavas com tesão, eu também, foi só isso.

Ele fechou os olhos e quis dizer mais qualquer coisa, qualquer coisa para não acabarem a noite assim, a seco. Agradecer-lhe, talvez...

Mas quando abriu os olhos o rapaz já lá não estava.

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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