08 August, 2025 Sexo & Ansiedade: Ode às mulheres com pêlo (na venta)
Nesta nova crónica no Blog X, quero retratar o que significa ser mulher nos dias de hoje: o mais crua e intimamente possível.
Quando contei às minhas amigas que ia começar a escrever uma crónica no BlogX, não posso dizer que a reação delas tenha sido a mais entusiasta. Não tanto pelo facto de me expor como mulher aos olhos de uma enorme massa crítica e anónima, mas pelo tema com que decidi começar os meus relatos.

– Tanto mistério no eterno feminino e do que tu te lembras é das nossas... intimidades capilares?! – questionou a Vanessa.
A Vanessa nunca dizia uma “palavra proibida” se em vez dela pudesse usar um eufemismo.
– Uma coisa tão badalhoca, para não dizer tão pessoal... – reforçou a Júlia, com uma súbita vontade de coçar a virilha. – Já agora, porque é que não contas a toda a gente que as mulheres também fazem a barba?!
Disse-lhes que era exactamente isso que queria! Retratar, com o maior rigor possível, o que significa ser mulher nos dias de hoje. O mais crua e intimamente possível. O bom e o mau, o yin e o yang, o sexo e a ansiedade... Com barba incluída, se fosse o caso.
– Quero que as minhas crónicas tresandem a suor! Que se vejam os vincos dos elásticos no rabo! Que se sinta a lixa do buço e se consiga cheirar o sangue nas cuecas!
A Jorge, talvez por ser a mais cínica das quatro, não esboçou qualquer reação. As outras duas ficaram escandalizadas:
– E achas que isso vai ajudar a nossa causa?!
– Como se não tivéssemos já problemas suficientes em mascarar as nossas vulnerabilidades...
– Precisamente – cortei, no meu tom fora de merdas que elas tão bem conhecem. – Gostava que, por uma vez, alguém se esquecesse das máscaras que a sociedade nos impõe e se concentrasse na realidade das coisas. E a realidade das coisas é que o mundo é uma selva e nós contribuímos para ela, entre outros campos, com uma vasta gama de pêlos, cabelos e pintelhos!
Ao repetir a palavra proibida que as tinha melindrado logo no início da conversa, a Vanessa fechou-se no seu tradicional beicinho. Nunca ficava tão linda como nesses momentos de desagravo, quando se permitia revoltar-se. Claro que isso não alterava o facto de ser uma púdica:
– Porque é que tens sempre que dizer tudo? Há pessoas que não gostam de ouvir...
– Sabes que gosto de chamar as coisas pelos nomes.
Não foi preciso ir mais longe, portanto, para perceber que a minha crónica não iria ser um produto unânime, como nunca nada o é entre as mulheres.
– Pêlo ou pintelho, tanto faz. A questão é o que isso nos traz e, principalmente, onde nos leva...
Tinha o exemplo perfeito ainda fresco na memória. Uma semana antes tinha levado uma tampa de um amigo colorido. Não é que leve muitas, mas detesto cada uma delas. Se há canalhice que não perdoo é combinar uma tardada de prazer sem compromisso, ficar húmida de antecipação e depois deixarem-me à seca. Não percebo nem aceito!
Não me julguem mal, não sou uma fanática da pontualidade britânica nem coleciono relógios suíços. Mas quando combinam sexo e me falham, o que questiono é o desejo, mais do que a responsabilidade. Se o tipo quisesse mesmo, de certeza que arranjava maneira.
Mas, para mim, a consequência mais grave não foi, nunca é, a frustração nem a machadada no ego. São as horas de trabalho atiradas para o lixo!
Provavelmente, quando nós chegamos, deslumbrantes e misteriosas, ao pé de um homem, ele acha que nós nascemos assim. Na sua consciência básica, predominantemente unicelular, não imagina os mil trabalhos que uma mulher tem de executar, as mil torturas que tem que suportar, para ser bela quando é esperado (e é sempre!) que o seja.
Por mais moderno e sofisticado que aparente ser, o macho não faz ideia das engenharias que nós, mulheres, necessitamos de orquestrar, das maquinarias que precisamos de manobrar, para no momento certo, irradiarmos a nossa beleza natural. Ficam fascinados com a fachada, mas nunca se questionam sobre o trabalho de bastidores.
Ainda por cima, no caso do David, o gajo que me deu a tampa, estamos a falar dum esteta, um tipo que não faz ideia do que é um emprego, mas sabe sempre, exactamente, onde pendurar um quadro. Todo ele é décor, design e feng shui.
Portanto, para ir para a cama com um gajo destes, que irá estar atento a todas as nossas virtudes e defeitos, que será capaz de descobrir uma agulha num palheiro ou um cabelo branco nos nossos recantos mais obscuros, só passando pelo laboratório.
Toca de escanhoar o buço, rapar o sovaco, depilar as pernas e sim, sobretudo, ter muito cuidado em desmatar aquele pintelhinho rebelde que teima em evadir-se pela aba das cuecas.
E tudo isso para quê? Para no final ele inventar uma desculpa esfarrapada a dizer que não pode vir?! Ainda se tivesse tido um acidente, de preferência grave, que lhe tivesse decepado uma qualquer parte sensível do corpo... Mas nem isso! Liga-me a dizer que se esqueceu dum compromisso anterior!
Um compromisso mais importante do que levar-me para a cama e fazer-me desmaiar com uma sessão épica de orgasmos múltiplos, até cheirar a borracha queimada?!
Quando um homem nos falha assim, o que queima não é o amor-próprio, são as horas perdidas que nunca mais recuperaremos. Ou seja, uma gaja aqui a pôr-se toda boa, para nada.
Neste mundo de hoje, tão actual como antigo, em que a mulher ainda parece que existe unicamente para ser bela, sendo mesmo, a mais das vezes, obrigada a sê-lo, a sociedade patriarcal tende a ignorar, convenientemente, o que está por trás.
Talvez, como diz a Vanessa, não queiram saber tudo. Talvez não queiram ver a parte suja. Talvez resistam a conhecer o truque para não estragar a magia. Mas deviam saber que, sem esse lado, também não haveria a parte bela, gloriosa, glamorosa... E sem ela, ficariam a chuchar no dedo.
Voltando às pilosidades propriamente ditas, confesso que sou uma das resistentes a esta actualíssima tendência de nos raparmos por baixo. Porque não me parece uma opção natural, estritamente feminina, mas mais uma tara destinada a agradar os homens. Freud teria com certeza muito a dizer sobre isso.
Portanto, chamem-me antiga, chamem-me badalhoca, chamem-me o que quiserem. Mas, para mim, não há sexo oral sem acabarmos a palitar o pintelhinho maroto que nos ficou preso nos dentes. E isto vale tanto para nós como para eles!
Um bom triângulo negro e misterioso debaixo das bermudas, é disso que estou a falar. Até o cheiro é melhor. Digam-me vocês, mulheres e homens, se há alguma coisa mais natural – e glamorosa! – do que isso!
Deixem-me os vossos comentários aqui ou enviem para sexo-e-ansiedade@hotmail.com - e até para a semana!
Beijos da Sara X
(Sara escreve de acordo com a antiga ortografia)
Sara X
Sexo & Ansiedade é uma crónica semanal assinada por Sara X, sobre a vida na cidade de 4 amigas – a própria autora, Júlia, Jorge e Vanessa –, que nos oferece um mosaico pitoresco das experiências quotidianas, stresses, problemas e aventuras da mulher moderna, com especial enfoque nas áreas amorosa e sexual.
Actuais e divertidas, curiosas e activas, tão diferentes e tão iguais, Sara e as amigas personificam a mulher do Século XXI na sua busca pela definitiva libertação, vencendo obstáculos e derrubando barreiras, sem nunca deixarem de fazer, pelo caminho, a festa que merecem...
Sara X é uma mulher directa, independente e sedutora. Escritora de profissão, distingue-se pela forma prática, “fora de merdas”, como olha para a vida. De natureza aberta, bissexual, gosta de chamar as coisas pelos nomes e escreve sobre o sexo tal e qual como o pratica: sem inibições.
As suas crónicas chegam agora ao Blog X
onde, por maiores que sejam os segredos e mistérios do “eterno feminino”, Sara não deixará nada por dizer!
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