PUB

10 September, 2016 Dependência de sexo: quando o sexo vira obsessão

A adicção sexual ainda não é doença, mas é um problema bem real.

Neste domingo assinala-se o Dia Mundial da Saúde Sexual e por isso vamos falar aqui da dependência de sexo, um problema que atinge pessoas tão diferentes como freiras ou engenheiros e que não é ainda reconhecido como doença.

Dependência de sexo: quando o sexo vira obsessão

Hiperactividade Sexual

A adicção sexual ou dependência sexual também é definida como a "motivação sexual excessiva", conforme explica o psiquiatra Afonso de Albuquerque, presidente-fundador da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, numa entrevista ao jornal Público.

Este problema é ainda classificado como Desejo Sexual Hiperactivo e ainda não vem nos manuais de diagnóstico entre as perturbações do foro do sexo, nem existe na lista de doenças da Organização Mundial de Saúde.

Mas este tipo de comportamento aditivo problemático pode condicionar por completo a vida dos seus dependentes que não conseguem pensar em mais nada a não ser em sexo.

Poderemos estar perante um único tipo de comportamento sexual ou de vários - podes ler, por exemplo, o testemunho "Fui viciada em pornografia e masturbava-me 6 vezes por dia".

Afonso de Albuquerque fala no Público de "um homem que foi encontrado morto por auto-asfixia, rodeado de fotografias pornográficas", salientando que era obcecado pela prática da "asfixia auto-erótica".

Mas este profissional da psiquiatria já recebeu no seu consultório casos muito distintos, desde engenheiros exibicionistas a freiras, conforme conta ao referido jornal.

"Recordo um caso: uma freira, há uns 30 anos. Veio ter comigo, e foi preciso muita coragem para o fazer, disse-me que se masturbava 30 vezes por dia, o que a fazia sofrer brutalmente, porque não podia compatibilizar aquilo com a sua vida religiosa. Mas não era capaz de parar."

"Tratei um exibicionista que tinha acabado por ser condenado [por atentado ao pudor] porque sistematicamente ia para a varanda da casa dele, onde vivia com a família, e masturbava-se e exibia-se quando passavam determinadas mulheres."

Sexo a mais não é dependência de sexo

A dependência sexual - apelidada de erotomania nos homens e de ninfomania nas mulheres - não surge na lista das perversões sexuais ou parafilias, mas pode envolver condutas compulsivas relacionadas com elas.

Estes comportamentos vão-se tornando cada vez mais perigosos nos dependentes, com total falta de controle de quem os pratica.

O adicto sexual pode até querer parar, mas não consegue fazê-lo, mesmo que isso implique consequências graves a título pessoal, nomeadamente pondo em causa a sua própria vida.

É um tipo de problema que afectará cerca de 8% da população, de acordo com alguns estudos. Mas Afonso de Albuquerque avisa que estes números podem ser maiores, já que é muito difícil assumir "uma compulsão sexual", pelo que pode haver muita gente escondida no armário.

Estas pessoas são mais propensas a sofrerem com relações falhadas, dificuldades no trabalho, detenções, problemas económicos, falta de amor próprio e vivem com uma sensação de desespero e de insatisfação constante, perdendo por completo o interesse pela vida para lá do sexo.

A investigadora Joana Carvalho ajudava a esclarecer o que classifica um dependente sexual em declarações ao site Ciencia 2.0, quando estava inserida no SexLab, unidade pioneira em Portugal no estudo da Sexualidade Humana.

"É importante que haja a noção de que sexo a mais não é problemático, e que esta condição clínica só se coloca quando para a pessoa isso passa a ser sentido como um problema, pelas consequências pessoais, sociais, etc.."

Joana Carvalho também esclarecia no mesmo site quais são os traços gerais que ajudam a identificar os dependentes de sexo.

"Ter durante um período de pelo menos seis meses, fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos que devem estar associados a alguns critérios, como por exemplo:

  • 1) o tempo consumido nesses comportamentos interfere com as outras actividades e obrigações do indivíduo
  • 2) recorrer ao uso de fantasias/comportamentos sexuais para gerir estados de stress
  • 3) incapacidade em controlar os comportamentos sexuais mesmo após várias tentativas, entre outros.

Adicionalmente, estes sintomas devem ser vistos pelo indivíduo como fortemente disfuncionais e causadores de problemas pessoais e relacionais, e não devem estar associados ao uso de drogas ou medicação."

Como tratar a dependência de sexo

No Brasil e noutros países, há associações de auto-ajuda para dependentes de sexo que seguem os 12 passos, tipo os Alcoólicos Anónimos.

Em Portugal, algumas instituições têm já programas de reabilitação e tratamento para dependentes sexuais.

O tratamento destes casos pode fazer-se com medicamentos, nomeadamente anti-depressivos que ajudam a controlar o nível de serotonina no organismo - esta substância está ligada às depressões e à ansiedade.

Mas ultrapassar uma dependência de sexo exige também fazer outro tipo de terapias, nomeadamente psicoterapia.

Se acha que sofre deste tipo de problema, não se esconda mais e procure ajuda. Pode recorrer a consultas de sexologia clínica. Lembre-se que não está sozinho nesta sua batalha.

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

PUB
blog comments powered by Disqus