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30 May, 2016 Os Cães-Humanos

Há pessoas que gostam de fingir que são cães. É o puppy play...

Gostam de viver em matilha, de deitar a língua de fora, de festas na barriga e de abanar as suas "caudas". E vestem fatos de cão feitos de borracha para parecerem cães. Só que são humanos e adeptos do chamado puppy play...

Os Cães-Humanos

O puppy play é algo como "brincar de cão", numa tradução muito livre e à letra para português, e constitui um fetiche sexual de roleplay em que os seus adeptos se assumem como cães, vestindo de facto a pele dos melhores amigos do homem.

Há quem considere que é uma actualização "mais fresca" da tradicional relação BDSM "mestre e escravo" e é certo que "nasceu" no âmbito da cena sadomasoquista e de bondage. Mas não tem necessariamente nada a ver com isso!

Cada vez mais pessoas têm vindo a sair do "armário" e a assumirem-se como cães-humanos - pelo menos, na Internet e nas redes sociais underground como o Facebook do Fetiche. E em Inglaterra, alguns adeptos do puppy play não se inibem de dar a cara num documentário do Channel 4 sobre este fetiche bem peculiar, intitulado "Secret Life of the Human Pups" [A vida secreta dos cães humanos]...

O dálmata que se vê no vídeo chama-se Tom e é um engenheiro de som de teatro que confessa que já gastou 4 mil libras (mais de 5 mil euros), na última década, com este seu hobby canino. Ele dorme inclusive, numa jaula de cão e diz que o puppy play lhe permite regressar a um estado primitivo de liberdade plena, sem as preocupações diárias.

Tom ou Spot (o seu alter-ego dálmata) conta no documentário que gosta de dormir com uma coleira, de roupas de licra e de borracha e que foi um fato de dálmata no eBay que lhe despertou o cão que tinha escondido dentro de si. A ex-namorada não aguentou e acabou com ele, o que o levou a uma relação gay com o seu actual domador.

No documentário, ainda se aborda o caso de David, um escritor que diz que o puppy play é apenas, uma "parte" da sua identidade e que pode passar "meses" sem vivenciar este jogo de prazer.

"É tão totalmente não verbal. É pré-racional, pré-consciente. É um espaço instintivo, emocional. Há um imenso prazer em andar às cambalhotas num clube a brincar com brinquedos que guincham porque fazes as pessoas rir, estás a ser um cãozinho fofinho. A cena gay pode ser muito séria, assustadora e desagradável. Mas se fores com um capuz de cachorrinho, com orelhas e língua, ficas bonito. Permitem-te ser entusiástico, matreiro e amigável."

"Para mim, a identidade cachorro está focada no laço entre mim e o Sidney, o meu domador. Tem-me pela coleira há 10 anos. Se alguém se aproxima dele, eu rosno como um pequeno bull terrier."

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Os Cães-Humanos são, mais frequentemente, homens e gays, gostam de se vestir de cabedal, de usar capuchos tipo-cão, claro está!, de receber carícias na barriga e de lamber orelhas! Mas não há um padrão e nem tão pouco tem necessariamente a ver com sexo ou sequer, com o sexo com animais, como explica o informático Kaz, também no documentário do Channel 4.

"Costumavam fazer-me muitas perguntas horríveis, como se gostava de fazer sexo com cães. Mas não é certamente isso e nem sempre é sexual. Eu e membros da minha matilha passamos muito tempo juntos em casa apenas a sermos cães. Somos nove e a minha parceira é a nossa domadora. Uma grande parte é um sentimento de família e de pertença; estamos ali para olharmos uns pelos outros."

"É simplesmente bom, faz-me sentir confortável. Mas como sempre com uma faca e um garfo e na mesa. De outro modo, perde-se muito tempo e não se pode ver TV."

E até há concursos internacionais - assim tipo os Mister Cachorro! Há o Mr. Puppy Europe, que mistura os conceitos dos concursos de beleza e de talentos, e há também o International Puppy Contest que se realiza nos EUA e que é um "concurso cachorro pansexual", como se explica no site, aberto "a todos os cães-humanos, cães, domadores, treinadores, donos e a quem quer que seja, de qualquer país, interessado no puppy play."

No fim de contas, mesmo que alguém ache que é um fetiche esquisito, só tem que se respeitar, como se respeita qualquer orientação ou escolha sexual, desde que seja praticada em liberdade e sem v‭iolar a liberdade de ninguém.

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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