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14 December, 2023 Opus Improvável

Fomos trocando olhares e sorrisos, até que reparei no livro que estava a ler: Opus Pistorum de Henry Miller.

Era um daqueles dias em que o sol queimava e decidi, em vez de fazer o caminho para o escritório, ficar a trabalhar num café ao lado da minha casa, que, entre outras sugestivas ofertas, tinha uma moderníssima esplanada com ar condicionado.

Opus Improvável

Não havia nada urgente no trabalho e deixei-me ficar a divagar, entregue às delícias estivais da procrastinação.

Opus improvavel 1

Enquanto saboreava o meu café com gelo e via os e-mails no portátil, um senhor de ar gentil, aparentando uns 65 anos, sentou-se na mesa ao lado e abriu um livro.

Como estávamos muito próximos, inevitavelmente fomos trocando olhares e pequenos sorrisos casuais, até que reparei no título do livro que estava a ler: Opus Pistorum de Henry Miller.

O seu aspecto culto e abastado contrastava com tal escolha literária, pensei. Intrigada, decidi meter conversa e descobrimos rapidamente que partilhávamos o gosto pela literatura erótica e uma certa apreciação pela simplicidade da vida.

– A Marta diz que tem 24 anos, mas de cabeça parece muito mais velha. Atenção, isto é um elogio.

Samuel, assim se chamava o senhor, tinha uma enorme experiência de vida e contava histórias incríveis. Tinha um tom de voz sensual e um ar descontraído, uma certa displicência, que fazia esquecer por completo a nossa diferença de idades.

Opus improvavel 2

Não vou esconder que estava um pouco fascinada, até pela forma como ele discorria sobre a vida e obra de Henry Miller, um dos meus autores favoritos. Falava dele como se tivessem sido os melhores amigos e não me teria sido difícil acreditar se fosse o caso.

Já ele, olhava para a garota à sua frente com um misto de interesse e curiosidade, ou assim me pareceu.

Enquanto a conversa fluía e uma certa intimidade crescia, Samuel convidou-me para a sua mesa. Aceitei e ele encomendou logo aperitivos.

As suas histórias e os eflúvios do álcool a uma hora tão matinal, puseram-me num estado de espírito aberto e muito leve. Por isso, quando ele sugeriu que dançássemos ao som da música clássica que, em fundo, dava ambiente ao café, aceitei o desafio, por mais louco que me parecesse. Fomos para um cantinho, abraçámo-nos e dançámos como se mais ninguém existisse...

Opus improvavel 3

Enquanto girávamos pelo espaço improvisado, o olhar curioso das pessoas em redor passou, primeiro, de estranheza para admiração e, depois, para o completo desinteresse.

Foi nesta fase que os nossos passos nos levaram para o pequeno hall do lavatório, que fazia a separação entre as casas de banho de homens e mulheres e, num assomo de paixão inusitada, ele me puxou para o interior dos lavabos femininos! Com uma agilidade que me espantou, empurrou a porta com o pé e beijou-me na boca, enfiando logo a mão pelo lado frontal das minhas calças...

Opus improvavel 4

Senti a sua mão entrar-me dentro das cuecas e imediatamente começar a explorar com os dedos as reentrâncias e concavidades da minha intimidade... A sua língua serpenteava dentro da minha boca e usou a mão livre para me apalpar ora o rabo, ora as mamas. Senti-me logo toda molhada!

Não sei o que lhe passou pela cabeça e nenhum momento da nossa partilha me fez antecipar os seus avanços. Mas depois lembrei-me do que ele estava a ler e compreendi que, mesmo antes de começarmos a falar, já devia estar cheio de tesão. Afinal, mais do que qualquer outro livro da sua vasta obra, o Opus de Miller tem a particularidade de entrar a matar logo nas primeiras páginas...

Opus improvavel 5

No momento capital, o meu par transfigurou-se. Já poucos sinais restavam do homem culto e educado que conhecera há apenas minutos. Como amiúde acontece quando o sexo toma conta da ocorrência, convoca-se a animalidade e põem-se de parte os formalismos racionais.

Uma coisa levou a outra e, em menos de nada, já me tinha baixado as calças e as cuecas, dispondo-me em cima da sanita de pernas escancaradas.

Samuel ajoelhou-se à minha frente e começou a lamber-me toda em baixo, das virilhas ao umbigo, ao mesmo tempo que me enfiava o dedo indicador (só posso supor, pois não conseguia ver) no ânus...

Senti-me arrepiada e inundada de prazer. Ele lambia e sugava com a mestria de um personagem de capa e espada, com ousadia e completo despudor. Mais do que isso, sentia como se beneficiasse do derradeiro minete da sabedoria!

Era como se ele conhecesse de antemão cada fímbria sensorial do meu sexo, como se de forma misteriosa e inata tivesse acesso a informações privilegiadas da base de dados do meu prazer.

Opus improvavel 6

Acrescia a tudo isso aquela bipolaridade de sensações, analógicas e digitais, anais e vaginais. Rapidamente me fez chegar a um repentino e prolífico orgasmo! Pude constatar com precisão os efeitos devastadores da minha explosão, pois deixei o meu amante com a cara ensopada e as barbas de molho...

Verdade seja dita, há algum tempo que andava precisada. Mas não quero com isto tirar créditos nem à sua técnica, nem à sua paixão. Decididamente, ele sabia o que fazia e via-se que tirava imenso prazer em dar prazer. E essa generosidade, esse altruísmo, sempre foram um grande afrodisíaco para mim.

Opus improvavel 7

Fiz um esforço enorme por me manter em silêncio durante todo o acto, já que estávamos num local público, mas, no momento final, não consegui impedir-me de soltar um pequeno grito, que esperava que ninguém tivesse ouvido do lado de fora.

Opus improvavel 8

Depois de um minuto a recompor-me, achei que devia reciprocar. Abri-lhe a braguilha e baixei-lhe as calças e as cuecas, posto o que meti (ou tentei meter!) o seu pénis na boca.

Era grande e, sobretudo, muito grosso – devia ser uma foda divinal! Mas não era fácil para efeitos orais. Tive alguma dificuldade em abocanhá-lo por inteiro, tal era o diâmetro da “besta”, mas finalmente engendrei uma posição um pouco mais confortável e comecei a chupá-lo com ardor.

Opus improvavel 9

Não demorou, talvez, mais que dois minutos, até ele me dizer com os seus olhos gentis e, agora, um pouco alucinados:

– Vou-me esporrar!

Percebi que me dava a opção de decidir o passo seguinte, tirá-lo da boca para que se viesse por sua conta, ou deixá-lo estar e absorver a sua descarga. Escolhi a segunda opção e recebi a sua torrente diluviana na boca, de tais proporções que me começou a sair o leite pelos cantos dos lábios.

Opus improvavel 10

Completado o devaneio, limpámo-nos e vestimo-nos e ficámos a olhar um para o outro, como quem pergunta, e agora, como é que fazemos para sair daqui sem dar nas vistas?

Samuel sorriu, abriu a porta, pegou-me nos braços e tirou-nos do nosso coito amoroso aos rodopios, como se a nossa dança nunca tivesse sido interrompida.

Ao observarem a nossa reaparição, os clientes do café interessaram-se de novo pela nossa performance e, quando terminámos e voltámos a sentar-nos, fomos brindados com aplausos generosos da plateia improvisada.

Ainda falámos um bocadinho mas, eventualmente, cada um foi para o seu lado. Despedimo-nos com dois beijinhos na face e, sem hesitação, concordámos em manter aquela amizade inesperada. Sobretudo, ambos desejávamos ver o fim do “baile” que tínhamos iniciado...

Falo por mim, queria muito sentir e não parava de imaginar aquele pau grosso a dilatar-me as pregas da cona!

Opus improvavel 11

Ao chegar a casa, despi a roupa toda e fiquei muito tempo ao espelho a observar o meu corpo nu.

Tudo parecia diferente, o mundo parecia diferente. A atmosfera estava mais leve e até o calor intenso me parecia agradável, um formigueiro eléctrico a escaldar na minha pele...

Não consegui resistir, fui buscar o meu exemplar do Opus Pistorum, li algumas páginas soltas e masturbei-me até me vir com a memória do meu cavalheiro reluzente.

Opus improvavel 12

Revi todos os detalhes da sua pele tisnada, dos seus cabelos e barba prateados, das suas mãos rugosas e ágeis e, no plano geral de todas as coisas, constatei que a nossa diferença de idades não era senão um detalhe insignificante na narrativa única daquele dia improvável.

Não sabia qual seria o nosso futuro, nem, na verdade, queria saber. Se alguma coisa aquele encontro tinha confirmado, é que a vida é uma dança constante de surpresas e possibilidades...

Opus improvavel 13 

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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