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17 June, 2023 E nos hospitais?

Uma pessoa muito próxima de mim começou a vomitar sangue e pediu-me ajuda...

Reflexão: Sempre e próxima da meta final de algo muito importante, acontece sempre algo que sabota tudo. Possivelmente não será ainda a minha hora de conquista.

E nos hospitais?

Na sexta-feira, às 3 da manhã, uma pessoa muito próxima de mim começou a vomitar sangue e pediu-me ajuda. Fui em seu socorro, mas a pessoa já não conseguia levantar-se e caía para o lado.

Por isso, chamei a ambulância que chegou com 3 bombeiros, um médico e um enfermeiro. A abordagem que tiveram foi muito impessoal, mas tudo bem, pois o objetivo principal era que levassem a pessoa para o hospital, e eu iria lá ter.

Quando cheguei notei que a pessoa estava com pulseira amarela e, imediatamente, me dirigi à triagem a questionar o enfermeiro do porquê, da razão por que não tinha pulseira laranja ou vermelha. Como não gostei da resposta, voltei para a sala e fui perguntar à enfermeira o porquê da pulseira amarela. Respondeu que era necessária evidência que o vómito tinha sangue.

Sugestão: Se vos acontecer isto em casa, vão logo buscar um saco para vomitar para lá. Assim levam logo a evidência convosco. Normalmente, o primeiro vómito é escuro, como se fossem borras de café.

Sentei-me ao pé da pessoa que estava na maca e comecei a ouvir a conversa das pessoas:

- Já estou aqui desde as 20h, 19h...

Reparei também que ao chamarem os doentes, os médicos nem se apercebiam que muitos deles estavam em macas, ou cadeiras de rodas, e não conseguiam ir para o consultório. Vocês conseguem imaginar uma pessoa muito doente, com dores, a sentir impotência e ansiedade, porque quer ir ter com o médico e não consegue, sem saber o que fazer ou quem chamar?

Arregacei as mangas e de cada vez que alguém era chamado, eu levava a pessoa à entrada para o consultório. No caso dos doentes velhinhos que eu via que estavam sem acompanhante, fui conversar com eles, fazer-lhes massagens, colocar cobertores, etc....

Já que tinha de esperar, tornei aquela espera em algo produtivo para a sociedade. Um deles estava tão desesperado de dores que até me começou a pedir para lhe arrancar os braços!

Eis que a pessoa que eu estava a acompanhar começou a vomitar para o saco que lhe deram e, desta vez, era sangue vivo. Entrei por ali adentro e, num grito, disse:

- Quero um médico, quero já e muito rápido!

Tal foi a coisa que vieram quatro. A pessoa foi levada para o bloco de reanimação. Comecei a chorar e as enfermeiras pediam para que eu ficasse calma, ao que eu respondi:

- Esta é a minha melhor defesa emocional para relaxar e não colapsar.

A pessoa em questão está, neste momento, internada no SO (Serviços de Observação).

Foi o rebentamento de uma úlcera gástrica devido, imaginem, a bullying no trabalho! Imagine that!

Disseram que poderia ir à visita às 16h, numa visita de 10m. Chegando a hora, o segurança não me deixava passar porque não tinha o nome da pessoa na folha dele. Mas lá me deixou ir. Chegando ao SO, enquanto esperava, ouvi uma conversa de uma médica com dois irmãos que tinham a mãe neste serviço.

A médica não compreendia porque a mãe deles tinha desmaiado duas vezes. Eles explicaram que a mãe era seguida em psiquiatria, mas recusava tomar os comprimidos, e relataram todo o comportamento destrutivo da mãe.

A médica só respondeu que o cardiologista só viu que a senhora tinha arritmia. Parecia que havia dúvidas e deu-me uma grande vontade de me levantar da cadeira e explicar, mas não o fiz. Ainda hoje voltei a ver a filha e nada lhe disse, mas amanhã vou-lhe explicar e vai ser assim:

- Sabe, parece-me que a sua mãe tem algum trauma/evento muito forte que lhe aconteceu em certa altura da sua vida. Ela recusa a medicação porque continua a sentir, visto que a medicação é um estabilizador e não alguém que a ajude a identificar o trauma, falar dele, e resolvê-lo. Dito isto, o que aconteceu com a sua mãe foi o mesmo que se o corpo tivesse voz e dissesse: olha, chega, pois não aguento mais e vou desligar tudo = desmaio. A sobrecarga emocional está a ser tão violenta que o corpo precisa desligar para poder sobreviver a um possível ataque cardíaco.

O sistema de saúde precisa de se convencer que os psicólogos são necessários na urgência. A medicina tem de se unir de forma inequívoca com a psicologia!

Voltando ao assunto da pessoa que tenho no SO...

Hoje fiz um teste psicológico para ver como as pessoas reagem quando provocamos um estímulo. Fui visitar a pessoa, mas desta vez ao ombro levei um saco de pano que me deram na Faculdade de Medicina, que diz exatamente isso: "Faculdade de Medicina".

Ao verem o saco, reagem de forma diferente, mais positiva, pois deixei de ser invisível.

Ao chegar à pessoa que estou a acompanhar, disse-me que esteve quase a levar uma transfusão de sangue, mas não levou. Disse que não sabia porquê. Também não sabia que medicação estava a tomar agora.

Eu fui saber tudo! E com o saquinho, tive logo 2 enfermeiros e uma médica a explicar tudo bem explicado e de forma científica, porque eu agora gosto de saber tudo de forma científica!

Conclusão deste texto

Disse à pessoa:

- Sabes, tens de ter voz ativa. Cada vez que te mudarem a medicação, fizerem análises, e afins, tu tens de perguntar o porquê e para quê. Com isso vais criar um estímulo, ou seja, as pessoas que estão a cuidar de ti passam a saber que tu te importas com a tua vida e saúde, e estás com a atenção devida a tudo o que está a acontecer contigo. Tornas-te um ser humano visível, e o respeito será maior. Sabes, muita gente morre no hospital porque se tornou invisível, submissos aos seus cuidadores. Praticamente é “uma pré desistência de viver”, porque querem “parecer bem”. Faz parte da nossa cultura “Oh, Sr. Dr. obrigado Sr. Dr. …

Outra coisa positiva é que quando fazes estas perguntas "obrigas" as pessoas a pensar nas respostas. Isso vai ser benéfico para elas, porque vão ter de recorrer à memória a longo prazo, pois estão mais em memória de trabalho. Fazem assim uma reciclagem sem se darem conta.

Tens de ter pensamento crítico: Estão a dar-me isto, porquê?

Vou continuar aqui no SO, porquê? Qual a melhor opção e porquê? Mas vou tomar esta medicação porquê? Quais as consequências desta medicação para os outros órgãos? Se há consequências, quais as outras opções disponíveis?

Pois não quero chegar a idosa e andar com uma caixa de 20 comprimidos, porque tenho de tomar este para o joelho que vai fazer mal ao estômago e, por isso, tenho que tomar o outro para o estômago, e depois este que tomo para o estômago altera-me a atenção arterial e, por causa disso, vou ter que tomar um outro para a tensão, e assim sucessivamente.

Espero que com este narrativo alguns de vocês entendam como o sistema está, como se podem defender, o que fazer, e se tiverem familiares vossos a tomar muita medicação, vão com eles ao médico, até para verificar outras opções.

Por vezes, os nossos idosos precisam muito da nossa ajuda, porque vêm de tempos diferentes onde o Dr. é quase um Deus para eles.

Vivemos todos num mundo de humanos e, por isso, temos mais do que nunca de ter pensamento crítico. Apesar de eu não ser discípula de Carl Rogers, sei que a abordagem humanística continua a ser fundamental para haver harmonia entre as pessoas.

É tudo por agora...

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