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20 März, 2017 Um Não é um Não (ou como as violações nos casais são demasiado comuns)

Uma curta-metragem que alerta para uma realidade assustadoramente comum...

Intitulada "Je suis ordinaire" - "Sou comum" em português -, uma curta metragem ilustra que a violação no seio dos casais é, infelizmente, uma realidade demasiado comum e ainda mais desvalorizada. Para ver e reflectir...

Realizado por Chloé Fontaine, de 25 anos, este pequeno filme pretende alertar para o facto de as violações nos relacionamentos serem uma realidade muito comum.

"Je suis ordinaire" procura assim, dar espelho à banalidade do assunto e à forma como as próprias mulheres se acomodam, muitas vezes, a esta agressão cometida pelos seus companheiros, namorados ou maridos.

Na curta-metragem, um jovem casal surge à conversa na cama. Ele propõe que vejam o filme "Irreversível", realizado por Gaspar Noé e que tem a actriz Monica Belluci como protagonista. Na cena mais marcante deste filme, a personagem interpretada por Monica Belluci é violada brutalmente.

A mulher da curta-metragem de Chloé Fontaine diz que não quer ver aquele filme. "Tapo-te os olhos [na cena da violação]", responde o homem, beijando-a.

Ela diz-lhe que não lhe apetece fazer sexo, mas ele insiste e pergunta: "Já não gostas de mim?"

Perante a insistência dele, o sexo acontece, contra a vontade dela que, contudo, não resiste de modo nenhum.

A ideia para este filme surgiu à realizadora depois de uma história que uma amiga lhe contou, conforme a própria Chloé Fontaine revela ao jornal espanhol El País.

Numa noite, ao voltar a casa com o namorado, tudo corria bem até irem para a cama. Ele queria fazer sexo, ela não. Ele insistiu mais e mais e ela continuou a dizer que não queria. Mas ele continuou a insistir. E ela disse-me: 'Não queria, mas era a única forma de ele me deixar em paz.

Chloé Fontaine também fala da ideia errada de que, para muitas mulheres, este tipo de casos não são violação por envolverem o namorado ou o marido, o que está relacionado com preconceitos machistas que persistem na nossa sociedade.

No canal do Vimeo onde a realizadora divulgou a curta-metragem, surgem várias críticas ao vídeo, especialmente por a mulher da história se limitar a dizer não, sem fazer mais nada, sem resistir. Chloé Fontaine aproveitou estas farpas para explicar aquela que é afinal, a missão do filme.

"Não se trata de culpabilizar ninguém, quer seja homem ou mulher, mas de pôr o dedo em coisas que estão mal na nossa sociedade.

Por um lado, a mulher que se sente obrigada a render-se perante a insistência do seu parceiro, por razões suas. Pode ser pelo amor, pelo medo, pelo espanto, pela incompreensão, o que seja...

E por outro, o homem que não entende a negação que, contudo, parece muito clara na palavra "Não". Mas ele não a ouve ou ignora-a deliberadamente.

Isto acontece, em grande parte, por culpa de discursos antigos, mas ainda enraizados na nossa sociedade. Frases como: «quando se trata de sexo, uma mulher vai dizer-te sempre Não em primeiro lugar, mas, na verdade, o que ela pensa é Sim».

Não, um "Não" nem sempre significa um "Sim". Na realidade, na maior parte das vezes, um "Não" significa "Não". Esta regra é válida para ambos, mulheres e homens.

Fizemos este filme para que se saiba o que se passa na mente da tua parceira quando tomas um "Não" por um "Sim". Se nunca o tinhas pensado antes, hoje ensinamos-te. Nunca mais poderás alegar a ignorância. Para que estas coisas não voltem a acontecer jamais.

A rendição não é o consentimento. Pensa nisso."

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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