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05 Mai, 2022 Madura Pura e Dura

00

Ana Sacadura era madura
ostentava 40 anos de ternura
que não lhe punham um grama de gordura
toda ela muito esbelta, uma finura

01

Também não lhe faltava cultura
sabia de cor a partitura
e dedicava-se ao retiro e à clausura
muito dada ao corte e à costura

02

Mas também tinha as suas horas de conjura
quando o corpo lhe fervia a temperatura
a alma a convocava para a loucura
e se punha à janela, nua e sem censura

03

Então era a própria formosura
e à vista de tamanha fartura
acorriam os homens sem lisura
cobiçando a oferecida criatura

04

Só ia até aí a travessura
pois Ana não entregava a fressura
à primeira ou posterior cavalgadura
apenas por lhe elogiarem a figura

05

Os que tentaram pagaram a fatura
com muita ilusão e mais gastura
ao despertarem nela a arma impura
que Ana ocultava na sua parte escura

06

Só que, como às vezes diz o cura,
água mole em pedra dura
tanto dá até que fura
e tanta virtude acabou em rachadura

07

O vilão era de bela en-verga-dura
trepou à janela e arrombou-lhe a fechadura
exibiu-lhe uma notável espessura
e atirou-se-lhe à disponível ranhura

08

Ana cedeu e não borrou a pintura
acolheu-o com ardor e doçura
encaixou-o em toda a grossura
e gemeu com bastante desenvoltura

09

Não o incomodou a ausência de ranhura
nem o mastro que lhe pendia da cintura
enrabou-a como quem a reestrutura
e no final regou-lhe a cercadura

10

São hoje um casal de muita estatura
apaixonados como um par da literatura
e se porventura o seu amor assim perdura
é pela bravura com que ele a procura

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Unidos são uma caricatura
uma ode ao prazer da escravatura
e nunca mais se viu Ana Sacadura
nua na janela, pura e dura

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Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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