14 agosto, 2025 A janela em frente - Parte 11
Foi com a vulva incendiada de ideias e dedos que se começou a arquitectar o plano na minha cabeça...
Eu sabia que ele estava certo... Não era amor, era necessidade, uma fome primordial que só ele saciava em mim e só eu saciava nela. Era físico, era química, era matemático.

A traição era o nosso segredo, sim, mas preferia enganar-me a mim mesma e vê-la antes como um pacto. Um pacto com o diabo, cujo preço eu estava disposta a pagar.
Ainda assim, residia a dúvida: por quanto tempo conseguiríamos manter este jogo? Quanto tempo até que a culpa já não admitisse engano, e o risco ou a vida real nos apanhassem?
Por agora, porém, eu empurrava essas perguntas para o fundo da mente, deixando o calor do corpo dele ao meu lado apagar tudo o resto.
Finalmente, depois de hesitarmos sobre uma possível segunda ronda de sexo, ele disse-me que era melhor não arriscar, pois não fazia ideia a que horas a mulher poderia voltar.
Então, levantei-me e vesti-me lentamente, sentindo o peso do seu olhar lascivo em cima de mim.
À despedida, tentei parecer casual. Afinal, não era amor, não era emoção... Era simplesmente prazer.
- Até à próxima - disse-lhe, imitando o tom dele da noite da festa.
Ele não esboçou resposta. Só quando estava prestes a sair ouvi a sua voz:
- Até logo, puta...
A ideia nasceu nessa mesma noite, depois de mais uma troca de mensagens febris no telemóvel, enquanto os nossos parceiros dormiam. Nenhum de nós atingiu o orgasmo, com receio de os acordarmos.
- Um fim de semana - escreveu ele, fazendo o meu coração disparar em arritmias de tesão.
- Só nós! - rematou.
Demorei imenso tempo a responder, desorientada pela ousadia do que estava a propor. Finalmente, teclei:
- Sim! Arranjo uma maneira.
Para algo sem emoção, era difícil explicar o corropio mental que se seguiu depois de aceitar aquele desafio que, sentia, violava todas as regras do bom-senso que ambos nos comprometêramos a cumprir. Não conseguia estar quieta!
Saí da cama muito devagarinho, para não acordar o meu marido, e fui à cozinha beber um copo de água.
Não funcionou. Não só a água não me aliviou os calores, como senti a racha alagada e uma acendalha nas minhas partes baixas. Fui para a casa de banho, tranquei a porta e ajoelhei-me em cima da sanita, com os dedos enfiados até ao fundo da cona.
Assim, com a vulva incendiada de ideias e dedos, se começou a arquitectar o plano na minha cabeça. Um esquema arriscado, tecido com mentiras, que nos permitiriam escapar das nossas vidas mundanas e abraçar de vez a insanidade daquela paixão carnal.
Pela minha parte, diria ao meu marido que ia a um retiro de yoga com uma amiga, um fim-de-semana de auto-descoberta e interacção com a natureza. Qualquer coisa desse género!
Aprofundaria tanto sobre filosofias zens que o deixaria completamente perdido no assunto. E, quase com alívio, não teria outro remédio senão dizer-me "sim, claro, vai lá, eu trato das crianças, não te preocupes, diverte-te”. Sem mais nada, sem sequer me questionar ou a si próprio.
Não podia falhar, até porque nunca lhe pedia nada.
Assim organizada, mais descansada sobre o que teria que fazer, vim-me num colapso violento que misturava sonho e realidade.
Como previra, tudo se passou sem problemas, exactamente como planeei. O meu marido parecia tão contente por me fazer um agrado que não consegui evitar sentir uma punhalada de tristeza no coração.
Por sua vez, o meu amante inventara uma viagem de negócios, uma história que a mulher dele engolira, igualmente, com facilidade, ocupada com as rotinas de mãe cuja única profissão no mundo é cuidar dos seus filhos. Conhecia bem esse estado de espírito.
No final, pareceu-me tudo demasiado fácil - e se isso parecia aumentar a minha adrenalina, também amplificava o sentimento de culpa que nunca me largava.
Mas, neste caso, no frenesim da antecipação dos dois dias e duas noites juntos, até a mentira parecia somar-se como mais uma parcela da equação do prazer.
E foi assim, alegremente, deixando todos os fantasmas de lado, que na sexta-feira à noite, ele parou o carro numa zona escura da rua paralela à nossa, e eu entrei num mundo de deleite sensual como nunca tinha experimentado!
Foi logo ali, no carro, que demos a primeira foda, sem sequer nos despirmos. Fui eu que lhe saltei para cima, lhe tirei o caralho para fora, desviei as cuecas para o lado e me montei em cima dele, cavalgando-o até o fazer encher a minha cona de esporra!
Depois, sim, com a greta a pingar e sem aquela urgência no sistema, iniciámos tranquilamente a nossa viagem.
Ele quis conduzir toda a noite, para não perdermos tempo e aproveitarmos ao máximo. Seguimos em direcção ao norte e ele disse-me para dormir, mas eu não consegui.
De maneira que, quando chegámos ao hotel, pela manhã, caímos na cama e adormecemos de imediato.
Acordei por volta do meio-dia, com ele a ressonar ao meu lado. Fiquei a olhá-lo por muito tempo.
Tinha vontade de o comer, de me entreter com o seu corpo nu, com aquele caralho gigante que eu me habituara a encaixar nos meus pequenos buraquinhos... Apetecia-me mamá-lo até lhe secar o leite!
Não sei de onde me vinha a fantasia de o querer completamente à minha mercê, subjugado, abandonado às minhas mãos e aos meus caprichos. Ele parecia tão inocente a dormir, tão a jeito de...
Mas não fiz nada - sabia que ele acordaria e que o jogo acabaria aí. Desviei o olhar da tentação, deixando-o viajar até à janela...
Enterrado no meio de uma vasta cordilheira de montanhas, o hotel era suficientemente discreto e anónimo, ocupado essencialmente por turistas que vinham fazer ski. Era obviamente um lugar para classes altas.
Mesmo em época baixa, não devia ter sido nada barato alugar aquelas duas noites. O lado positivo era que, dificilmente, alguém nos reconheceria. Não era, definitivamente, o nosso "meio".
O quarto era ricamente decorado com motivos invernais, destacando-se dois quadros enormes com sumptuosas fotografias da montanha. Cheirava a limpo, a detergente e a lençóis recém-lavados, mas eu já conseguia discernir sobre esses aromas suaves o nosso cheiro avinagrado a sexo e suor.
É preciso lembrar que eu tinha ainda bastantes vestígios da sua esporra seca em redor da vulva, nos lábios, no rego... E ele devia também ter restos da mesma, assim como dos meus fluidos coalhados, na pele encolhida da piça.
De repente, fiquei tão inebriada com as nossas excrescências que, para não me masturbar, decidi ir tomar um duche.
Deixei a água aquecer até a sentir queimar-me a pele, mas tal só me acendeu ainda mais o desejo. Pensava na voz dele, muito grave e grossa, voz de homem decidido, a dizer-me, afirmativo:
- Dois dias. Só nós!
Voz, arrepio, calor, suor, sexo, desejo cru... Fechei os olhos e não pude evitar levar os dedos ao centro do corpo. Sentia um gemido a caminho ainda antes de me tocar...
... Quando a porta de vidro se abriu de rompante, deixando entrar uma baforada de ar gelado!
Assustei-me. Num flash insano, vi o meu marido a observar-me com a boca e os olhos muito abertos. No seu ar não havia repreensão, apenas surpresa. E, talvez, tristeza, vergonha.
Sinceramente, não sei como podia caber tanta informação num lapso de tempo tão distorcido e instantâneo!
Mas, claro que não era o meu marido a apanhar-me em flagrante. Não era um pesadelo! Era apenas "ele", o meu vizinho da janela em frente, o meu amante, a besta que ameaçava destruir o meu casamento.
E essa besta, esse monstro que eu ajudara a criar, acordara com fome...
Nem tive tempo de reagir: umas mãos fortes empurraram-me, fazendo-me embater de chapa com as mamas na parede do duche.
Senti uma perna grossa no meio das minhas, obrigando-me a abri-las. Tentei agarrar-me à parede, mas as unhas não conseguiam cravar os azulejos molhados. E, sem mais preliminares, senti a sua verga grossa (mais grossa ainda do que me lembrava dela, pareceu-me!) trespassar-me o anel do ânus, alojando-se por inteiro dentro do meu cu!
Gritei, urrei, rugi... Gemi como uma perdida!
Estocando-me como um louco, rasgando-me o tubo do cu de cada vez que se enfiava mais fundo, ao mesmo tempo que me mordia o pescoço e o lóbulo da orelha, dizia-me:
- Minha grande puta!
A sua voz era voraz, selvagem, desvairada...
- Dois dias! Vou-te foder até não aguentares mais! Vou-te foder até não conseguires andar! Vou-te partir tanto este cu que vais estar uma semana sem te conseguires sentar!
Foi demais para mim. Entrei em espasmos violentos e senti a racha a espirrar por todos os lados, confundindo-se com os jactos do chuveiro.
Ainda tremia quando ele me pressionou a cabeça e me fez ajoelhar diante dele, metendo-me de imediato o cacete teso na boca.
Só precisou de bascular duas ou três vezes, antes de sentir a sua vaga líquida, muito quente, derramar-se sobre a minha língua, esguichar-me o céu da boca e começar a escorrer-me pela goela abaixo.
Estava tão grande que pouco espaço sobrava na minha cavidade bocal, e sentia muitas dificuldades em respirar. A custo consegui puxá-lo de dentro da boca, mas continuava a bolsar, enchendo-me até aos queixos de nhanha.
Quando acabou, esfregou o caralho nas minhas bochechas, limpando ambos com a ajuda da água que continuava a correr. Então, fez-me levantar e abraçou-me.
Beijámo-nos intensamente, enquanto ele me continuava a apalpar as mamas e o rabo, como uma máquina lúbrica que não se conseguisse desligar.
Misturado com a pressão das suas mãos e dos seus dedos indiscretos, eu sentia o ameno prazer da água quente sobre o corpo, o vapor envolvendo-nos como um véu e lavando-me os resquícios do orgasmo. Até ele pôr uma boa quantidade de gel de banho na palma da mão, levantar uma das minhas pernas e começar a lavar-me por baixo.
Estremeci de imediato e agarrei-me aos seus ombros largos para não cair.
Não demorou muito até sentir o caralho dele entrar em mim outra vez, desta feita na fenda frontal. Não sei como já podia estar tão duro outra vez...
Gritei a cada estocada, gemendo alto, sem medo de ser ouvida.
- Grita, puta! Grita à vontade! Adoro fazer-te gritar!
As minhas unhas cravaram-se nas costas dele como as garras duma fera enlouquecida. No auge da excitação, enquanto me vinha mais uma vez, mordi-lhe violentamente o ombro, fazendo-o grunhir como um porco.
Com isto, não tardou a encher-me novamente a cona com o seu leite gordo.
Acabámos os dois deitados na banheira, quase sem energia para nos mexermos.
Mais tarde, haveríamos de comparar as feridas, as cicatrizes (ou medalhas) do nosso "reencontro". Os dois teríamos algo a esconder, para além da traição, aos nossos respectivos parceiros.
Cortes, rasgos, assaduras, marcas de dentes... Muitas áreas vermelhas em zonas comprometedoras. Mas isso seriam contas de um futuro rosário, uma preocupação que deixaríamos para depois.
Para já, era libertador não ter que me conter. Poder expandir os meus instintos selvagens, não ter que me calar, não ter que me resumir ao papel estafado de esposa ideal e mãe dedicada.
Ali, naquele quarto de hotel muito além das nossas posses, naquela casa de banho decorada a preceito, naquela banheira em que improvisáramos o primeiro leito do dia, éramos só nós, dois seres libertos, dois dias, sem maridos, sem mulheres, sem crianças, sem tabus... Sem culpas!
Ou, pelo menos, disso tentávamos convencer-nos, enquanto os nossos corpos se fundiam, enlouqueciam, derretiam de prazer violento sob a água que escorria como uma testemunha muda e obsessiva dos nosso pecados.
E ainda só íamos na manhã do primeiro dia...
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com