04 Julio, 2025 Mentes Conectadas: Trabalhadora do sexo diagnosticada com IST
Como é que se pode lidar com uma situação destas?
Uma trabalhadora do sexo que sempre fez rastreios a infeções sexualmente transmissíveis (ISTs) regularmente, descobriu num teste uma infeção, que tratou devidamente. Apesar disso, sente o peso do estigma e quer saber como lidar com isso sem se "odiar".

“Sou trabalhadora do sexo há vários anos. Sempre me cuidei, usei proteção e fiz testes regularmente.
Mas, recentemente, num rastreio de rotina, fui diagnosticada com uma IST. Não foi grave, tratei logo, mas senti-me um lixo.
Senti vergonha, culpa, medo de contar a clientes fixos, medo de que se espalhe. Parece que todo o estigma voltou com força.
Como posso lidar com isto sem me odiar?”
A primeira coisa que quero dizer-te é simples e clara: ter uma IST não te faz suja, irresponsável, nem menos mulher. Faz de ti humana.
Sim, humana. Com um corpo vivo, com uma vida sexual ativa, com exposição real, como milhões de outras pessoas - muitas das quais nem se testam.
Tu testaste-te. Cuidaste-te. Trataste-te. Isso é responsabilidade.
E ainda assim, estás a lidar com um peso emocional que ultrapassa o corpo. Esse peso chama-se estigma. E ele, sim, é a parte mais tóxica de tudo isto.
IST: não é uma sentença, é uma condição tratável
A maioria das ISTs tem tratamento eficaz, simples e rápido.
Algumas são curadas com antibióticos. Outras são controladas com acompanhamento médico regular.
É importante repetir que ter uma IST:
- Não é um castigo moral;
- Não é “coisa de prostitutas”;
- Não é sinal de descuido.
É um risco natural de quem vive a sexualidade.
E, no teu caso, é evidente que há responsabilidade e autocuidado. Estás a fazer mais do que muitas pessoas que julgam e que andam por aí sem nunca se testarem.
O impacto emocional da notícia
Mesmo quando o corpo está bem, a cabeça pode tremer. Ser diagnosticada com uma IST mexe com muita coisa:
- Medo de contágio a outros;
- Culpa (mesmo sem razão);
- Sensação de desvalorização;
- Medo de julgamento;
- Vontade de se esconder.
Essas emoções não são fraqueza. São legítimas. Mas não podem tomar o volante da tua vida.
Como lidar com os sentimentos depois do diagnóstico
1. Fala com alguém de confiança
Guardar tudo para ti só vai aumentar o peso. Pode ser uma amiga, um terapeuta, um grupo de apoio. Não estás sozinha.
2. Lembra-te: isto é passageiro
Se a IST tem cura, trata-se. Se é crónica (como o HPV ou o herpes), gere-se com acompanhamento e responsabilidade. Nenhuma IST define o teu valor.
3. Evita a autoagressão emocional
Não repitas dentro de ti palavras que já ouviste dos outros (“sou lixo”, “mereci”, “sou impura”). Essas palavras são violência. Tu não as mereces. Reescreve o diálogo interno com verdade:
“O meu corpo ficou doente. Eu tratei-o. Eu continuo inteira.”
E os clientes? Devo contar?
Esta pergunta tem várias camadas. E depende da situação:
- Se a IST já está tratada e não é contagiosa, o risco está resolvido.
- Se ainda estás em tratamento e há risco de transmissão, então, o ideal é fazer uma pausa profissional até estares segura novamente - por ti e pelos clientes.
Sobre contar ou não a clientes fixos, se forem pessoas com quem tens confiança real, respeito mútuo e vínculo, talvez possas partilhar com cuidado e verdade.
Mas não és obrigada a contar a toda a gente - especialmente se fores alvo de julgamento ou abuso.
A prioridade é garantir segurança e tomar decisões éticas - mas protegendo também a tua saúde mental.
Como prevenir ISTs no futuro?
Já o fazes - e isso é importante sublinhar. Mas aqui ficam reforços úteis:
- Uso consistente de preservativos externos ou internos;
- Testes de rotina regulares (3 em 3 meses, idealmente);
- Uso de PrEP ou PEP, quando indicado (em casos de risco de VIH);
- Ter profissional de saúde com quem possas falar sem ser julgada.
Lembra-te: prevenir não é paranoia - é autocuidado. Mas não é garantia total.
Nenhuma proteção é 100% eficaz. E é por isso que o teste e o tratamento rápido são tão importantes quanto o preservativo.
E a vergonha? Quando passa?
A vergonha, muitas vezes, não vem da IST em si. Vem de uma vida inteira de mensagens tóxicas sobre o corpo, o prazer, o sexo e o Trabalho Sexual.
Para algumas pessoas, uma IST é só uma infeção. Para outras, é um gatilho para todas as suas inseguranças.
O caminho para sair disso é reaprender que:
- O corpo pode falhar, mas continua digno;
- Cuidar de ti é um ato de amor;
- Viver com verdade é mais forte do que viver com medo.
A vergonha começa a passar quando percebes que a tua história não é suja - é apenas real.
Uma palavra final
És uma mulher que trabalha com o corpo. Que se expõe. Que se protege. Que se testa. Que se trata. Que continua. E isso é força. Isso é dignidade.
As ISTs não definem quem és. Mas a forma como te cuidas e segues em frente, essa sim, fala da tua coragem.
A tua saúde sexual merece respeito - inclusive o teu.
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