23 mai, 2025 Mentes Conectadas: Amar mulher trans e sentir vergonha
Não há nada de errado em amar alguém trans - errado é o preconceito.
Infelizmente, vivemos numa sociedade que ainda confunde identidade de género com perversão, e sexualidade com vergonha. Mas amar é tudo menos vergonha - Mentes Conectadas: Medo da rejeição e autossabotagemé coragem.

“Estou a viver uma situação estranha. Conheci uma mulher trans numa app. Fomos falando, encontrámo-nos, e senti algo que já não sentia há muito tempo: atenção verdadeira, conexão, desejo mútuo.
Ela é linda, inteligente, doce. Mas quando contei aos meus amigos, riram-se e disseram coisas horríveis. Disseram que eu estava “maluco” e que isso “não é normal”.
Agora, estou confuso. Gosto dela, mas sinto-me envergonhado. O que é que isto diz de mim?”
O que isto diz de ti? Diz que és humano. Que tens sentimentos. Que és capaz de olhar para além da norma e ver uma pessoa inteira. Que és capaz de amar. E isso, meu caro, é tudo menos vergonha - é coragem.
Infelizmente, vivemos numa sociedade que ainda confunde identidade de género com perversão, e sexualidade com vergonha.
Mas o amor - ou o início de um carinho sincero - não pede autorização a ninguém. Ele nasce. Acontece. E quando acontece, coloca-nos frente a frente com nós próprios: com o que sentimos, com o que queremos e com o medo de não sermos aceites.
O peso do olhar dos outros
A tua dúvida não vem do que sentes - vem do que te dizem para sentires.
Tu não estás confuso por gostares dela. Estás confuso porque foste educado a acreditar que isso seria “errado”. E a verdade é que não há nada de errado em amar alguém trans. Errado está o preconceito - não o amor.
As pessoas trans são pessoas. Ponto. E mulheres trans são mulheres. Dizer que gostares de uma mulher trans é “estranho”, é como dizer que só existe uma forma certa de ser mulher - e isso é um absurdo. Há tantas formas de ser mulher como há mulheres no mundo.
O que é “normal”, afinal?
“Normal” é uma palavra traiçoeira. O que hoje é “normal” já foi considerado doentio noutros tempos: o amor entre pessoas de raças diferentes, o divórcio, o prazer feminino, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a mulher trabalhar fora de casa..
Então, o que é mesmo o “normal”? É o que a maioria aceita sem escândalo? Ou é aquilo que acontece quando vivemos com verdade e respeito?
Se o “normal” for negar sentimentos reais por medo da opinião dos outros, então, talvez seja hora de repensar o que queremos seguir: a norma ou o coração.
Aproveita para ler: Viver como pessoa trans em Portugal
A culpa envergonha, mas o amor cura
Muitos homens que se apaixonam por mulheres trans passam por este momento de vergonha, dúvida, com medo de serem julgados como “menos homens”. Mas isso é uma mentira.
Um homem que ama uma mulher trans não é menos homem - é mais humano.
A masculinidade saudável não se mede pelos olhos dos outros. Mede-se pela capacidade de estar inteiro numa relação, com verdade, com ternura e com ética.
Se ela é mulher, se tu a vês como mulher, se a vossa ligação é real — o que mais importa?
E os amigos?
Os amigos que gozam contigo não estão preocupados com o teu bem-estar. Estão apenas a projetar o desconforto deles.
Muitas vezes, são os mais inseguros que mais atacam. Porque não suportam ver alguém a viver com liberdade o que eles próprios reprimem.
Tens o direito de escolher com quem te rodeias. Se tens amigos que te diminuem, gozam contigo ou te colocam em dúvida por amares, talvez não sejam verdadeiramente teus aliados.
E se ainda assim quiseres manter esses laços, ensina-os. Fala. Explica. Ou simplesmente ignora, mas não deixes que o medo dos outros se torne censura dentro de ti.
Sobre estar com uma mulher trans
Namorar ou estar com uma mulher trans pode ser, para muitos homens, um processo de redescoberta. Nem sempre é fácil — há feridas sociais, inseguranças, olhares externos...
Mas também pode ser intenso, libertador e bonito.
Ela, como mulher trans, provavelmente já enfrentou o mundo de frente. Já foi rejeitada, julgada, invisibilizada. E mesmo assim, está ali: inteira, corajosa, a amar. Isso é poder.
O mínimo que merece é alguém que não a esconda, que não a trate como segredo, que a veja por inteiro.
O que fazer agora?
- Ouve o teu coração, mais do que os ruídos à volta.
- Conversa com ela. Diz o que sentes. Pergunta o que ela espera. Fala sobre os medos, os limites, os desejos.
- Procura informação. Lê sobre identidade de género, escuta pessoas trans, educa-te. A ignorância é o solo do preconceito.
- Sê honesto contigo. Estás preparado para caminhar ao lado dela? Estás disposto a lidar com os olhares e comentários, sem que isso a machuque?
E se não conseguires?
Se achares que não consegues lidar com tudo isto neste momento, sê transparente. Não a uses, não a iludas, não desapareças.
Respeito é também saber dizer "ainda não estou pronto" - sem culpa, mas com empatia.
Uma palavra final
Gostares de uma mulher trans não diz nada de errado sobre ti. Pelo contrário: diz que és capaz de sentir para lá da forma, para lá do rótulo, para lá do preconceito.
É raro. E é valioso. Mas não estás sozinho. Há muitos homens como tu, a passar por este processo. E há também muitas mulheres trans a desejar relações reais, seguras, inteiras.
Se esse encontro for verdadeiro, merece espaço. E merece ser vivido com orgulho - não com vergonha.
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Até à próxima - Mentes Conectadas X
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