08 septembre, 2025 Sexo e Ansiedade: O mito da mulher multitasking
Que me desculpem os crentes neste mito mas, para mim, só há uma forma válida de definir o multitasking...
Um amigo disse-me uma vez que só acreditava em mulheres multitasking quando visse uma a fazer um broche e a conduzir ao mesmo tempo! Pois é, podem-se rir, mas deem-lhe as voltas que derem, é um exercício impossível...

Tenho amigas que se orgulham de pertencer a esse clube exclusivo das pessoas supostamente eficientíssimas. E como as conheço bem, posso comprová-lo: são realmente eficientes, sobretudo na ilusão e na mentira!
Mais ainda, não lhe bastando a mentira que contam a si próprias (pois acredito que só o fazem para se auto-convencerem), não resistem à tentação de a espalhar pelos outros, como uma doutrina, e sempre com uma tal superioridade moral que ao pé delas não podemos deixar de nos sentir umas inúteis.
Quantas vezes as ouvimos dizer que foram à lua e voltaram, enquanto amassavam um pão de quilo, davam de mamar à criança, passavam a camisa do marido e pintavam as unhas dos pés!
Quando, na realidade, passaram o dia de cabeça na lua, tontas com tudo o que tinham para fazer, e acabaram com verniz no pão e fermento nas unhas, depois de passar o bebé a ferro e mamar o marido – o único que, como sempre, sai a ganhar do caos.
Pois para elas, e todos e todas que me queiram ouvir, tenho uma triste notícia:
- O multitasking não existe! Não no sentido prático do termo... É o maior bullshit de sempre, provavelmente inventado pelos homens para justificar o facto de a mulher ter de fazer tudo em casa.
Afinal, explicam eles, não é por eles serem uns preguiçosos crónicos; é porque elas têm essa competência tão especial que até seria injusto impedi-las de a usar!
Portanto, põem-nos a trabalhar enquanto nos fazem sentir especiais... Digam-me se não é o melhor esquema de sempre!
Que me desculpem os crentes neste mito mas, para mim, só há uma forma válida de definir o multitasking:
- É a arte de fazer várias coisas ao mesmo tempo, todas elas mal feitas!
Tudo o que vá além disto, é uma vergonhosa mentira.
Ora, isto tanto vale para tarefas como para emoções. E é disso, sobretudo, que trata esta crónica.
Por uma vez, foi a Jorge, a mais séria, a mais responsável, a mais lúcida, a mais composta do nosso pequeno gang, a enredar-se numa teia de onde não conseguia sair: apaixonou-se por duas gajas ao mesmo tempo.
Eu própria já estive dividida entre dois affairs (um “ele” e uma “ela”), mas era só cama, e isso ficou esclarecido desde o primeiro minuto. O caso da Jorge era mais grave, pois era do coração.
A sua desculpa não podia ser mais prosaica. Por uma vez incapaz de ocultar a sua fragilidade, confessou-nos:
- Não consigo escolher!
As razões também não eram difíceis de entender: uma era uma mulher forte, dominadora, empresária de sucesso, que representava a mulher independente e organizada, bem na vida, que não papava grupos de ninguém.
A outra era sensível, alegre, sonhadora... Representava tudo o que há de belo na vida, a filosofia, a poesia, a liberdade.
O melhor de dois mundos, portanto.
Como já disse aqui, sendo “para o que é que é”, bastaria pôr as cartas na mesa a ambas e dividir a agenda por orgasmos corporate e orgasmos poéticos. E as três seriam felizes para sempre.
Mas, quando se trata de emoções, as coisas não são tão simples. Porque assim como uma mulher não é um polvo, não tem oito braços para cumprir em simultâneo mil tarefas domésticas, ou profissionais ou whatever, também o nosso coração não é um desdobrável que se possa enfiar ao desbarato por todas as ranhuras que nos apareçam à frente.
O que à primeira vista parece uma farta refeição, em última instância, não é carne nem peixe, apenas um prato insatisfatório que não enche a barriga a ninguém e, eventualmente, acaba a despejar o ego de todos.
Ou será que enche? Não há quem assim viva, os crentes do chamado poliamor?
Será possível dividir o nosso coração sem que a entrega que dele fazemos seja injusta para os demais? Será a monogamia apenas uma consequência da moralidade que nos foi imposta durante séculos?
A verdade é que temos muito amor para dar e ele não se esgota numa só pessoa. Damo-lo aos pais, aos filhos, aos amigos, aos amantes...
E não seria tudo uma questão de entendimento entre as partes? Se a Jorge falasse com as duas e elas aceitassem a situação... Porque não?
Acho que a pergunta final é: poderemos, afinal, ser multitasking nos nossos sentimentos e emoções?
Conhecendo a Jorge como conheço, a Jorge pragmática e resoluta, é bem capaz de acabar com as duas para matar a raiz do problema.
Já eu não me via a agir tão radicalmente... Mais depressa levava os dois a para a cama, onde me lambuzaria toda com a carne e o peixe, enquanto me entregava ao único multitasking em que acredito: o que nos deixa jogar com o instinto e o desejo em simultâneo!
Sem compromisso ou mais emoções que as do sexo.
Do outro não sei, mas neste tipo de multitasking não apenas acredito: sou uma devota convicta!
E vocês, já sentiram o coração dividido? Contem-me tudo em sexo-e-ansiedade@hotmail.com
Até para a semana, com mais verdades delicadas.
Beijos da
Sara X
(Sara escreve de acordo com a antiga ortografia)