30 mai, 2025 Mentes Conectadas: É possível trabalhar no sexo com dignidade?
Sim, é possível trabalhar no sexo com dignidade.
Recebi uma mensagem de uma mulher que diz que faz Trabalho Sexual “com prazer”, mas que, às vezes, sente “vergonha”. Como lidar com estes sentimentos?

“Sou trabalhadora do sexo há alguns anos. Escolhi este caminho em liberdade. Gosto da minha autonomia, gosto de sentir que estou no comando, gosto do dinheiro que ganho.
Não estou aqui por desespero. Mas, às vezes, a vergonha aparece. Às vezes, quando olho para o espelho depois de um cliente, sinto-me suja.
Outras vezes, quando estou com amigos “de fora”, sinto que estou a mentir sobre quem sou.
Como é possível viver este trabalho com dignidade se a sociedade insiste em envergonhar-me?”
Querida mulher, que pergunta poderosa! E corajosa!
Está a tocar num ponto que muitas profissionais do sexo vivem em silêncio: a contradição entre o prazer e a culpa, entre o poder e a vergonha, entre a liberdade interior e o julgamento exterior.
A resposta curta é: sim, é possível trabalhar no sexo com dignidade.
Mas a resposta mais completa precisa de ir fundo, olhar para dentro e também à volta.
Primeiro: o teu corpo é teu
Tu dizes algo muito importante: “Escolhi este caminho”. Isso faz toda a diferença!
O Trabalho Sexual pode ser, sim, uma escolha consciente. E quando é feito com consentimento, com regras próprias e com noção clara de quem tu és, não há indignidade nenhuma nisso.
A tua sexualidade é tua. O teu corpo é teu. O teu prazer é teu. E só tu sabes o que faz sentido para ti.
A vergonha não nasce de ti: é-te imposta
A vergonha que sentes não é porque estás a fazer algo errado. É porque vivemos numa sociedade que insiste em dizer que uma mulher sexual é uma mulher suja, que o prazer é pecado, e que vender serviços sexuais é indigno.
Mas, ao mesmo tempo, esta sociedade consome pornografia, fantasia contigo e lucra com a tua imagem.
É hipocrisia. É cultura machista.
E é normal que, mesmo de forma inconsciente, esse ruído social te entre na pele. A vergonha aparece como um eco - não como verdade.
Sentir prazer e trabalhar com sexo não se excluem
Uma ideia errada, muitas vezes repetida, é que quem trabalha no sexo tem de estar desconectada do próprio prazer. Mas não é assim para todas.
Há mulheres que gostam da sedução, do jogo, do toque. Há prazer em dominar o próprio tempo, em receber carinho, em brincar com a fantasia. Há até prazer na arte do ritual.
Isso não tira nada à dignidade. Pelo contrário, mostra que o corpo não é apenas ferramenta, é também ponte para algo mais profundo.
Mas mesmo quando não há prazer - mesmo quando é só trabalho -, isso também não te diminui.
A dignidade não está no que se faz. Está em como se faz. E tu dizes que fazes com consciência. Isso é força!
O que é dignidade, afinal?
A dignidade é:
- Trabalhar com respeito pelos teus próprios limites;
- Exigir segurança, pagamento justo e consentimento;
- Não te deixares desumanizar;
- Saber parar quando o corpo ou a alma precisam;
- Ter clareza de que o teu valor não depende do que os outros pensam.
Há mulheres que trabalham no sexo com mais dignidade do que políticos, médicos ou professores que exploram, mentem ou humilham.
A dignidade não está na profissão - está na postura.
Quando a vergonha aparece: o que fazer?
- Fala com alguém de confiança
A vergonha cresce no silêncio. Quando é dita, encolhe. Pode ser uma amiga, um terapeuta, uma colega. Não guardes tudo só para ti. - Escreve o que sentes
Pega num caderno ou abre uma nota no telemóvel e escreve: “Hoje senti vergonha quando...” E depois pergunta: “Isto é meu? Ou é da sociedade?” - Cria rituais de reconexão
Um banho com calma. Um chá. Um passeio sozinha. Música que te limpe por dentro. Gesto simbólico que diga: “Voltei para mim.” - Lê histórias de outras mulheres
Há livros, blogues, perfis que mostram que não estás sozinha. Que outras já sentiram o mesmo - e sobreviveram com verdade.
E o segredo?
Sim, viver com segredos dói. Fingir que és “outra” para a família, para os amigos, para o namorado – cansa! E, às vezes, a vergonha vem disso. Do peso de esconder.
Não estou a dizer que tens de contar a todxs. Cada mulher escolhe o seu grau de exposição.
Mas se houver alguém que possa saber e aceitar-te, alguém a quem possas dizer “esta sou eu” - isso pode curar muito. Nem que seja só uma pessoa.
O mundo pode não entender. Mas tu entendes-te?
Pode ser que a sociedade nunca te aceite por completo. Pode ser que o estigma continue. Mas se tu te aceitares, se tu te respeitares, se tu souberes quem és para além do que fazes - isso já é revolução!
A vergonha é teimosa, mas a dignidade é mais teimosa ainda. E, acredita, ela está do teu lado.
Trabalhar com o corpo, com o prazer, com o toque, não é sujo. Sujo é o olhar que desrespeita. Sujo é o julgamento que cala. Sujo é o sistema que explora, e depois cospe.
Tu és mais do que o teu trabalho. Mas o teu trabalho, quando feito com verdade, também é parte de ti. E não tens de o odiar para te amares.
Estás inteira. Com dúvida, com força, com cansaço e com luz. E isso, minha querida, é dignidade a sério.
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