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04 setembro, 2025 A janela em frente - Parte 14

O nosso pacto era e devia permanecer simples: sexo puro, selvagem, cru, sem amarras!

A verdade é que nós não nos conhecíamos, eu não o conhecia... Não sabia se ele gostava de ler, se preferia o mar ou a montanha, se sonhava com algo além da vida que levava com a mulher e os filhos...

A janela em frente - Parte 14

E se essa ignorância costumava ser indiferente quando ele me enfiava os dedos na cona ou me esgarrava os canos do cu com o seu caralho enorme de veias pulsantes, agora começava a pesar como se o nosso segredo precisasse de substância para se sustentar.

Claro que havia um risco, e nós sabíamo-lo. Sentarmo-nos juntos só a conversar, a partilhar, a confidenciar assuntos pessoais, podia aumentar ainda mais as perigosas emoções que começavam a complicar tudo.

Não devia ser assim. Não podia! Não tínhamos o direito de sentir ciúmes. O nosso pacto era e devia permanecer simples: sexo puro, selvagem, cru, sem amarras! A não ser as que consensualmente usávamos nas sessões mais duras.

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Emoções eram território proibido, um caminho que podia levar à ruína, destruir demasiadas vidas, as nossas e as daqueles dependentes de nós, que deviam ser a nossa prioridade. Este novo egoísmo, que se disfarçava de paixão, era insustentável.

Ainda assim, a ideia de o ver à luz do dia na cidade, sem nos escondermos dos outros, por uma vez sem a urgência dos corpos, era tentadora como o pecado, como o fruto proibido a que não se consegue resistir. E a prova disso é que, quando me vesti de manhã para sair para o encontro, não vesti cuecas.

Vi-me ao espelho e não pude evitar desmascarar-me a mim própria: pedia-lhe para conversar, mas preparava-me como a promíscua para um encontro secreto com a luxúria... Não passava duma fraude!

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Marcámos encontro numa cafetaria no centro da cidade, um lugar movimentado onde ninguém repararia em nós, ou assim esperávamos. Cheguei primeiro e sentei-me numa mesa ao canto, com o coração a bater tão rápido que parecia que me ia saltar do peito.

Quando ele entrou, com uma camisa casual e aquele sorriso torto que me fazia derreter, senti a cona palpitar e, imediatamente, uma poça de líquido humedeceu o meu centro vital, espalhando-se pelo plástico morno da cadeira.

Uma fraude! Era isso que eu era! Até o meu corpo sabia, por mais que a minha mente me tentasse convencer do contrário, que aquele “café” não passava duma desculpa!

Eu queria conversar?! Sim. Mas apenas como preâmbulo, como preliminar, como lubrificante para o pau dele se enfiar no meu cu!

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Tentei sacudir a tesão, mas nem eu nem ele parávamos quietos nas cadeiras. Ele ainda tentou puxar outros assuntos, mas disséssemos o que disséssemos, acabávamos sempre a resvalar para o mesmo:

– Estás diferente à luz do dia – disse-me, sentado à minha frente com os olhos fixos no meu decote. –  Mais viva. Consigo ver os teus mamilos tesos.

– Pára com isso. Viste-me à luz do dia durante um fim-de-semana inteiro.

Era verdade, embora aí não tivéssemos tentado falar de mais nada, só de sexo. Agora era diferente. Mesmo com os mamilos tesos.

– Diz-me coisas de ti... – instei, tentando disfarçar o calor que me subia pelo pescoço.

Observava as linhas finas ao redor dos seus olhos, a sombra da barba por fazer, pequenos detalhes que conhecia como a palma da minha mão e que me faziam estremecer os lábios e endurecer o grelo.

Ele não se lembrava de nada para dizer, pois só pensava no mesmo que eu...

– Sou a pessoa menos interessante do mundo.

Não desenvolveu, em vez disso senti o seu pé roçar na minha perna por baixo da mesa, enviando-me choques pelo corpo inteiro.

Respondi-lhe na mesma moeda, mas indo directamente ao cerne da questão... Mesmo com a ganga das calças de permeio, conseguia sentir as veias salientes do caralho duro na planta dos pés.

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Hesitantes, tentámos falar sobre coisas triviais – o trânsito, o tempo, o sabor do café... Mas havia uma tensão no ar, uma eletricidade que tornava cada palavra um prelúdio para outra coisa, ambos sabíamos qual...

Confrontada com a estupidez daquela conversa, pensei que, talvez, afinal, tudo estivesse bem. Talvez eu não tivesse assim tanta curiosidade sobre ele. O que me interessava se ele lia, se gostava da praia ou do campo, se tinha sonhos ou ambições? Desde que apresentasse a pila dura quando eu precisasse... Que me interessava tudo o resto?!

Aparentemente, nem tínhamos nada sobre o que falar.

Igualmente, que fodesse ou não a mulher, queria lá saber, desde que não gastasse as baterias todas, que reservasse para mim o rigor daquele cacete de macho quando eu o quisesse sentir dentro de mim. No grande plano das coisas, tudo o resto era irrelevante.

Em boa verdade, nunca fantasiara em passear com ele e com os nossos filhos e filhas, como uma família feliz. Isso era exactamente o que eu tinha e nem assim me salvara de procurar outra coisa, de arranjar um amante, um completo desconhecido que se passeava alarvemente nu pela sua sala, sabendo que do outro lado da janela era visto por uma dona de casa carente e mal fodida.

Ele tinha-se aproveitado de mim... Tanto como eu me tinha aproveitado dele. E essa era a nossa relação, a nossa história, ponto!

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Chegada a esta conclusão, deixei de sentir qualquer tipo de nervosismo. Finalmente, sentia-me capaz de ter uma conversa normal.

– Porque é que quiseste isto? – perguntou-me ele a dado momento, mexendo o café com um ar sério.

– Não sei, foi um momento. Esquece.

– É que, sabes... Às vezes, penso em ti fora da cama.

– Eu também. Penso em levar-te para a cama – ri.

Percebi que ele estava a falar a sério. Demasiado a sério.

– Estou a falar a sério – confirmou. – Isso assusta-me. Porque me imagino a fazer coisas... Que nunca imaginei antes.

– O quê, a deixar a tua mulher? A vivermos juntos? A andarmos de mãos dadas no parque com as nossas cinco crianças atrás, num lindo postal familiar de amor perfeito, enquanto ao longe, com olhos assassinos, o meu marido e a tua mulher conspiram para se vingarem?

Ao pensar no meu quadro, deve ter visto como era absurdo.

– Tens razão, esquece. Não sei o que estou para aqui a dizer.

– Não te preocupes. Tivemos um momento. Eu também. Já passou. Somos o que somos. Só isso.

– Somos o que somos –  repetiu ele.

Assim libertados, rapidamente saltámos para temas mais condizentes connosco e com a nossa realidade.

– Ainda sinto o teu cu a apertar-me a cabeça da piça – começou ele, lembrando a maratona do fim-de-semana e sem sequer tentar baixar a voz.

Havia várias pessoas nas mesas próximas a nós, mas não queríamos saber.

– E eu ainda sinto o teu caralho a rasgar-me toda – respondi, num tom similar ao dele, olhando-o directamente nos olhos, desafiando-o. – E o sabor da tua esporra no céu da minha boca...

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 O café arrefecia na medida inversa em que os respectivos sexos começavam a entrar em ebulição, e a nossa conversa se tornava um jogo de provocações - cada frase mais explícita, mais perigosa...

– Quero foder-te agora! – disse ele, sem rodeios, os olhos a raiar uma fome que espelhava a minha.

– Fodes-me agora, aqui mesmo, em cima da mesa? – provoquei.

– Sim! E depois vamos juntos para a cadeia e passamos os dias a foder até nos saltarem os olhos das órbitas!

Ri-me às gargalhadas, indiferente ao que pudessem dizer ou pensar. Nesse momento, senti-me totalmente aliviada, como se tivesse expulsado o demónio que me consumia – ou definitivamente o deixasse entrar!

Agora sim, éramos os canalhas tarados que devíamos ser! Que se fodesse o mundo, que se fodesse a culpa, que se fodessem as emoções!

Bem podia abrir as pernas e dar-lhe a cona em cima da mesa, ali à frente de toda a gente. Aliás, até podiam participar, porque não?! Não era uma vaca promíscua e traidora? E ele, não era um filho da puta que punha os cornos à mulher?!

Era isso que nós éramos, era a nossa natureza, o filme da nossa relação: éramos uns devassos e não tínhamos por que escondê-lo, sobretudo de nós mesmos.

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– Ok, para a próxima vou cobrar essa promessa.

Levantei-me ainda a rir.

– Para já, só quero que me enrabes na casa de banho, e te esporres dentro do meu cu. Quero sentir o teu leite a escorrer-me pelas pernas!

Disse-o e comecei a andar. Ele levantou-se e veio atrás de mim...

(continua...)

A janela em frente - Parte 13

A janela em frente - Parte 1

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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