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26 março, 2021 Covid-19 vs Cancro

Neste ano, muitos cancros ficaram por diagnosticar... Infelizmente, eu fui uma dessas pessoas!

A pandemia tem sido um monstro na vida de todos nós! Mais de um ano que vivemos no medo, na ansiedade. Muitas pessoas ao longo deste ano adiaram consultas médicas, rastreios e até mesmo emergências, o que levou a um atraso nos diagnósticos, uma evolução do estado da doença.

Covid-19  vs Cancro

Os hospitais perceberam isso e recentemente lançaram a campanha: O cancro não espera!

Os hospitais privados criaram mesmo programas específicos com linhas de atendimento telefónico, vídeo-chamada, diagnósticos em 48 horas e encaminhamento para tratamento em duas semanas, no fundo correr atrás do prejuízo.

Neste ano, foram muitos os casos de cancro que ficaram por diagnosticar porque as pessoas tinham medo de ir aos médicos, não achavam que poderiam ter cancro e quando finalmente foram... Já era tarde demais! Infelizmente eu fui uma dessas pessoas!

Em finais de Janeiro, do nada comecei a sentir uma dor na garganta, uma sensação de asfixia. Pensei que fosse uma simples amigdalite e comecei a tomar chá de gengibre e as habituais pastilhas para a garganta. Rapidamente percebi que não aliviava, nem no momento em que tomava, o que era estranho.

Todas as semanas, eu tenho terapia com a psicóloga, via Zoom, e ao fim de duas semanas com o sufoco na garganta, contei-lhe o que andava a sentir, ao que ela me diz que é um sintoma frequente da ansiedade, acontece quando temos algo que ficou por dizer, guardamos para nós e a ansiedade provoca essa sensação de aperto na garganta.
Eu acreditei - pareceu-me lógico!

Recomendou-me mindfulness e ainda fez algumas sessões de meditação comigo.

Os dias iam passando e a sensação na garganta continuava.

Já tinham passado quase 5 semana quando, numa noite de sábado, comecei mesmo a sentir o ar a falhar-me. Achei mesmo que ia morrer e por estúpido que pareça, escrevi uma carta de despedida ao meu filho - coisa que nunca tinha feita na vida em nenhuma situação.

Passei a noite com o aparelho de medir o oxigénio no sangue e o medidor de tensão que não acusaram resultados que me fizessem correr para o hospital.

No domingo, ainda estava viva e a sentir-me melhor, mas achei que já estava no limite e marquei uma vídeo consulta para o mesmo dia.

A médica recomendou-me tomar Victan (um calmante muito usado em SOS) - se fosse ansiedade passaria em poucos dias. Mas de qualquer forma, achou cinco semanas muito e prescreveu-me uma ecografia à tiróide.

Podem-me chamar burra, mas até este dia, eu não fazia a mínima ideia do que era a merda da tiróide! Achava que era uma desculpa que os gordos davam para serem gordos. Sim, eu sei, sou mesmo burra!

Na quinta feira seguinte, dia 25 de Fevereiro, vou fazer a minha ecografia. Ia contrariada porque estava num centro clínico com muita gente, a correr o risco de apanhar Covid. Era um exame privado, 50 euros, e na minha cabeça, não ia acusar nada porque os sintomas que eu tinha deviam ser todos psicológicos.

Chega a minha vez, deito-me na marquesa, digo ao médico que se o resultado der alguma coisa que quero levá-lo logo comigo. O médico concordou e começa o exame. Após observar, questiona-me se pode dizer o que está a ver, eu respondo com um sim a sorrir - as minhas palavras foram precisamente estas:

- Não me diga que estou com um cancro na garganta!??

- Tem três tumores, dois benignos, mas o terceiro não me parece benigno. Mas tem de fazer mais exames com urgência.

O meu mundo caiu!

A eco acusou o tal tumor com 33 mm - 3 dias depois fiz o TAC e já estava com 42 mm. Os médicos aqui do hospital passaram-se com a evolução e mandaram-me de urgência para Coimbra, para fazer a biópsia, com um relatório a indicar que achavam ser um Anaplástico que é de todos os tipos de tumor da tiróide, o mais raro e mortal. Basicamente, deram-me uma certidão de óbito por escrito na minha mão em envelope aberto.

Fiz a viagem de 3 horas para Coimbra em lágrimas, achei mesmo que não ia voltar. Cheguei ao hospital e já estava uma equipa de oncologia à minha espera. Achei que me iam operar logo, mas nada disso - com a covid temos de ter calma! Fiz uma data de exames e a biopsia e mandaram-me para casa.

Retomei a minha vida normal - uma semana à espera do resultado final dos exames e vem o diagnóstico por telefone numa sexta-feira: tumor maligno. Na segunda é pra voltar a Coimbra e saber como vou tratar.

Não é culpa do Covid eu ter um cancro, mas se não fosse o confinamento e tantos casos, eu teria ido ao hospital mais cedo, teria os exames mais rapidamente e talvez a operação ou o resto.
Os nossos recursos médicos estão muito encaminhados para o Covid e infelizmente, o cancro não espera!

Quem lê os meus textos não acha que a minha vida dava um filme?

Bom fim de semana!

TugaEris

TugaEris

TugaEris
 
Mulher fascinada pelo mundo do sexo e tudo o que rodeia procurando dar a conhecê-lo através da escrita. 
 

 

 

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