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05 junho, 2015 Filme sobre trabalhadoras do sexo foi proibido

O realizador e as actrizes de "Much Loved" estão a ser alvo de ameaças de morte.

"Much Loved" mostra ao mundo aquilo que o Reino de Marrocos não quer que se veja: a vida das trabalhadoras do sexo do país. E, por isso, o filme de Nabil Ayouch foi proibido. A par disso, há insultos e ameaças de morte para o realizador e para as actrizes envolvidas.

Aplaudido em Cannes e proibido em Marrocos

"Much Loved", do realizador franco-marroquino Nabil Ayouch, foi aclamado pela crítica no Festival de Cannes, quando aí foi exibido, mas em Marrocos a obra só motiva críticas, insultos e ameaças de morte. Isto pela matéria sensível que aborda: o dia-a-dia das trabalhadoras do sexo de Marraqueche.

A sua exibição em Marrocos está proibida, depois de uma decisão anunciada em Maio pelo Ministério da Comunicação do país. Este organismo entende que o filme suscita "um atentado grave aos valores morais e à mulher marroquina e um atentado flagrante à imagem do Reino".

Esta reacção entende-se porque, embora seja ficção, "Much Loved" baseia-se na realidade de muitas trabalhadoras do sexo de Marrocos que são exploradas. E tudo isso à vista das autoridades que fecham os olhos, permitindo situações nada humanitárias, nem dignificantes para a condição humana, num cenário onde os direitos das trabalhadoras do sexo são inexistentes.

Noha, Randa, Soukaina e Hlima são as protagonistas que acompanhamos no filme, no seu quotidiano de miséria e de humilhação e dor.

Loubna Abidar é a principal vítima dos insultos

A principal visada pelas críticas e ameaças de morte é Loubna Abidar, a única actriz profissional do filme, mas também Nabil Ayouch tem sido muito contestado.

LoubnaAbidarMuchLoved

Há petições na Internet e muitos protestos nas redes sociais contra os envolvidos no filme, por parte das franjas mais conservadoras de Marrocos que contestam, particularmente, as cenas de nudez, as que incluem linguagem corriqueira menos própria e aquelas onde há álcool.

Em contrapartida, a co-produção franco-marroquina recebeu uma mensagem de apoio de dezenas de cineastas e produtores do cinema francês, incluindo os irmãos Dardenne, Arnaud Desplechin, Costa-Gavras, Riad Sattouf, Pascale Ferran e Michel Hazanavicius que sublinham o "obscurantismo" e os "violentos atentados à liberdade" perpetrados com a proibição do filme.

"Este filme sobre o meio da prostituição em Marraqueche mostra uma realidade que as autoridades marroquinas recusam olhar de frente. Mas, esta realidade negada não se modificará em nada por este acto de censura deliberada."

"Os cavalos de Deus"

Mas esta não é a primeira vez que um filme de Nabil Ayouch é alvo de críticas e motivo de polémica em Marrocos. Em 2012, o realizador deu que falar por causa de "Os cavalos de Deus", um filme onde condena os cinco atentados suicidas que ocorreram em Casablanca, em 2003, e onde critica o Islamismo radical em geral.

Premiado no Festival de Cannes 2012, "Os cavalos de Deus" foi também muito contestado em Marrocos, um país com uma imagem internacional de abertura, mas que continua a ser marcado por uma sociedade muito conservadora e assente nos princípios da religião muçulmana.

"Much Loved" vai estrear em França a 16 de Setembro deste ano e não se perspectiva que chegue a Portugal, pelo menos aos cinemas de grande distribuição.

Mas, se quiser e se tiver particular talento para perceber o árabe, poderá espreitar o filme completo de seguida...

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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