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27 dezembro, 2019 O livro do ano que está a escandalizar França

Emma Becker conta em "La Maison" como ser trabalhadora do sexo durante dois anos em dois bordéis de Berlim.

A escritora francesa Emma Becker está a dar que falar com o seu livro "La Maison", onde fala de como foi trabalhadora do sexo em Berlim, na Alemanha. Ela relata as vivências que teve ao longo de dois anos, contando como foi agredida, como teve orgasmos com vários clientes, entre outras experiências.

O livro do ano que está a escandalizar França

Já foi considerado por várias publicações especializadas como o livro do ano em França! E não é à toa! "La Maison" está a chocar o país onde o trabalho sexual é ilegal.

Nesta obra literária, a escritora Emma Becker, de 31 anos, conta como foi trabalhadora do sexo durante dois anos em dois bordéis de Berlim, um que era um inferno e o outro que era um agradável local de trabalho, segundo relata.

Entre as suas revelações, ela diz que teve orgasmos com vários clientes, que foi agredida e que a sua relação com os homens é agora "muito melhor, muito mais saudável", depois de ter vivido a experiência de ser trabalhadora do sexo.

A escritora que também lançou "Monsieur", livro sobre a história sexual entre uma jovem de 22 anos (a idade que ela tinha quando lançou o livro) e um homem casado de 46 anos, e "Alice" que também versa o tema do sexo, diz que sempre teve uma "fascinação" pelo universo do trabalho sexual, fruto das inúmeras obras de grandes autores franceses que existem e que falam de bordéis e de profissionais do sexo.

Há quem questione a veracidade da obra, alegando que ela pode ter inventado tudo, mas numa entrevista ao El País ela assegura que é tudo verdade e relata como começou essa aventura em Berlim...

"Um dia andava pela rua e vi um cartaz que dizia “Clube-Bordel”. É que na Alemanha, os bordéis são legalizados e é um negócio que vai de vento em popa. De modo que entrei. Aquilo plantou na minha cabeça a semente de fazê-lo um dia e de escrever sobre isso. Contar quais são as regras de um local como esse, como vivem as raparigas que lá trabalham, tudo isso."

"Estava a acabar o meu segundo romance e já estava à procura de assunto para o terceiro, mas não encontrava nada. E quando vi aquele bordel disse a mim mesma: “pronto, aí pode estar um livro fantástico”. Mas também disse a mim mesma: “Enquanto o escreves, podes ganhar dinheiro”. Tinha 25 anos, era solteira, não tinha filhos, era livre e tinha tempo... E, bom, tenho que dizer que nunca fui uma pessoa muito trabalhadora."

"Sempre acreditei que escrevia sobre os homens. Antes de me aperceber que escrevo apenas sobre as mulheres. Sobre o facto de ser uma. Escrever sobre as putas que são pagas para serem mulheres, que são verdadeiramente mulheres, que são apenas isso; escrever sobre a nudez absoluta desta condição é como examinar o meu sexo a um microscópio. E vivo o mesmo fascínio que um assistente de laboratório a observar células essenciais a todas as formas de vida."

"Dormir com três ou quatro tipos por dia é um desporto, já não é sexo. E no final do dia, sentes um cansaço semelhante ao de qualquer trabalho muito físico e só tens vontade de chegar a casa, ver TV e fumar um cigarro. Mas para minha surpresa, quando deixei de ser puta comecei a sentir desejo por todos estes homens dos quais gostava e que sabia que não iam foder comigo por dinheiro, e sim por outras coisas. E foi maravilhoso. Reaprendi a desejar. No começo, trabalhar como prostituta obriga-te a ser muito mais feminista. Mas também me fez sentir um pouco mais de ternura pelos homens, porque nós mulheres somos muito fortes. Mas acima de tudo, uma coisa mudou: a minha capacidade de desejo e de prazer e o meu eu sexual sofreram uma grande transformação. Evoluíram."

"Agora faço amor muito melhor do que antes, não quero dizer de um ponto de vista técnico, e sim que penso muito mais e melhor em mim mesma, no meu corpo e no meu próprio prazer. Sempre senti fraqueza pelos homens, mas antes costumava ficar presa numa contemplação um pouco ensimesmada e um pouco tola do homem com quem estava na cama. Podia fazer sexo de forma totalmente satisfatória, mas sem gozar nenhuma vez, porque o que me obcecava era o prazer dele."

"Descobri exercendo este trabalho coisas que não esperava: por exemplo, perceber que se pode dar prazer a um homem que te era indiferente. A complexidade sexual da mulher é muito maior do que a do homem. Sendo prostituta aprendi a ter uma empatia maior com os homens, quase uma ternura, pela sua incapacidade, muitas vezes, de saber se estamos a gozar ou se estamos a fingir. Quando fingimos não costuma ser para chatear, mas sim para agradar."

"Cheguei à conclusão de que os homens não vão para satisfazer alguma fantasia oculta de carácter sexual, e sim por algo tão convencional como tocar uma mulher que não é a sua. No final de contas, no bordel ocorria um tipo de sexo, como dizer, bem simples, bem conjugal. Alguns vinham para serem amarrados, presos por algemas e coisas assim, mas eram a minoria. Há muitos homens que vão a um bordel simplesmente para falar com as prostitutas. Fodem rápido, dedicam 20 minutos ao sexo e depois outros 40 para conversar."

"Os homens que pagam por sexo têm medo das mulheres. Pagar não lhes dá nenhum poder sobre nós. Pelo contrário, coloca-os numa situação de inferioridade. Ele é o cliente, e a prostituta coloca todos os clientes na mesma cesta e é, portanto, superior a eles."

"O meu livro não abarca a totalidade do mundo da prostituição. Mas posso dizer que muitas mulheres escolhem, sem problemas, esta profissão pelo que traz de conforto económico e pela possibilidade que proporciona a algumas delas de se ocuparem durante mais tempo e mais intensamente dos seus filhos. Muito mais e melhor do que se trabalhassem numa loja ou num supermercado. E a prostituta é uma trabalhadora como qualquer outra mulher, ainda que isso quase nunca seja reconhecido. É cínico que neguem às mulheres a liberdade de escolher esta profissão e dizer: "Eu faço-o porque vou ganhar mais dinheiro e viverei melhor". Ninguém ficaria chocado ao ouvir um homem dizer isto."

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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