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11 setembro, 2016 “NÃO QUERO!”

Perceber a mente de um violador é como tentar ver cor no escuro.

Eu não sou formado em psicologia. Aliás, nem possuo a dita formação superior em alguma área de ciência comportamental ou sociológica. logo, todas as minhas suposições não passam mesmo disso: uma tentativa de perceber a psique de um homem que viola. 

“NÃO QUERO!”

A minha única credencial neste artigo é o facto de ser homem e, também eu, gostar de ter sexo com uma mulher, gostar de ter sexo com mais que uma mulher e, até mesmo, gostar de ter sexo com mulheres que provavelmente não querem ter sexo comigo. A fome de sexo masculina é um poço sem fundo que irremediavelmente tentamos encher, através de uma sucessão de fodas mais ou menos bem dadas durante o decorrer de uma vida. Podemos dizer que a vida é uma sucessão de conas. Os nossos primeiros contactos sexuais são um exemplo perfeito da guerra interna que travamos entre a razão e a tesão. Queremos foder, não sabemos como. Algo assim, certo? Um adolescente entupido de hormonas a comandar a cabeça, arranja uma namorada também ela de tenra idade e os próximos meses serão dedicados a tentar entrar naquelas cuecas de fio dental. Beijos, amassos e toques.

“Não quero”. “Não estou preparada”.

Como não? Porque não. Porque duas cabeças não pensam igual e há uma delas que não está no meio dos ombros a pensar por ambas. A primeira recusa de sexo que levamos deixa-nos baralhados e frustrados. Como não? Ela deu os sinais todos, gemeu ao teu toque, esperneou quando lhe passaste os dedos entre as pernas e agora, mesmo na melhor altura, “corta-se”? Bufas, sentas-te na cama e ficas em silêncio. Resignado. Ela pede desculpa. Não devia, mas são coisas da idade. Cresces. Tornas-te um jovem adulto com pêlo na venta. Fodes mais, fodes esta e fodes aquela. Já levaste algumas negas parecidas, mas habituaste-te a lidar bem com elas e até mesmo a dar a volta por cima da coisa, fazendo com que a gaja implorasse por ser fodida no dia a seguir. Sentir o desejo de uma mulher é das coisas que mais consegue tirar um homem fora de si. Ouvir aquelas palavras de ordem junto ao ouvido ou no chat de rede social é a primeira peça de roupa a sair. 

Para mim e para (julgo eu) a maioria da população, sexo sem desejo não faz sentido. Poderemos discutir se recorrer a uma profissional é contornar esta questão do desejo e poderemos discutir esse assunto outro dia, mas aqui a questão hoje é outra: sexo contra a vontade de alguém. Sem desejo. Quando o “não quero” é apenas uma sugestão e não uma ordem para os ouvidos de um homem. Quando aquele miúdo adolescente e inocente agiu por instinto da forma correcta e hoje em dia se esqueceu do passado. Forçar alguém a ter sexo. Forçar uma mulher a despir-se. A meter o nosso caralho na boca em lágrimas. A abrir as pernas em vergonha com o corpo pesado e violento de um homem por cima a forçar a penetração enquanto evita a todo o custo olhá-lo nos olhos.

“QUE TESÃO DO CARALHO, MEUS HERÓIS”

Uma mulher deve ficar molhada entre as pernas ao som da minha voz e não molhada no rosto ao som da mesma. Uma mulher deve pedir para que lhe batas e não para que pares de lhe bater. Os gritos devem ser de prazer e não de dor. As marcas nas tuas costas das unhadas devem ser por ela estar a vir-se e não para que pares de a marcar tu na alma e no corpo para o resto de uma vida. Tu não estás apenas a violar uma mulher, estás a arruinar um ser humano, uma familia e todas as vidas que estão ligadas a essa. “Ah, ela no fundo até queria”. Pois queria, sim senhor. Qualquer mulher quer ser bem fodida, por quem sabe foder. Tu não sabes foder. Tu és um frustrado que tens como única arma de engate a força bruta. Nem coragem tens para te despir todo em frente a uma mulher, pois tens medo que ela se ria dessa fraca figura que transborda problemas de auto-estima e segurança no olhar. Atacas mães e filhas de alguém à força para foder, enquanto nós somos atacados por filhas e mães para nos levarem para a cama. Nem para punheta vales, pois já nem fantasiares consegues, pois não? Porque todas as imagens que te vêm à cabeça são das várias mulheres a quem decidiste estragar por completo a vida, destruindo-lhes corpo e alma. A troco do quê? Meteres esse caralho semi-teso numa cona seca a tremer de terror? Que herói do caralho!

Nunca te irei perceber, violador. Que prazer é que tiras disto? Como é que se pode foder assim? Como? Como é que manténs esse caralho ridiculo de pé, sabendo que ela não o quer? Não percebi. Nunca irei perceber. Nem preciso. Quando estiveres agarrado por dois ou três homens no Linhó e de cabeça entalada nas grades e a provares do teu próprio veneno, lembra-te de todas elas. Dos gritos. Do que disseram. Do que te pediram naquele momento.

Não te preocupes…. “tu até queres isso, não é?”

Que todas as vitimas de violência sexual nunca permaneçam caladas. Que todos nós nunca sejamos cúmplices.

Linha de Apoio à Vítima APAV: 116 006 (9:00 ás 19:00 nos dias úteis).

Bom domingo a todos.

Noé

Noé

Noé

Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.

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