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26 junho, 2016 Queridos vizinhos…

A quem possa interessar. Podem imprimir e colar no hall do prédio.

Não obstante eu ser o primeiro defensor das regras de conduta e salutar convivência entre condóminos, chegou-me aos olhos e ouvidos os vossos olhares e cochichos.

Queridos vizinhos…

Não sendo eu particularmente fã convicto da saiolicie citadina contemporânea que tanto critica as terras do interior e depois responde com atitudes e comportamentos iguais ou piores, custa-me imenso na alma e coração ver-vos e ouvir-vos por entre frestas de janelas com cortinados semi-corridos e filas de supermercado, a mencionarem a vida privada da minha pessoa. Não me recordo bem da última vez que falei cuscovilheiramente da vida de terceiros, mas deve ter sido por volta do 9º ano quando constou que a Rafaela do 9ºC tinha sido apanhada a fazer um broche por detrás do pavilhão F (F de Foder e só reforço isso porque sei que a palavra incomoda).

Na perspectiva de um pré-adolescente que batia segóvias há menos de 15 dias, aquilo era um acontecimento digno de ser mencionado entre segredinhos e trocas de bilhetinhos na sala de aula. No fundo, todos apontávamos o dedo, mas queríamos que nos fizessem o mesmo que a Rafaela fez ao sortudo. E não interessava quem o gajo era, porque a escola inteira decidiu focar-se apenas na rapariga. Os tempos mudam e as vontades também. Algumas apenas, porque eu ainda hoje em dia tenho vontade que me façam o que a Rafaela fez. Não pela Rafaela que hoje em dia já deve ser mãe e em vez de mamar, dá de ela de mamar.

Passados estes anos todos, vejo que há um tipo de mentalidade que ainda perdura daquele tempo. Uma réstia da sala de aula que teima em permanecer viva na cabecinha desocupada de gente que lhe fez falta ter na boca o que a Rafaela teve um dia, porque pode ser que assim tenham algo para se entreter (e não poderem falar tanto). Em vez de uma sala de aula temos um prédio e em vez das carteiras temos as nossas fracções. Saímos do pátio do recreio e fizemos das mercearias, bancos de jardim e cafés o tribunal popular em que se julgam valores, comportamentos e, em última instância, a vida alheia que não nos diz respeito. Eu não. E tal como eu, há muitos que vão a estes sítios apenas às compras, para apanhar sombra e para beber café (rapidamente para não ouvir a conversa de merda).

Quem eu fodo. Quantas vezes fodo. Quem eu levo lá para casa. Um dia uma. Outro dia outra. Eu realmente às vezes sinto-me bastante importante, sabiam? Quem diria que a vida quotidiana de um simples homem adulto que não passa cartão ao que está à volta dele fosse assim tão interessante para os outros.

As pessoas fazem barulho a foder. Ou pelo menos deveriam. Se não o fazem, algo está mal e normalmente não é culpa dela. É normal que num prédio dos subúrbios onde o metro quadrado é mais barato que uma dúzia de castanhas assadas, as paredes não seja reforçadas com titânio insonorizado. E sabem como é que eu sei isto? Porque oiço as discussões de casais. Os pratos a partir. Os filhos a chorar. Os empurrões. O choro. Fico triste, mas não posso fazer nada. Nunca me apercebi que tenha havido alguma situação mais grave passível de ser denunciada, no entanto, parece que eu foder a alto e bom som com estrados a partir, cama a mexer e elas saírem com marcas nas coxas das palmadas é que está errado.

Peço desculpa, caros vizinhos. Vocês é que têm razão.

Boas discussões hoje à noite. E da próxima vez que mandarem a PSP aqui a casa, pode ser que seja outra vez uma mulher policia que me fodeu com os olhos depois de eu ter aberto a porta em tronco nu todo suado junto da minha bela (e exausta) companhia.

Quem sabe se não vira threesome? Nos filmes é assim que acontece.

Fodam e deixem foder.

Até quarta e boas fodas.

Noé

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Noé

Noé

Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.

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