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28 January, 2021 O último a saber

Não sabia o que me estava a escapar, mas aquele enigma só aumentou a minha resolução…

Se fui o último a saber? Acho que sim, é o costume. Mas não precisei que ninguém me dissesse. Foram as pequenas coisas. A soma dos sinais.

O último a saber

Começa com um pequeno nada, um gesto fugaz, que mais parece uma distracção. Quando vira a cara se a tentas beijar na boca. Quando te chegas a ela à noite e ela foge para a outra ponta da cama. Quando, a meio do dia, não te atende o telefone durante horas. Quando, naqueles momentos serenos de gratidão, a olhas com o coração aos saltos, cheio de amor, e ela esconde o olhar, incapaz de te encarar.

As suspeitas passam a provas quando aos gestos se unem os factos. Por exemplo, os lençóis novos na cama todos os dias.

A cena desenrolava-se na minha cabeça como se os personagens estivessem ali.

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Era óbvio que o ninho da traição era aquele mesmo, a cama onde dormíamos juntos há 20 anos, na casa que eu trabalhava duramente para pagar, de forma que a minha mulher e os meus filhos tivessem todo o conforto que necessitavam. Fiz sempre tudo para que não lhes faltasse nada.  

Saí à minha hora habitual mas em vez de ir para o escritório, estacionei um quarteirão à frente e esperei dentro do carro. Não fazia a mínima ideia a que horas o “visitante” chegaria, ou sequer que lá fosse nesse dia. Mas estava decidido a esperar o tempo que fosse preciso.

Esperei o dia inteiro e ninguém apareceu. Para além dos meus filhos e dos amigos da faculdade, que vivem num corrupio permanente, ninguém mais saiu ou entrou na casa. A minha mulher, que me avisara que poderia ir às compras, acabou por não o fazer.

Podem, portanto, imaginar a minha surpresa quando, primeiro, me recebeu com as evasivas próprias de quem tem culpas no cartório e, segundo, subi ao quarto para mudar de roupa e constatei que os lençóis da cama tinham sido novamente mudados!

Mas não era tudo. Havia uma garrafa de whisky no quarto, sem tampa e praticamente vazia. A minha mulher não estava bêbada quando entrei e, para além disso, detestava bebidas alcoólicas. Não sabia o que me estava a escapar, mas aquele enigma só aumentou a minha resolução…

Praticamente não dormi nessa noite, às voltas na cama, angustiado pela traição e excitado pelos planos que ia traçando.

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De manhã, voltei a sair à minha hora normal e estacionei novamente na curva, de forma a ver perfeitamente a porta de casa. Esperei que os putos saíssem para a escola e, desta vez, voltei discretamente a casa. A minha mulher ainda dormia, mas não por muito tempo, por isso pus o meu plano em marcha e fechei-me na casa de banho do primeiro andar, que ficava mesmo em frente ao nosso quarto. Nunca ninguém ia ali e, pelo buraco da fechadura, via perfeitamente a porta do quarto. Instalei-me o melhor que pude e iniciei a minha espera.

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Não sei quantas horas passaram, mas com o cansaço acumulado acabei por adormecer. Fui acordado pela voz da minha mulher, que emitia pequenos gritos que pareciam de súplica mas não deixavam dúvidas: eram gemidos sexuais. Apanhara-a, portanto, em flagrante!

Saltei como um tigre do meu esconderijo e abri a porta, preparado para encarar como júri, juiz e carrasco, os dois prevaricadores pecaminosos que derrubavam com a sua luxúria os fundamentos sagrados do matrimónio. Mais do que a traição carnal, magoava-me a traição da confiança. Afinal, ela não era uma qualquer, era a mãe dos meus filhos, companheira duma vida…

No entanto, a projecção das minhas expectativas esbarrou numa realidade muito mais expressionista do que estava preparado para aceitar. Seria preciso, talvez, um desenho para ilustrar o grau de depravação, de perversidade, do que via com os meus olhos ainda marejados de dúvida. A cena desenrolava-se assim: a minha mulher, de quatro, em cima da cama; por trás dela, os meus dois filhos, de tal forma posicionados que atacavam, com uma sincronia perfeita, as traseiras da mãe. O meu mais velho penetrava-a na vagina com um pénis imenso, quase desproporcionado. O mais novo estava a enrabar a mãe.

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Mas o quadro não se resumia a uma indiscrição familiar. Em cima da cama, de pé, dois marmanjos da idade dos meus filhos, pelos 20 anos, tinham os caralhos enfiados na boca da minha mulher. Passado um bocado, estes foram substituídos por outros, pois eram vários a rodear a cama, todos nus, a esgalhar o pau, à espera de vez para entrar na brincadeira. Falavam alto de mais, riam às gargalhadas e iam passando garrafas whisky, vodka, gin… Era uma cena de Dante!

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E ainda assim, não via qualquer sofrimento, ou pudor, nas reacções da suposta vítima. Não, a minha casta esposa recebia aquele mar de narças como uma sereia no cio, revirando os olhos e gemendo, não como quem pede clemência, mas como quem clama por mais!

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Estavam todos tão absortos que demoraram um bom bocado a aperceber-se da minha presença. Enquanto isso deram mil e uma voltas àquele corpo voluptuoso, aberto, que dispunham a bel prazer.

A minha mulher dava a cona, o cu, a boca, as mamas, as mãos, até as narinas daria se contribuísse para a ascensão daquele prazer animal que a consumia havia já 3 meses, altura em que, vim depois a saber, tinham começado com aquele passatempo.

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Quando me viram, alguns dos rapazes, atrapalhados, começaram à procura das roupas para se escapulirem. Foi uma ordem do meu filho mais velho que os fez parar.

O puto desencaixou-se da mãe e, com o ar mais natural do mundo, foi ao bolso das calças, de onde tirou o telemóvel. Procurou rapidamente qualquer coisa no ecrã e atirou-mo:

– Vê isto.

Era um pequeno vídeo, filmado por uma porta entreaberta, em que se via um casal a ter sexo em cima duma cama.

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Os protagonistas do drama eram, nem mais nem menos, que a minha mulher e o primo dela, chegados desde a infância. O plateau era aquele mesmo quarto, aquela mesma cama, onde os meus dois filhos tinham sido concebidos com a mecânica e os sopros do amor. Dois filhos que agora amotinavam a hierarquia filial e tomavam nas mãos o controlo da situação, como se fossem eles os pais e nós a prole inconsciente.

Foi o meu mais novo a puxar-me do transe de incredulidade em que me refugiara:

– O que achas? Ganda puta, não? Achámos que devia ser castigada…

Ela olhou-me, por fim, e disse:

– Desculpa, querido. Eles obrigaram-me! Chantagearam-me!

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Parecia que ia chorar, mas o prazer era demasiado grande e em vez disso voltou aos gemidos.

– Não dizes nada, papá? – perguntou-me o mais velho, já de novo enfiado na cona da mãe dele. – Não achas bem o que estamos a fazer? A gaja estava-te a pôr os cornos…

Eu não tinha nada para dizer. Na verdade, para mim estava tudo dito.

– Como quiserem. Mas amanhã leva-a para o teu quarto.

 

 

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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