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13 Febrero, 2020 A ministra do pinanço

E assim reza a lenda da “ministra” que aos anos nos vem fodendo a vida...

A “ministra” veste uma farpela de senhora de bem, para não ser reconhecida como a vaca que é, e vai ao restaurante fazer o que a maior parte dos portugueses não faz há uma porrada de anos: comer como deve ser!

A ministra do pinanço

Enquanto espera pelo garçon, vai convenientemente matutando na sua vida, como se ela interessasse a alguém... Mas ainda bem que o faz, pois doutro modo não poderíamos “fotografar” os seus pensamentos e montar esta cadela, perdão, “novela”…

A tragédia

O drama

O horror (sobretudo o horror!)

Eis um resumo dos seus pensamentos autobiográficos, enquanto espera pelo consomé:

– Sei que me consideram uma bruxa. Isso até me dá pica. Mas sinto que se conhecessem toda a verdade sobre a minha vida, não me julgariam tão depressa...

A minha infância foi igual a tantas outras. Sempre precoce, disse a minha primeira palavra aos 14 anos: "Foda-se!", e por isso expulsaram-me da escola primária.

Desde muito cedo fui uma jovem sedutora. Deus abençoou-me com uma beleza sem par, precocemente madura, e este aspecto seria marcante para o rumo da minha vida. Então assemelhava-me a uma lolita de 48 anos, que saltitava como uma puta e fumava SG Ventil. Era irresistível!

No recreio da escola, os rapazes perseguiam-me constantemente. Os apelos eram tão lisonjeiros que resolvi aceder aos seus desejos e entreguei a minha virgindade. Mas a revelação não foi o que eu esperava.

Experimentei com um e não gostei. Experimentei com vários e o resultado foi o mesmo. Fiz anal, oral, racial e não senti nada. Chegava a casa com a cona desfeita e o cu rasgado mas sem ter conhecido o prazer. Comecei a duvidar da minha sexualidade. Estava neste rumo sem rumo, quando o conheci…

Chamava-se Rex, era castanho e branco e tinha os olhos mais meigos que já vi. A sua língua era milagrosa. Mas durou pouco, é a minha sina.

Enquanto me ensinava o amor a quatro patas, o Rex morreu atropelado por um sacripantas que não pagava os impostos há 4 anos. Atropelamento e fuga ao fisco, imperdoável!

Precisei de muito para voltar à realidade. Tentei a vida artística, mas nada nos palcos me seduzia. O convento desiludiu-me, pois o fungagá era imenso mas faltava a bicharada. O legado do Rex permanecia intocável dentro de mim. A vontade de me afastar dos homens e de me entregar aos bichos era irrevogável.

Para compensar a falta de caninos na vizinhança comecei a entregar-me sem inibições ao primeiro que encontrava, sobretudo a taxistas feios, porcos e maus. Papei mulheres como quem papa rebuçados de mentol. Fiz sadomaso e adorei todo o sofrimento que infligia ou me era infligido.

A herança de Rex foi esta revelação: ele tinha-me ensinado a amar... essa seria a minha missão!

Foi nessa altura que descobri como era bom foder os portugueses! Comecei a gostar do sexo puro e duro. Quando mais duro melhor. Vivia num permanente climax, como a grande puta que era.

Começaram a chamar-me a “ministra”, pois era implacável durante as relações. Tinha o mundo a meus pés:

– "Olha a puta da ministra! Ó ministra, quem é que vais foder hoje?" – diziam os homens. – "Ó ministra, onde é o teu estábulo? O broche tem desconto no IRS?"

Palavras leva-as o vento. A verdade é que então a minha vida era um must. Glória, popularidade, poder. Mas tudo isso acabou. O meu pensamento vagueia. Oh, garbosas, dolorosas, recordações….

– Então, vaca, já escolheste o que vais comer? Deixa-me adivinhar: punheta de bacalhau… Não? Mas que cara é essa…?

– O tempo não perdoa, a beleza lendária da “ministra” desvanece-se. A solidão aperta… Oh, há quanto tempo não fodo um português?!

– Hum… Acho que tenho a solução para o teu caso!

– E qual é o meu caso?

– Um déficit incontrolado de alegria, de joi de vivre.

– Juá de quê?

– A formosa dama, passo a expressão, precisa de uma retoma de prazer na sua vida. E eu tenho aqui exactamente aquilo que procura: uma boa linguiça de sangue de Mirandela, que vou temperar especialmente para ti (ui, o que faz a fomeca…)

– Uau, que grande!

– Encara-a como uma injecção de capital. Agora vamos lá baixar as cuequinhas e calafetar de uma vez o buraco do orçamento!

– Estarei a sonhar? Quer mesmo foder-me? Oh, uma nova sensação! Em vez de foder um português vou ser fodida por um! Este é o primeiro dia do resto da minha vida…

– Cala-te e abre-me esse cu! Ora vamos lé ver o que temos aqui… Olá! Que ramela é essa que tens aí na orla da cona? Bolas, há quanto tempo não és desparasitada?! Não ouviste falar de Clitorex? Com tal espectáculo nem sei se o vou conseguir levantar... Ouve lá, e se de vez em quando te lavasses por baixo, ãh? A tua sorte é que eu gosto delas um bocadinho rançosas… O que achas deste caralho, ó “ministra”?

– Está um nadinha mole, mas não há dúvida: é picha!

– Agora vais fazer uma coisa, vaquinha. Quando eu me vier nessas beiças, vais fazer um discurso à nação. Isso, assim, com a bocarra toda esporrada!

Budugueses

– Isso é que é falar com papas na língua! Aplausos para "a ministra", canalha! Bem, já o mamaste, ala que se faz tarde…

– Mas, meu bom senhor… Eu ainda não me vim!

– Bom, bom. Também não é preciso ficares de trombas. Já ouviste falar de fist fucking? Enfia bem essas unhas na senaita e vais ver que essa tesão de velha guarda te passa num instante.

– Ah, a solidão, a solidão... Terei de voltar aos velhos processos para conseguir homens: perna aberta e muita cerveja! A não ser que... E se eu?! E porque não? Afinal de contas, não me chamam "a ministra"?

– Pára de dar bufas, cadela!

– Das duas, uma: ou assumo o ministério divino e formo uma banda de raiz católica... Ou então... É isso! Serei Ministra das Finanças!

– Ministra das Finanças? Não será antes Ministra do Pinanço?!

– Quero lá saber! Não me fodem?! Fodo-vos eu! Quando acabar com vocês, não haverá um único português que não tenha vontade de me foder!

E assim reza a lenda da “ministra” que aos anos nos vem fodendo a vida.

 

Armando Sarilhos 

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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