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04 Febrero, 2023 Uma história de uma trabalhadora do sexo

Num grupo de terapia, uma das jovens relatou que teve de se prostituir para sobreviver...

Com base no conhecimento de uma história, sabe-se que existiu uma jovem que deixou de se prostituir. No entanto, o ato violento suscitou diversos traumas que se irão abordar. E como se conseguiu desbloquear a dor.

Uma história de uma trabalhadora do sexo

Era sábado, um dia quente cheio de sol. Às 11h em ponto, o grupo de terapia de 50 mulheres sentou-se em círculo no meio da sala. No centro, estava a terapeuta que deu início à dinâmica.

Cada mulher ia falando de como se sentia, das suas preocupações e relembrando algumas das coisas que tinham feito, no passado, para conseguirem sobreviver.

Geralmente, um grupo de terapia é um lugar onde as pessoas podem partilhar as suas histórias para, assim, conseguirem identificar-se com outras. À medida que se fala num grupo de terapia vai havendo identificação / troca de ideias e experiências.

Uma das jovens relatou que teve de se prostituir para sobreviver. A forma como a jovem abordou este tema foi inesperada. Um assunto tão complexo tornou-se banal nas palavras que ela utilizou. Foi revelada a ausência de sentimentos e, neste momento, a terapeuta percebeu que tinha de intervir para ajudar esta jovem de forma a que não regredisse e se voltasse a prostituir.

A terapeuta interrompeu-a:

Terapeuta - O que é que fazias com esses homens?
Paciente - Sexo!
Terapeuta - Isso eu sei! Mas o que é que fazias mesmo? Conta-me pormenores!
Paciente - Então, você sabe!
Terapeuta - Eu? Eu não! Explica-me como se eu tivesse 5 anos! Quero saber tudo! Quero saber o que fazias e as palavras que iam saindo da boca daqueles homens enquanto estavam contigo.
Paciente - Não!
Terapeuta - Sim!

Sim, disse a terapeuta, levantando os braços e esboçando um sorriso de maneira a que ela sentisse que estava num local seguro.

A jovem ficou muito quieta na sua cadeira, baixou a cabeça e permaneceu em silêncio. Percebeu-se que relembrava cada palavra dita por aqueles homens.

De repente, levantou-se a chorar compulsivamente e bateu com os punhos fechados num pilar de pedra que se encontrava no meio da sala! Enquanto chorava, também gritava e saíam-lhe pela boca todas as palavras horrendas do que aqueles homens fizeram com ela e o que lhe diziam!

A dor era tremenda! Afinal, havia uma mulher traumatizada por detrás das frívolas palavras utilizadas anteriormente. As restantes mulheres presentes levantaram-se e abraçaram-na dizendo: “Been there, done that”.

Ora bem, isto para dizer o quê?

Venham comigo, pensem comigo agora...

Lembram-se da primeira vez que se prostituíram? Lembram-se daquele frio na barriga, do medo, da vergonha e da culpa que sentiram? Aquela sensação desconfortável de estar nua perante um desconhecido?

Lembram-se da segunda vez, onde já foi menos intensa? Lembram-se da terceira vez? Quando começa o “piloto automático”? Lembram-se, então, que a partir daí todas essas sensações foram bloqueadas e substituídas por mecanismos de defesa.

Tornou-se assim “NORMAL” o ato da prostituição! A gratificação (dinheiro) entra em cena como antídoto aos sentimentos básicos. Por isso, se vêem tantas trabalhadoras do sexo a falar do dinheiro que ganham e dos bens que adquirem. É sempre melhor falar disso do que falar de cada ato sexual que têm com cada cliente. Do que ele lhe faz, pede para fazer, o que lhe diz e os nomes que lhe chama durante o ato.

O dinheiro torna-se assim a compensação, no final do dia, aos sentimentos que estão a ser anulados e camuflados.

Muitas destas mulheres são pessoas cuja única coisa que têm são sentimentos que têm que ser desbloqueados. Reforço a ideia de que a única forma para algumas pessoas poderem sobreviver com esta realidade, é bloqueando estes sentimentos, muitas vezes através do álcool e das drogas.

É fácil chegar a esta conclusão quando um ser humano se predispõe a ter um trabalho que o pode levar à morte. Todos os dias entregam as suas vidas a esses desconhecidos.

O estigma / Intervenção

“Ahhh! Esta acompanhante faz isto e aquilo que é errado... Deveria de se comportar desta ou daquela maneira..." Quem? O quê? Porquê? O que realmente se sabe destas mulheres?

Quem são estas acompanhantes? Porque deveriam? Já houve intervenção? Já houve uma terapia sistémica? Houve uma intervenção psicodramática? As associações têm terapeutas que acompanhem estas mulheres e desbloqueiem sentimentos mais profundos?

Intervenção não é andar com a régua na mão a tentar castigar estas mulheres! Castigos já elas sofrem o dia todo e se olharmos mais perto para cada uma, individualmente, vamos perceber que antes de chegarem aqui, já se deram eventos violentíssimos que as levaram a este ponto de rutura – a prostituição.

É tudo por agora...

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