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25 Enero, 2019 O meu testemunho sobre o cancro do colo do útero

No mês de prevenção do cancro do colo do útero, vou contar a minha história...

Janeiro é o mês de prevenção do cancro do colo do útero! Hoje vou deixar o meu testemunho, porque por vezes não ligamos às publicações e aos alertas e quando ouvimos ou lemos a história que se passou com outra pessoa ficamos mais atentas.

O meu testemunho sobre o cancro do colo do útero

Há alguns anos atrás, tive uma colega que estava numa luta contra o cancro do colo do útero. Como eu não percebia nada do assunto, questionei-a sobre os sintomas, tratamentos, etc.

Ela contou-me que tinha sido contagiada com o Vírus do Papiloma Humano através de um ex-namorado. Nunca tinha tido qualquer sintoma e um dia, numa consulta de rotina no ginecologista, foi-lhe diagnosticado o pior: cancro do colo do útero num estado pouco evoluído.

Fez uma raspagem, alguns tratamentos e ficou bem, mas sem poder ter mais filhos.

Como somos da mesma idade, ela questionou-me se eu já tinha feito o rastreio, ao que respondi que não. Ter ouvido a história dela deixou-me a pensar, foi como que um sinal de alerta.

Passados alguns meses marcaram-me uma consulta de rotina na minha ginecologista de longa data e questionei a médica se não seria necessário eu fazer o rastreio, ao que me respondeu que não porque eu não pertencia ao grupo de risco.

Entendo a resposta da minha médica. Afinal o Vírus do Papiloma Humano é transmitido através do sexo heterossexual e eu dos meus 18 anos até aos 32 só tive relações homossexuais, daí ela achar que não era necessário.

Mas passados alguns anos desta consulta, a minha médica reformou-se e eu marquei uma consulta numa médica diferente - contei todo o meu historial, viu a minha ficha clínica e resolveu fazer-me um exame Papanicolau. No meio do exame notei a atitude da médica e da enfermeira a mudarem quando oiço:

- Dá-me autorização que faça já uma citologia e uma biopsia?

Respondi que sim, e a partir dali foi como se perdesse a capacidade de pensar ou sentir, sabia o que aqueles exames significavam, percebi a atrapalhação do exame, aquilo que nos passa na cabeça e sempre a mesma coisa: Porquê eu? Porquê a mim? O que eu fiz de mal?

Após o exame, a médica falou comigo e disse-me o que eu já esperava ouvir, tenho o vírus e evoluiu para um cancro! E agora?

Teria de aguardar o resultado dos exames para saber o estádio em que se encontrava e qual o programa de tratamentos.

O meu primeiro erro, e isto é válido para mim e para outras pessoas poderá ser uma mais valia, assim que tomei conhecimento contei à minha família e amigos mais chegados. Um drama, eram telefonemas a toda a hora a perguntar se estava bem, já queriam mudar a vida para vir cuidar de mim. Foi como ter dado a notícia que iria morrer quando ainda nada estava decidido.

Claro que alguém ouvir que tem um cancro é devastador, as primeiras coisas que vêm à cabeça é vou morrer, mas quando dizemos a alguém que temos um cancro a outra pessoa pensa exatamente o mesmo, vais morrer. Eu saber que tinha uma doença grave, foi devastador, mas ver o sofrimento daqueles que amo ao saberem foi ainda pior.

Não vou contar como decorreu o processo dali para a frente porque é um processo que cada um vive do seu jeito e toma as suas próprias decisões. O que é aqui importante é saberem que não existe «um grupo de risco», não é só aos outros, podemos ser portadores do vírus durante anos sem saber, o vírus pode ou não evoluir para um cancro.

Devemos todos fazer rastreio de 6 em 6 meses - não é detetável nas análises clínicas nem em exames simples, só no Papanicolau e em caso de certeza na citologia, de outra forma não é detetável.

É também importante que a ser diagnosticado seja sempre acompanhado, em caso de terem uma notícia como a minha, e a ser forte, olhar a vida de frente, e enfrentar, não tem de ser mortal. Claro que deixa sequelas, ainda que se vença a luta, mas não tem necessariamente que ser o fim.

Aos anos que escrevo aqui para o site, este foi o texto mais difícil para mim de escrever, porque é difícil assumir que fraquejamos, que temos fragilidades e fantasmas no nosso armário.

Se a Internet é um mundo maravilhoso, repleto de coisas belas, também é um mundo diabólico. Se por um lado eu e os meus sofremos com todo este processo, na net e sendo eu uma webcamgirl, nem sempre foi possível esconder o que se passava e a forma como fui tratada pelas pessoas que tomaram conhecimento do meu estado de saúde foi péssima - comentários do estilo «já entraste em menopausa», «não tás com ar de quem tem um cancro», «vai morrer longe», «já devias era ter morrido», «deve ser mentira... »

Incrível as coisas que se dizem atrás de um PC, mas nessas alturas o ser humano vai buscar forças que desconhecia ter. Sim, o meu útero deixou de trabalhar, sim, tive menopausa precoce. Com doenças não se brinca e sim, continuo a ser mulher e a ser uma webcamgirl. Tudo o resto vive-se um dia de cada vez.

Muita força! Façam o rastreio: não acontece só aos outros!

TugaEris

TugaEris

TugaEris
 
Mulher fascinada pelo mundo do sexo e tudo o que rodeia procurando dar a conhecê-lo através da escrita. 
 

 

 

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