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27 juin, 2025 Mentes Conectadas: Usar a pornografia como fuga pode ser vício?

A pornografia em si não é um problema, mas pode tornar-se problemática.

Um jovem leitor escreveu-me preocupado porque se sente “preso” à pornografia, à qual recorre sempre que está ansioso ou triste. Diz que não tem “vontade de estar com ninguém”. Será que é um vício?

Mentes Conectadas: Usar a pornografia como fuga pode ser vício?

 

Tenho 28 anos e uso a pornografia quase todos os dias, às vezes várias vezes ao dia.

Começou como uma coisa normal, curiosidade de adolescente. Mas hoje dou por mim a recorrer à pornografia sempre que estou ansioso, aborrecido, triste ou stressado.

Não tenho vontade de estar com ninguém, porque a pornografia preenche esse espaço. Mas depois sinto-me mal, vazio.

Sinto que estou preso. Isto pode ser um vício? E se for, tem saída?”

O que estás a descrever é algo muito mais comum do que parece - e merece ser ouvido sem julgamentos.

A pornografia em si não é um problema.

O problema começa quando ela deixa de ser escolha e passa a ser necessidade, quando se transforma num refúgio automático para lidar com emoções difíceis, ou quando começa a interferir com a tua vida real, relacional e emocional.

E sim, pode tornar-se um padrão compulsivo - um ciclo do qual parece difícil sair. Mas a boa notícia é que há saída. E há caminho.

Pornografia: prazer ou anestesia?

A pornografia, como tantas outras coisas, pode ser usada de forma saudável. Para explorar fantasias, para excitação mútua com um parceiro, para conhecer o corpo.

Mas também pode ser usada como anestesia emocional. O que é que isso significa?

Significa que, em vez de sentires tristeza, ansiedade, solidão ou frustração, recorres à pornografia como fuga rápida - uma descarga química que dá prazer imediato, mas não resolve o que está por trás.

E esse padrão, repetido vezes sem conta, cria uma ligação forte entre desconforto emocional e masturbação/pornografia - mesmo que o prazer dure pouco.

Vício ou hábito?

A palavra “vício” assusta, mas é importante distinguir algumas coisas.

Um vício comportamental - como o jogo ou o uso de pornografia compulsivo - não se refere a uma substância externa, mas ao efeito que o comportamento tem no cérebro.

O cérebro liberta dopamina - a hormona do prazer - durante o uso da pornografia. Com o tempo, habitua-se a essa estimulação constante e procura-a cada vez mais, mesmo quando já não traz o mesmo prazer.

Isto cria um ciclo de necessidade – satisfação – culpa – repetição.

Se te sentes preso, se já tentaste parar e voltas, se isso te afasta da vida real e te traz sofrimento, então, sim, talvez estejas num ciclo compulsivo que merece atenção.

Sinais de alerta

  • Usas pornografia mesmo quando não estás com desejo, só para fugir de emoções;
  • Perdes horas nisso, adiando tarefas importantes;
  • Precisas de conteúdos cada vez mais intensos ou extremos para sentir algo;
  • Evitas relações reais porque “dão mais trabalho” ou já não te excitam;
  • Sentes culpa, vergonha ou vazio depois de usá-la;
  • Já tentaste parar ou reduzir, mas não consegues.

Se te revês nisto, não estás doente, nem és fraco. Estás num ciclo emocional que se pode tratar, compreender e reformular.

O que fazer para começar a sair?

1. Auto-observação sem julgamento

Começa por observar os momentos em que procuras pornografia. Estás triste? Ansioso? Aborrecido? Solitário?

Anota as respostas durante alguns dias. Vais começar a ver padrões. A consciência é o primeiro passo para a mudança.

2. Reduz aos poucos

Não tens de parar radicalmente (a menos que queiras). Podes começar por limitar:

  1. Só uma vez por dia.
  2. Evitar à noite ou ao acordar.
  3. Tirar o acesso fácil (desinstalar apps, ativar bloqueadores temporários).

Pequenas barreiras ajudam a criar tempo para escolher, em vez de reagir por impulso.

3. Substitui, não evites apenas

Se a pornografia está a preencher um vazio, o ideal é dar ao teu corpo e mente outras formas de prazer ou conforto, por exemplo:

  • Exercício físico
  • Caminhadas longas
  • Meditação (experimenta apps como Insight Timer e Headspace)
  • Leitura erótica (que estimula a imaginação sem imagem explícita)
  • Conversas reais com amigos ou terapeutas.

4. Procura apoio

terapeutas especializados em sexualidade e compulsões. Mas também existem grupos de apoio (como Sex Addicts Anonymous) ou fóruns online com anonimato.

Falar ajuda. Ser ouvido transforma. E não és o único. Muitos homens vivem este processo.

A sexualidade não está quebrada - só está anestesiada

Muitos homens que passam por isto têm medo de nunca mais sentirem desejo por pessoas reais, ou de ficarem “estragados” para sempre. Isso não é verdade.

Com tempo e cuidado, o cérebro reaprende. Reaprende a excitar-se com o toque, com a conversa, com o cheiro, com a pausa.

Tu não estás quebrado. Estás cansado. E o cansaço não é defeito - é um pedido de pausa.

Uma palavra final

O que estás a viver não é fraqueza. É uma dor silenciosa, como tantas outras.

Mas agora que estás a ver o ciclo, tens poder sobre ele.

Não és “viciado” - és humano. E seres humano é também seres capaz de mudar, de curar e de voltar ao contacto real, sem medo.

Leva o tempo que precisares. Um passo de cada vez.

E quando deres por ti, estarás de novo ao leme da tua própria intimidade - com verdade, presença e escolha.

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