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06 dezembro, 2019 Como deixar de ser profissional do sexo

Eu há um ano iniciei essa jornada! E depressa percebi que não tinha apoios viáveis por parte das associações, teria que fazer tudo por mim própria...

Sei que nos últimos tempos vou escolhendo temas controversos e sensíveis. Escrevo sobre eles porque considero serem importantes. Mas são apenas a minha opinião, não tenho qualquer intenção de ferir pessoas que possam ter opiniões diferentes das minhas. Esclarecido este facto, o tema de hoje é algo do qual pouco tenho ouvido falar, mas que considero importante. Como deixar de ser uma profissional do sexo? No fundo, como é feita a reintegração social?

Como deixar de ser profissional do sexo

Claro que é importante terem reforma, verdade, e disso muito se tem falado, mas para existir reforma seria necessário trabalhar até aos 60 anos mais ao menos.
Não consigo imaginar essa tortura! E quando as mulheres estão 10 ou 15 anos nesta vida e querem sair, o que fazer?

Pois, muita gente diz: simples, vão trabalhar! Como se isto não fosse trabalho,mas nem vou pegar por aí - 10 anos neste meio significa que estão sem currículo, sem actividade profissional, muitas vezes muito debilitadas, principalmente ao nível psicológico.

Após longa e insistente procura de trabalho, chegam às entrevistas e as questões sobre o que se fez nos últimos 10 anos são recorrentes e selectivas, e mesmo que se ultrapasse esses obstáculos e se consiga o trabalho, será que é suficiente?

Eu há um ano iniciei essa jornada!
A primeira coisa que fiz foi contactar algumas associações no sentido de obter apoio na reentrada no mercado de trabalho. Respostas quase nulas a cursos de formação diziam-me.
Pois, formação é coisa que não preciso, claro que existem profissionais que não têm realmente formação e necessitam de aprender uma profissão para exercer. Mas não era o meu caso.

Por isso, depressa percebi que não tinha apoios viáveis por parte das associações, teria que fazer tudo por mim própria. No distrito onde vivia toda a gente sabia quem eu era e com o estigma social seria impossível trabalhar, sem que rapidamente fosse reconhecida e discriminada, por isso mudei de vida radicalmente.

Começando de novo num sítio que não ninguém me conhece e longe da imagem da «Tugaeris», volta-se à pesquisa do mercado de trabalho e sim, consegui um dito trabalho normal, mas infelizmente isso não significa o fim do trabalho no mundo do sexo, significa sim mais trabalho para mim.

Porque regressamos ao motivo que me levou a mim e a milhares de pessoas a enveredar no mundo do sexo. O Dinheiro!

Actualmente, tenho um trabalho a full time normal, mas chego ao fim do mês e o meu ordenado paga a renda de casa, a luz e o gás... Então e o resto das contas??? Lá tenho eu, apesar de ter o tal trabalho normal, que fazer os meus shows na mesma porque o dinheiro do salário simplesmente não chega.

Como é possível sair desta «vida» nestas condições??? Nunca!

Somos reféns de um trabalho que muitas gostam e lutam pela sua regulamentação e muito bem, mas que outras abominam e que são obrigadas a fazerem se querem por comida na mesa para elas e para os filho. Mesmo estando num trabalho de 9 e horas, o salário simplesmente não chega para o básico, não estou a incluir luxos nenhuns.
E isto sim, eu considero ser um problema!

Qual é a solução? Bem, eu considero impossível de acontecer, mas teriam de existir organismos que verdadeiramente apoiassem neste sentido. Mas como?

A nível prático, se a profissional é conhecida pela sua actividade profissional tem de deixar tudo para trás e começar uma vida nova num sítio novo, não é fácil de fazer e eu que o diga, mas tem de ser feito.

É necessário estruturar o curriculum, praticar entrevistas e maneiras de camuflar o tempo que esteve no mundo do sexo - o ideal era o IEFP arranjar um trabalho específico para essa pessoa sem grandes interrogações.

É necessário uma habitação com um arrendamento e despesas compatíveis com o seu novo vencimento, porque caso contrário vai sempre recorrer ao que conhece para ganhar o que falta e isso é um pé dentro e um pé fora, difícil de conjugar.

Apoio psicológico é essencial - quem vive neste meio anos a fio sai com a cabeça toda fodida e à mínima dificuldade volta mais uma vez para o que conhece. É necessário apoio para enfrentar um novo mundo e tentar esquecer o passado.

Nada disto está a ser feito actualmente! Algum dia vão fazer? Duvido!
Vende-se a ideia que quem trabalha na área faz porque gosta, porque é dinheiro fácil, que ganha muito dinheiro e por isso, nada disto é necessário.
Tudo ideias completamente erradas. Acredito que já tenha sido assim no passado, actualmente está longe da realidade.

Bem, vou continuando na minha vidinha a comer pipocas e a acompanhar a evolução deste tema.
Talvez para a semana já tenha um tema mais natalício.

Bom fim de semana!
www.tugaeriscam.com

TugaEris

TugaEris

TugaEris
 
Mulher fascinada pelo mundo do sexo e tudo o que rodeia procurando dar a conhecê-lo através da escrita. 
 

 

 

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