24 janeiro, 2015 Uso de preservativo pode tornar-se obrigatório no porno

A indústria da pornografia enfrenta um doloroso dilema: com ou sem camisinha?

A indústria pornográfica dos EUA está em alvoroço, depois de dois actores terem dado positivo num controle de HIV. As leis do país apertam-se e na Califórnia o uso de preservativo já é obrigatório. Mas será que porno e camisinha podem combinar?

Califórnia obriga ao uso de preservativo no porno

Após terem sido identificados dois casos de HIV na indústria pornográfica norte-americana, em dois actores, a actividade enfrenta um doloroso dilema, face às pressões para que adira às medidas do sexo seguro e, especificamente, ao preservativo.

O Estado de Los Angeles, na Califórnia, já tem em vigor uma Lei que obriga ao uso de preservativo nos filmes porno. Uma medida que levou várias produtoras de filmes adultos a mudaram-se da Califórnia para o Nevada, onde não há leis especificamente direccionadas para a indústria pornográfica.

O Nevada tem, de resto, leis mais liberais no capítulo do sexo, sendo o único Estado norte americano onde a prostituição está legalizada - não em todas as cidades, sendo proibida nomeadamente em Las Vegas e em Reno, mas em zonas mais rurais é permitida.

Este estado admite, contudo, vir a aplicar à indústria da pornografia as mesmas Leis aplicadas aos bordéis, onde o uso de preservativo é obrigatório em todos os actos sexuais, nomeadamente para tornar o sexo oral mais seguro.

Uso de camisinha por um porno mais seguro

As autoridades de saúde do Nevada levam a cabo controles regulares nos bordéis do Estado, testando os profissionais do sexo legalizados com controles semanais a doenças sexualmente transmissíveis, como a gonorreia e a clamídia, e testes mensais ao HIV e à sífilis.

Porém, esta ideia de comparar a indústria porno com a prostituição não agrada a actores, nem a produtores da indústria.

"Num bordel, falamos de pessoas que vêm de fora. Nós temos actores num cenário fechado, que passam por testes de controle", salienta Diane Duke, da Coligação Free Speech, que leva a cabo vários controles, nomeadamente ao HIV (veja aqui 3 factos sobre o teste do HIV), aos performers da indústria pornográfica.

Esses testes são feitos de 15 em 15 dias, mas há actores e actrizes que não passam pelo crivo desta associação. Terá sido esse o caso dos dois homens infectados com HIV, especulando-se que um poderá ter infectado o outro, na filmagem de uma cena gay.

"Não somos contra o porno. Queremos que seja mais seguro. Pensamos que o porno envia a mensagem errada aos jovens de que o único tipo de sexo que é excitante é o sexo inseguro", alerta Michael Weinstein, presidente da Fundação de Assistência Médica à SIDA, organização não-governamental que actua nos Estados da Califórnia e do Nevada.

Burburinho e cepticismo entre actores e consumidores de porno

Mas a ideia de que os actores porno tenham que usar sempre preservativo nos filmes está a causar grande burburinho. Até porque, perante longas horas de filmagem, com várias cenas de sexo e vários "takes" para tudo ficar perfeito, o uso de preservativo pode causar fricção, irritação e até infecções.

Até entre os consumidores de porno a ideia não soa lá muito bem - a maioria aprecia que as cenas de sexo sejam feitas sem camisinha.

Na verdade, ninguém gosta particularmente de usar preservativo na vida real, especialmente os homens, e o porno é o lugar da fantasia, onde esse tipo de barreira perturba um pouco a imaginação. Há até quem esteja disposto a apanhar HIV, no famigerado jogo da roleta sexual, por uns singelos e arriscados momentos de prazer.

Todavia, o sexo seguro é uma prática cada vez mais apoiada, nomeadamente pelas associações que defendem os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do sexo. E a indústria porno não pode ficar alheada disto.

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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