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30 abril, 2017 Educação Sexual nas escolas

A partir de que idade é que se deve quebrar o mito da cegonha aos petizes?

A proposta para abordar a interrupção voluntária da gravidez (vulgo aborto) no 5º ano de escolaridade este ano deu origem a uma petição que visa combater a introdução desta temática no referencial para a Educação Sexual deste ano.

Educação Sexual nas escolas

Antes de isto descambar - porque não duvidem que vai acontecer - eu queria deixar claro de que sou um determinado apoiante da Educação Sexual nas escolas. Ponto. Concordo que quanto mais cedo se consiga abordar esta temática de uma forma aberta e descomplexada, mais rápido se consegue transmitir os conceitos necessários para que um pré-adolescente/adolescente possa tomar conhecimento da sua sexualidade (e bem precisam, dado que sexo consigo mesmo é o que um adolescente tem mais) e a viva em pleno. Sim, eu já estou a ouvir o barulho dos freios do comboio a descarrilar neste texto, mas tentem acompanhar. Não existe tal coisa como "demasiada informação" no que ao ensino concerne, desde que a mesma seja passada no contexto certo e da forma correcta. O difícil da Educação Sexual é conseguir achar o equilíbrio perfeito entre as duas partes: a fisiológica e a emocional. Tanto é necessário explicar como todos os mecanismos do nosso corpo se enquadram neste contexto, como é absolutamente imprescindível abordar a parte emocional e sensorial da questão. Não queremos formar nem robots nem actores porno. Ali um intermédio, entendem?

“Fisting”, por exemplo (ora aí está o que estavam à espera desde a primeira frase). Explicar o conceito de "fisting" a uma turma do 11º ano é algo desnecessário, porque apesar de todas as raparigas da turma já perceberem mais de sexo do que a professora, tentar explicar que existem mulheres que preferem ter um braço de um homem adulto de punho fechado todo dentro delas pode ser demasiado para aquelas cabeças. Além disso, têm mais que tempo para aprender isso por elas mesmas (dois/três anos).


“Bestialismo”. Alguém quer ser o gajo que explica a um adolescente de 14 anos que existem pessoas que gostam de f#der o que ele jantou ontem?

"Comeste cabrito ontem? Pois olha, o teu tio Artur também. Mas não foi à refeição".

“Chuva dourada”. Ora, mijar em cima de alguém naquela idade é visto como uma partida entre amigos. Jamais passa pela cabeça de um adolescente que em alguma pensão num beco de Lisboa, está um executivo de meia idade a mijar para cima de uma rapariga a troco de 25€.

“A linha ténue do prazer e da dor”. Uso bastante uma analogia para explicar a relação entre dor e prazer: é uma linha recta iniciada por um que termina no outro e que se dobra de forma circular sem nunca se tocarem mutuamente. Centenas de campanhas contra a violência no namoro e de repente estás a ouvir em plena sala de aula que há tipas que gostam que lhes enfiem a cara na almofada enquanto lhes puxam os cabelos com força ao mesmo tempo que elas gritam “com mais força! .

“Dirty talk”. Ai o "shaming online", os nome feios e o camandro. Como é que vamos explicar que (algumas) gajas gostam que lhes chamem de tudo menos de santas nos lençóis?

“Quem é a tua p#ta?”
“Não é ninguém, amor… eu...eu.. amo-te..”
“Está calado. SOU EU, ENTENDES? EU SOU A TUA P#TA!”
“NÃO ÉS NÃO. ÉS A SONIA E EU AMO-TE!”
“Come-me como se fosses um angolano, Carlos!”


Não é fácil. Contexto, meus amigos. Contexto. Tudo isto que mencionei faz parte do longo espectro da psique sexual colectiva. Por isso - e voltando à questão inicial - faz sentido estar a falar de aborto a miúdos com 10 anos? Talvez. Não sei. Se calhar podíamos esperar mais um aninho ou dois. Ou não... podiam também falar com os vossos filhos, se não vos der muito trabalho.

Até quarta e boas fodas educacionais.

Noé

Noé

Noé

Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.

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