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07 abril, 2021 Impactos da covid-19 no sexo virtual: conclusões do inquérito

Resultados do inquérito realizado em fevereiro, com a análise aos impactos da pandemia no sexo virtual.

No mês de fevereiro foi feito um inquérito a 100 pessoas com o objetivo de analisar quais os impactos da pandemia de covid-19 no sexo virtual, já que esta foi a alternativa encontrada pelxs trabalhadorxs do sexo como forma de continuarem a ter rendimentos - pois o convívio teve uma queda brusca, principalmente durante os meses de confinamento obrigatório. Eis aqui os resultados...

Impactos da covid-19 no sexo virtual: conclusões do inquérito

Queda na procura pelo sexo presencial

Clientes em casa sem poderem deslocar-se para outros concelhos, sem terem “desculpas” para dar às parceiras ao saírem, muitos com quebras de rendimentos, além do medo frequente de serem contaminados com o vírus, foram as principais razões que fizeram com que a procura pelo sexo presencial caísse.

Durante o primeiro confinamento, muitos esperavam que uma grande parcela dos clientes do convívio migrassem para o sexo virtual. Porém, a insegurança com serviços online e a quantidade de cibercrimes que aumentaram, durante o confinamento, fizeram com que houvesse também certa desconfiança ao pagar camgirls, principalmente fora de sites de webcam. Consequentemente, o número de clientes comparado à quantidade de profissionais que estavam a fazer sexo virtual ainda foi pequeno.

Havia gente a dizer que estava a ganhar imenso dinheiro, enquanto outrxs terminavam o dia a zeros. Quais as diferenças entre estas pessoas se todas trabalham dentro do mesmo segmento?

Como foi feito o inquérito

Para entender isso, era necessário ouvir estas pessoas e a melhor forma era perguntar ao maior número possível delas. Ainda que 100 pessoas seja um número relativamente pequeno, em comparação com o tamanho do mercado sexual em Portugal, é um número já considerável quando se trata do sexo virtual que ainda é um nicho pequeno.

Para entender quais foram os impactos da pandemia no sexo virtual, foi necessário traçar perfis com informações como gênero, faixa etária, âmbito social em que vivem, e cruzar com outras informações, como por exemplo, o tempo disponível para atendimento e o percentual de ganhos para cima ou para baixo. Apenas com estas poucas informações, já foi possível identificar porque alguns grupos tiveram maior ou menor dificuldade, tanto na adaptação ao trabalho online, como em atingir seus objectivos diários.

Serão abordados aqui apenas alguns dos dados colectados. Quem desejar ver todo o resultado do inquérito, poderá aceder ao ficheiro público cujo link estará ao final do texto.

Mas vamos às informações.

Resultados: os impactos da pandemia no sexo virtual

Considerando somente quem actua no sexo virtual e concilia com convívios, o perfil médio dxs trabalhorxs constitui, em sua maioria, mulheres cis (45%) com idade entre 26 e 40 anos (40%) e trabalham no mercado sexual há 1 a 5 anos (30%).

Em um panorama geral, pode-se concluir que o sexo virtual não foi grandemente afectado pela pandemia, houve um aumento de 5% na quantidade de trabalhadorxs dentro do segmento somente no último ano.

E em termos de rendimentos, foi um dos sectores menos afectados. Mas é importante notar que, dentro deste mesmo segmento, existem grupos diferentes e que cada grupo vive realidades diferentes. Enquanto 11% tiveram aumentos até acima de 50%, 3% apresentaram queda de até 50%.

Quando refere-se a indivíduos que actuam em ambos setores (virtual e convívio), os números invertem-se e os rendimentos já não são tão altos. Apenas 10% relataram terem um aumento de rendimentos em até 50%, enquanto 12% tiveram quebras maiores do que 50%.

Os grupos mais afectados financeiramente foram da faixa etária de 31 a 40 anos, em que 18% dos indivíduos apresentaram quebra de rendimentos maiores que 50%, enquanto as faixas etárias de 18 a 25 anos e 26 a 30 anos somam 12% em relação a quebras maiores que 50%. Dentro desta mesma faixa etária, ainda é possível observar que 24% apresentaram maiores dificuldades para atingir seus objectivos diários para manterem um rendimento mensal suficiente às suas necessidades.

Estas diferenças devem-se principalmente ao facto de que 16% da faixa etária de 31 a 40 anos vivem com família (filhos, pais, etc) ou outras pessoas (apartamento partilhado com amigos), enquanto a soma total de todas as outras faixas etárias, dentro deste mesmo âmbito social, é de apenas 15%. Indivíduos que vivem sozinhos são a grande maioria, totalizando 46%.

Respectivamente ao ponto citado acima, é esta mesma faixa etária que tem menos horas disponíveis para o trabalho, já que dos 16% que vivem com a família ou com outras pessoas, 11% dispõe de no máximo 5 horas para trabalharem - factor este que explica porque esta foi a faixa etária que sofreu maiores impactos financeiros.

Das principais dificuldades citadas, além de filhxs e família em casa, também foram citadas a baixa demanda e a desconfiança por parte de clientes, a queda do valor médio cobrado pelos atendimentos e o medo da exposição visual.

O lado positivo é que, mesmo com todas as dificuldades, 52% pretendem continuar dentro do sexo virtual como rendimento extra.

Outro aspeto importante a ser abordado de maneira geral, ou seja, a somar a todos segmentos, é que estes impactos fizeram com que houvesse uma perda maior na qualidade de vida destxs profissionais, já que a maneira encontrada de continuarem a obter ganhos, consoante as suas necessidades, foi trabalhar mais horas por dia. Há pessoas a trabalhar mais de 12 horas diárias, sendo 21% de 12 a 17 horas e 19% mais de 18 horas.

Quanto à alimentação, 47% consideram a qualidade regular e 18% consideram ruim, enquanto 35% consideram como boa.

Sobre a saúde mental, 12% procuraram ajuda psicológica durante a pandemia e 13% pensam procurar. Porém, 59,4% desenvolveram algum tipo de doença de fundo emocional e este é um número preocupante, já que 44,4% não procuraram por nenhum tipo de ajuda psicológica.

Também se conclui que há indivíduos que desenvolveram mais que 1 tipo de doença de fundo emocional, enquanto que 40% não desenvolveram nenhum tipo.

Com relação ao contágio por covid-19, de um modo geral, ao analisar todos os segmentos, apenas 13% testaram positivo, o que é um óptimo número. Dos 59% que continuaram a fazer atendimentos presenciais, apenas 11% testaram positivo. Portanto, não é possível culpabilizar xs trabalhadorxs do sexo pelo aumento dos contágios.

Conclui-se que, apesar de todos os impactos e dificuldades, o sexo virtual é uma boa alternativa, seja para viver apenas dele ou para obter rendimentos extra. Porém, ainda é necessária uma maior adaptação e menor desconfiança por parte dos clientes.

Suzana F.

Suzana F.

Suzana F.

Suzana F. é mente aberta, observadora e crítica por natureza. Apaixonada por literatura, ama ler e escrever sobre sexo. 

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