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09 Septiembre, 2021 O Trabalho Sexual sempre esteve perto de mim

Vou contar como me tornei webcam girl quando cheguei a Portugal...

Alguns clientes mais próximos costumam perguntar como me tornei webcam girl e como foi o meu início. Bem, a verdade é que sempre estive próxima do Trabalho Sexual, posso dizer que era algo que sempre flirtava comigo.

O Trabalho Sexual sempre esteve perto de mim

Aos 18 anos, tive uma amiga que estava a terminar a graduação em Jornalismo e escolheu como tema para a sua tese o Trabalho Sexual. Ela queria recolher relatos para mostrar as diversas realidades de quem o fazia e era necessário fazer trabalho em terreno. Para que ela não fosse sozinha em alguns sítos, me comprometi em ir junto, já que alguns relatos seriam recolhidos de noite, em zonas onde havia prostituição de rua e clubes.

Quando estávamos na rua, mesmo com roupas discretas, como calças de ganga e agasalho de moleton, às vezes éramos abordadas por homens que passavam de carro e, mesmo ao dizer que não estávamos ali para isto, alguns faziam propostas a ver se nos convenciam.

Um dos terrenos mais desafiadores foi um clube numa zona de classe média alta de minha cidade, em que a gerente autorizou a nossa permanência no local por alguns dias, porém com a condição de nos misturarmos com as meninas, já que o local era frequentado por empresários e exigia maior discrição.

Entendam isto como estarmos lá vestidas como elas e com gravadores escondidos na pouca roupa, já que, naquela altura, os telemóveis não vinham com este recurso integrado.

Era uma realidade totalmente diferente da que vimos na prostituição de rua. Porém, alguns assédios eram muito mais diretos e tínhamos que dar a volta aos clientes interessados com maior cuidado.

Lembro-me que recebi uma proposta de ficar 3 horas com um cliente em um dos quartos, que se eu tivesse aceitado teria-me rendido cerca de R$ 400,00 naquela noite, o que, para a época, era mesmo muito dinheiro, já que o salário mínimo não chegava nem a R$ 250,00. Fiquei tentada! Mas não tive colhões para aceitar a proposta. O medo falou muito mais alto.

Foram dias difíceis, ainda mais ao ouvir tantos relatos de agressões físicas cometidas por clientes.

Alguns anos depois, fui morar numa pensão, onde a maioria das minhas vizinhas eram trabalhadoras do sexo, algumas de rua, outras trabalhavam em clubes conhecidos em uma zona da cidade e havia modelos que faziam book rosa. Sempre conversava com elas nas áreas comuns enquanto cozinhava ou lavava roupa e, muitas vezes, ouvia seus desabafos acerca das dificuldades do Trabalho Sexual.

Em tempos muito difíceis, cheguei a cogitar a hipótese de fazer convívios, porém, sempre que me lembrava das coisas que tinha ouvido, a ideia logo saía-me da cabeça.

O mais próximo que cheguei de receber por algo do gênero foi quando comecei a frequentar festas BDSM e quase sempre voltava sem meias para casa porque as tinha vendido a alguém.

Depois de algum tempo, arranjei alguns escravos que, além de bancarem alguns dos meus luxos, como manicure toda a semana e prendas frequentes, ofereciam dinheiro para eu pagar a mensalidade de um curso, ou só para divertir-me no fim de semana com meu namorado.

Incrivelmente, isto tudo acontecia sem eu sequer ter qualquer tipo de contacto sexual com eles, já que a minha relação com todos os meus escravos sempre foi totalmente assexuada - o mais perto que eles chegavam do meu corpo eram os meus pés. O que para eles era algo extremamente sexual, para mim, era apenas diversão e prazer mental.

Quando cheguei cá em Portugal, depois de meses em busca de trabalho e de só levar portas na cara, vi um anúncio em busca de mulheres para “entretenimento masculino através da webcam e telefone” e que prometia ganhos em torno de 2000€ por mês, sendo 150€ semanais e mais 40% dos ganhos.

Meu marido estava perto, naquele momento, e ele disse, em tom de brincadeira, que o valor não era nada mau. Continuamos a ver outros anúncios e depois de alguns poucos minutos a pensar que aquele valor poderia nos safar das dificuldades financeiras, eu disse a ele que estava a pensar no assunto e qual foi a minha surpresa quando ele disse que também estava!

Resolvi responder, pedi mais informações, fui às entrevistas e comecei a trabalhar num estúdio que ficava num escritório de fachada.

Depois de 2 semanas lá e de não receber o que me tinham prometido, fui conversar com uma amiga minha que já tinha sido webcam girl e ela disse que eu poderia fazer em casa, já que eu tinha um computador com webcam.

Enquanto meu marido foi buscar na net os sites onde tinham sido colocados meus anúncios, eu fui dar uma vista de olhos nos sites que a minha amiga tinha passado e em que ela já tinha trabalhado. Passamos o fim de semana a analisar sites de webcam girls, estabelecer preços, pesquisar como conseguiríamos entidade e referência e na segunda-feira, eu liguei a avisar que não iria mais trabalhar lá.

Naquela mesma semana, meu marido fez algumas fotos minhas, escolhemos um novo nome, já que o que tinham me dado não tinha nada a ver comigo, e fomos colocando os anúncios nos sites conforme os outros eram retirados do ar.

No fim de semana, mesmo sem entidade e referência, resolvi tentar trabalhar só aceitando PayPal e, felizmente, apareceu um cliente que ofereceu-me 50€ para um show de 1 hora que eu fiz. E depois não atendi mais ninguém naquela noite, pois estava imensamente cansada, tanto que hoje jamais aceitaria 50€ para um show de 1 hora - não compensa o cansaço.

Não foi fácil começar a trabalhar somente a receber pelo Paypal, pois muitos clientes não utilizavam e o meu cartão demorou um pouco para chegar, para poder receber por entidade e referência.

Além de também ter levado com um cliente que pediu refundo poucos minutos depois de eu ter terminado o show, alegando que eu não tinha feito e claro, acabei por perder a conta e tive de ficar alguns dias sem trabalhar porque não tinha por onde receber.

Mas, mesmo assim, em pouco mais de 15 dias, já tinha conseguido o dinheiro que precisava para pagar minha renda.

Se eu disser que foi fácil começar a fazer Trabalho Sexual online estarei a mentir. Eu passava horas online, às vezes ia das 14 horas até às 4 horas da manhã sem parar e trabalhava aos finais de semana.

Tive dias de fazer de 10 a 15 shows e no dia seguinte, tinha que ficar ausente porque a passarinha ainda estava a arder, rs… Às vezes, este era meu único dia de folga, porque eu trabalhava até quando estava com o período!

Naquela época, eu argumentava mais, às vezes passava 2 horas ou 3 horas a falar com um mesmo cliente que só tomava meu tempo e no fim não fazia nada. Com o tempo fui aprendendo a poupar-me de certas coisas e conforme fui criando uma carteira de clientes frequentes, passei a trabalhar menos horas por dia e os finais de semana acabavam por ser esporádicos.

Hoje tenho meu horário fixo, só trabalho aos finais de semana se me apetecer e se eu não tiver nada melhor para fazer. Tenho mais tempo para mim, para outras atividades fora do trabalho e para o meu marido. Ter horário fixo, às vezes, tem a desvantagem de eu não conseguir atingir minha meta do dia, claro, mas também não desespero mais e não deixo de fazer as minhas coisas para ficar a trabalhar.

Creio que o Trabalho Sexual foi uma das coisas que mais flirtou comigo durante a vida.

Se vou continuar nele para sempre, não sei, mas a certeza que eu tenho é que por mais que o convívio flirt comigo, não é um flirt recíproco e prefiro ficar cá na segurança, por trás do ecrã.

Um beijo da Suzana!

Suzana F.

Suzana F.

Suzana F. é mente aberta, observadora e crítica por natureza. Apaixonada por literatura, ama ler e escrever sobre sexo. 

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