24 março, 2021 Crónicas da Lábia: Porque ainda não existe a pílula masculina

Não há uma resposta única para esta pergunta, mas há duas grandes causas...

A pílula anticoncepcional transformou a vida das mulheres quando começou a ser usada, nos anos de 1960. Atualmente, mais de 200 milhões de mulheres a usam para evitar uma gravidez indesejada. Foi um passo decisivo para a liberdade sexual feminina. Mas porque é que ainda não apareceu uma pílula anticoncepcional para homens?

Crónicas da Lábia: Porque ainda não existe a pílula masculina

Não há uma resposta única para esta pergunta, mas há duas causas essenciais que vou abordar já de seguida...

São elas que engravidam, elas que se preocupem

A razão mais forte de todas prende-se com o facto de a gravidez ser coisa de mulheres! Portanto, se são elas que carregam o rebento no ventre, elas que se preocupem em evitar esse fardo.

É assim que pensam muitos homens, até porque a responsabilidade pelos filhos continua a ser coisa das mães - com cada vez mais excepções, felizmente.

Desta forma, as farmacêuticas olham para a pílula masculina como um investimento sem retorno interessante. Prevê-se que eles não tenham tanta adesão a este medicamento contrapcetivo, contrariamente ao que acontece com a pílula feminina que dá um óptimo lucro às marcas.

Portanto, a "máquina" farmacêutica não tem perdido muito tempo com investimentos em Investigação & Desenvolvimento neste âmbito.

Eles não aguentam os efeitos secundários

No caso das poucas investigações que foram feitas, recorreram a hormonas sintéticas com o objetivo de evitar o desenvolvimento de espermatozoides saudáveis ou a técnicas para evitar que os espermatozoides saudáveis entrem no óvulo e o consigam fecundar.

A ciência conhece, há décadas, este processo de produção de espermatozoides e a forma como eles nadam até ao óvulo. Não é um mistério insondável e, portanto, a complicação dos cientistas não é esta.

A grande dificuldade são os efeitos secundários gerados pelas tentativas de pílula masculina criadas.

Um artigo da BBC nota como, em 2016, um estudo com homens injectados com testosterona e progestogenios semelhantes aos utilizados na pílula feminina teve de ser interrompido por causa dos incómodos com os efeitos secundários.

Estamos a falar de sintomas como "espinhas na pele, transtornos no estado de ânimo e aumento na líbido" que "os homens consideraram fortes e intoleráveis", segundo refere um investigador citado pela BBC.

Ora, portanto, eles não aguentaram umas espinhas e uma depressãozita. Deviam ler a bula da pílula feminina para perceberem o que são efeitos secundários de facto!

Tromboses, doença cardiovascular, hipertensão arterial, dores de cabeça, náuseas, sangramentos, aumento de peso e redução do desejo sexual são alguns dos sintomas colaterais que podem surgir associados à toma da pílula feminina. Ah! E também pode provocar espinhas e alterações de humor.

Lembram-se das notícias sobre a vacina da AstraZeneca e os coágulos sanguíneos que terão surgido em pessoas vacinadas com ela? Um especialista de neurologia disse na SIC Notícias que "a pílula causa 3 vezes mais risco de tromboembolismo destes coágulos". Mas tratou de notar que a possibilidade de uma mulher jovem "ter um destes episódios é de 0,05% por cento por ano".

Estamos, por isso, a falar de riscos reduzidos. Mas o que vale a pena realçar são as diferentes reacções de género a efeitos colaterais tão distintos.

Assumir o controle...

Assim, para evitarem gravidezes indesejadas, os homens dependem apenas de duas opções - os preservativos e a radical vasectomia. Esta opção cirúrgica, embora seja reversível, assusta muito e a primeira opção desagrada a tantos.

Uma pílula contraceptiva masculina poderia ser o terceiro elemento que falta e até seria uma forma de os homens terem o controle do próprio corpo - para decidirem se as suas "sementes" se deitam à terra para colher ou não!

Com a pílula feminina, estão nas mãos delas – e dos seus esquecimentos e das suas eventuais más intenções...

Saúde & Vida Sexual