25 Julio, 2025 Mentes Conectadas: Como sair do Trabalho Sexual sem perder tudo?
Algumas sugestões de como deixar a atividade e de como se reinventar com coragem.
Uma trabalhadora do sexo há 11 anos pergunta-me como é que pode deixar o Trabalho Sexual sem "perder a liberdade" que conquistou. Será isso possível? É, mas não sem medo - e precisas de ter um plano.

"Sou trabalhadora do sexo há 11 anos. Entrei por necessidade, depois fiquei por escolha, depois por rotina.
Tive fases boas e outras duras. Mas agora sinto que estou a chegar a um limite. O corpo já não aguenta. A cabeça também não.
Quero sair. Mas tenho medo: medo de não conseguir pagar as contas, medo de não saber fazer mais nada, medo de perder a liberdade que conquistei.
Não sei por onde começar. Será que ainda vou a tempo?"
Vais sempre a tempo. E o mais bonito é que já começaste - no exato momento em que disseste: “quero sair”.
Essa vontade, mesmo que assustada, mesmo que frágil, é um grito de vida. E esse grito merece ser escutado com respeito e sem pressa.
Sair do Trabalho Sexual não é só mudar de profissão. É desconstruir uma identidade, uma rotina, um modo de estar no mundo. É reformular o corpo, o tempo, a forma de ganhar dinheiro - e também a forma de te veres a ti mesma.
Não é fácil. Mas é possível. E sim, exige coragem - da qual tu já deste prova só por estares aqui a perguntar.
Primeiro: valida a tua história
Antes de planeares a saída, é essencial reconhecer o que viveste até aqui:
- Tu não és menos por teres estado neste meio.
- Não precisas de apagar a tua história para começares outra.
- O Trabalho Sexual foi, durante anos, o teu sustento - e isso merece respeito, não culpa.
Sair não significa "limpar o passado". Significa levar o que aprendeste e aplicar de forma nova.
O medo de perder tudo
O medo que sentes é legítimo. Muitxs trabalhadorxs do sexo que querem sair enfrentam fantasmas como:
- “Não sei fazer mais nada.”
- Quem vai empregar-me?”
- “Nunca vou ganhar tanto.”
- “Não tenho formação.”
- “Se tentar sair e falhar, vou sentir-me uma inútil.”
Esses medos não são verdades - são narrativas que o sistema constrói para manter mulheres presas.
A verdade é que tens uma série de competências que valem ouro:
- Gestão do tempo
- Comunicação interpessoal
- Negociação
- Resiliência emocional
- Capacidade de adaptação
- Inteligência prática
Agora é hora de transformar essas competências em ferramentas para outro caminho.
Por onde começar?
1. Decide o teu ritmo
Sair não tem de ser de um dia para o outro. Podes começar por reduzir os atendimentos. Podes manter alguns clientes fixos enquanto te formas noutra área.
O mais importante é teres um plano - ainda que pequeno.
2. Pensa nas tuas paixões e interesses
O que gostas de fazer? Há algo que sempre quiseste explorar?
Pode ser massagem, culinária, cuidados a idosos, estética, escrita, atendimento, costura, jardinagem...
Não há “profissão certa”. Há o que faz sentido para ti, hoje.
3. Procura formação acessível
Existem cursos gratuitos e certificações de curta duração financiadas por:
- IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional)
- Municípios ou associações locais
- Plataformas online como Coursera, Udemy ou Academia do Saber
4. Cria uma rede de apoio
Sair sozinha é muito mais difícil. Procura grupos, associações, terapeutas, amigas, fóruns.
Fala com quem já saiu. Pergunta. Aprende. Inspira-te.
A tua dor é legítima - mas não precisa de ser solitária.
Como gerir o dinheiro durante a transição?
Uma das grandes preocupações é a queda de rendimentos.
Aqui vão sugestões práticas:
- Começa a poupar uma percentagem pequena de cada atendimento.
- Evita gastos grandes no imediato.
- Se possível, mantém alguns rendimentos enquanto começas o novo caminho.
- Informa-te sobre programas de microcrédito, apoio a mulheres empreendedoras e incentivos do IEFP.
Muitas mulheres criam pequenos negócios depois do Trabalho Sexual e usam a experiência que têm para os gerir com autonomia.
E se eu não conseguir?
Conseguir não significa “nunca mais voltar atrás”. Conseguir é tentar. É dar passos. É levantar-se de novo, mesmo que haja recaídas.
Sair de um contexto não é uma linha reta - é um caminho com curvas.
Se um dia tiveres de voltar temporariamente, isso não invalida a tua decisão. Tu estás em construção. E isso é bonito.
A culpa por querer sair
Muitas mulheres sentem culpa por querer sair - como se estivessem a trair uma parte de si, ou a renegar outras colegas.
Mas querer outra vida não é desprezar a anterior. É reconhecer que o teu tempo mudou. E que o teu corpo precisa de outros ritmos.
O Trabalho Sexual deu-te ferramentas. Agora é hora de as usares para construir outra paisagem.
Uma palavra final
Sair é possível. Com medo, com dúvidas, com lentidão - mas é possível.
E vais perceber, com o tempo, que há vida depois do Trabalho Sexual. Há novas rotinas. Há outras formas de prazer. Há tranquilidade.
Há novos desafios, claro - mas também novas liberdades.
Tu não és só aquilo que fizeste para sobreviver. Tu és uma mulher inteira, capaz de recomeçar, de reimaginar, de se reinventar - com dignidade, com inteligência, com verdade.
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