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08 outubro, 2021 Outubro Rosa

O mês de Outubro é o mês de consciencialização do cancro da mama.

Os estudos apontam que 1 em cada 11 mulheres, em Portugal, irá ter cancro da mama ao longo da sua vida. Todos os anos são diagnosticados 6000 novos casos. Todos os anos morrem cerca de 1500 mulheres vítimas do cancro da mama. Parecem números distantes? Quantos anúncios de mulheres têm este site?

Outubro Rosa

Cada página que carregamos no Classificados X apresenta cerca de 20/30 anúncios, o que significa que, em cada página, cerca de 2 mulheres terá cancro da mama.
Para não falar de outros tipo de cancro porque aí, as estatísticas, apontam 1 a cada 4.

Continuam a achar que só acontece aos outros? Ou que só existe cancro de origem hereditária?

Só se enganam a vocês próprias da pior forma!

O mundo do cancro não é laços rosas, roxos, verdes, a puta do arco íris, que só causa revolta tentarem fazer do cancro um percurso simplificado quando não o é, nunca será.

Do dia do diagnóstico aos 5 anos seguintes, se se for uma sobrevivente, é um pesadelo diário - o pior que alguma vez alguém poderá viver!

E para uma profissional do sexo como é, sabem? Imaginam? Nunca vi ninguém falar sobre isso.

Uma profissional que trabalha no mundo do sexo, com os seus anúncios, as suas fotos, o seu corpo... E de um dia para o outro, é diagnosticada com um cancro da mama - o que faz à sua vida?

O seu trabalho acabou ali!

E não me venham dizer que pode por implantes! Porque só diz isso quem não tem noção nenhuma do que é o mundo do cancro e quais as fases do processo, até chegar a esse patamar.

E só para esclarecer: não tenho, nem nunca tive cancro da mama. Mas, infelizmente, tenho cancro e, por isso, tenho contacto diário com o "gang da mama", como é conhecido - afinal são muitas mais!

Todos os cancros são difíceis - não vou colocar hierarquias -, mas acrescentar tudo o que se vive a ficar sem uma, ou as duas mamas, a cicatriz, digerir tudo... O processo é demasiado devastador!

Eu quando vi ao vivo, pela primeira vez, uma mulher sem a mama, a cicatriz e o toque, estremeci toda! E senti uma dor atroz e eu não sou de me chocar facilmente.

Agora, voltamos a colocar este panorama no contexto da profissional do sexo... É diagnosticada com um cancro, tem de iniciar tratamento. Durante boa parte dos tratamentos, é proibida de ter qualquer ato sexual - e não me venham com tretas! Dizer que conhecem a ou b ou c que fez sexo quando estava com cancro porque a autorização para sexo depende da fase do tratamento e do tipo de cancro. Na maioria do processo, é proibido.

Quando tive a minha consulta, antes de iniciar o meu tratamento, o médico proibiu-me de ter qualquer atividade sexual - anal, oral, vaginal - e explicou-me o porquê. E a seguir eu perguntei:

- E masturbação doutor, posso?

Ele encostou-se para trás na cadeira, comentou que, em 30 anos de serviço, era a primeira vez que uma mulher lhe perguntava tal coisa! E não, não podia!

Claro que perguntei se podiam masturbar-me - afinal, tinha de me masturbar na net para ganhar dinheiro, para pagar aquela consulta!
E a partir daquele momento, acabou! Nunca mais fiz, nem irei fazer shows!

No meu caso particular, tenho 2 anos e meio de quimio pela frente, na melhor das hipóteses, o que significa muitos anos sem sexo.

Para qualquer profissional do sexo, isto é um murro no estômago de todo o tamanho! Porque não só é uma quebra financeira sem comparação, é uma reforma antecipada não programada, é aprender a viver com a sua nova imagem, sem cabelo, sem sobrancelhas, com as unhas negras, quando se têm unhas, inchada de tanta cortisona e morfina que se leva nas veias, com cicatrizes e outras mazelas das diversas operações, com braços negros ou cateteres implantados e cicatrizes desses cateteres, sem uma mama, sem duas mamas, por aí fora.

Como é que uma profissional do sexo, uma mulher acostumada a viver com a sua imagem, se olha no espelho e tem de sobreviver longe de tudo aquilo que era?!
Já alguém pensou nisso?
Onde estão as associações de apoio às profissionais do sexo a ajudar neste processo?!

Claro que todas os doentes oncológicos têm direito a consultas médicas gratuitas, apoios socias, e o excelente trabalho da Liga Portuguesa contra o Cancro que são incansáveis.

Mas que não ajudam, neste contexto sexual, no que significa para uma profissional do sexo ter a sua vida financeira, a sua aparência física, e a sua sexualidade complemente destruída.

Uma profissional que tem 10 orgasmos ao dia, durante anos, agora não pode ter sexo durante meses ou anos de acordo com o tratamento.
E o desejo e aquilo que, para nós, era uma rotina, fazia parte de nós, como fica? Não nos dão um comprimido para tirar o desejo e reeducar o corpo.
E se dizemos a alguém, médicos, enfermeiros, que temos desejo sexual, tratam-nos como OVNIS - tipo, estás a fazer quimio e a pensar em sexo?! A quimio não te deixa abaixo o suficiente?!

E, provavelmente, o desejo sexual e os costumes corporais de uma profissional do sexo não são iguais aos de uma mulher que tinha sexo duas vezes ao mês e a quem o médico diz que já não pode ter. Foda-se, não é a mesma cena!

E aqui volto a perguntar: existem associações, projetos, que ajudem as profissionais neste sentido?

Quem leia este texto e tenha passado por uma situação oncológica - mama ou qualquer outra - contacte-me. Gostava de conhecer o seu caso.

E este mês, marquem os vossos rastreios!
Não conseguimos fugir do cancro, nem mesmo evitar a maioria deles, mas podemos fazer o máximo de rastreios para, em caso de diagnóstico, seja no menor estádio possível.

Já apalpou as suas mamas hoje?

TugaEris

TugaEris

TugaEris
 
Mulher fascinada pelo mundo do sexo e tudo o que rodeia procurando dar a conhecê-lo através da escrita. 
 

 

 

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